Por que esta startup que conecta aplicativos para Cielo, Via e Natura recebeu R$ 120 milhões

A Sensedia fornece gestão de interfaces de programação de aplicativos, ou APIs. Startup atende 140 empresas de grande porte

Mariana Fonseca

Kleber Bacili e Marcilio Oliveira, cofundadores da Sensedia (Divulgação)

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SÃO PAULO – A pandemia do novo coronavírus aumentou a interação dos brasileiros com sites e aplicativos. Por trás de cada clique estão comandos – alguns deles gerenciados por startups como a Sensedia.

O empreendimento atende empresas como Cielo (CIEL3), Via (VVAR3) e Natura (NTCO3) por meio de uma plataforma de gerenciamento de interfaces de programação de aplicativos, ou APIs. A Sensedia atende 140 empresas de grande aporte. Apenas na pandemia, a quantidade de interações com as APIs presentes na plataforma quadruplicou.

“Habilitamos as empresas a operarem melhor em seus canais digitais. Essa demanda aumentou, tanto para conversar com parceiros quanto com clientes”, diz Kleber Bacili, cofundador da Sensedia.

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Agora, a Sensedia captou R$ 120 milhões com investidores. A rodada série A foi liderada pela Riverwood Capital. O fundo tem no portfólio negócios como RD Station, Technisys e VTEX. O InfoMoney conversou com Bacili sobre o modelo de negócios da startup e planos após o investimento.

De sistemas internos até APIs

Kleber Bacili é formado em engenharia da computação pela Unicamp. A Sensedia nasceu em 2007, focada em integração de sistemas internos para empresas de grande porte. A startup pivotou para integração de sistemas internos e externos em 2013, quando fez um projeto para a Nova Pontocom (atualmente Via).

A Sensedia fez a conexão entre o marketplace e as publicações e atualizações feitas pelos seus vendedores. Essa tradução é feita por meio de interfaces de programação de aplicativos, ou APIs. A Sensedia hoje tem uma plataforma, com assinatura mensal pelas empresas, que permite gerenciar APIs com escalabilidade e segurança. O valor da mensalidade depende da quantidade de interações com as APIs e o grau de sofisticação delas (como requisitos de governança e segurança específicos).

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Bacili afirma que a adoção de sistemas de computação em nuvem permitiu que as empresas redimensionassem seus investimentos em armazenamento de acordo com a demanda – o que se conhece no mercado como elasticidade.

Assim, as empresas estão investindo em redesenhar seus sistemas antigos e conectar mais APIs, como forma agregar mais experiências aos seus clientes. Por exemplo, um site para reservar hospedagens pode incluir APIs que permitam ver avaliações no Tripadvisor ou agendar viagens por meio do Uber. Em termos técnicos, isso significa ir de monolitos para microsserviços – componentes menores que se comunicam através das APIs.

A Sensedia continua atendendo empresas de grande porte, que têm sistemas de tecnologia da informação mais complexos. A startup atende desde bancos até varejistas. Alguns exemplos das 140 empresas atendidas pela Sensedia são Alliansce Sonae, Ancar, Iguatemi, Natura, Neon, Original e Via.

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Hoje, a startup tem sete escritórios em países como Brasil, Colômbia, Peru e Reino Unido. Na primeira mudança de sede, todos os funcionários cabiam em uma Volkswagen Kombi –símbolos da história da Sensedia estão espalhados pelos escritórios, como na foto que ilustra esta matéria. Hoje, a startup tem 480 funcionários.

Novo investimento e expansão

Entre 2014 e 2020, a Sensedia cresceu em média 115% ao ano. A startup viu uma trajetória de crescimento similar à de outras startups em 2020. “No começo da pandemia, vários clientes recolheram custos e nós começamos a rever nosso planejamento. Pouco depois, porém, vimos um crescimento grande nos negócios suportados pela nossa plataforma”, diz Bacili. Em 2020, o uso das APIs registradas na plataforma da Sensedia quadruplicou.

A demanda veio inclusive de empresas que não costumavam atender pela internet. O Iguatemi lançou um projeto para vender online itens das lojas, enquanto a rede de cinemas Cinemark criou uma iniciativa para vender suas pipocas também pela internet.

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A Sensedia também aumentou a aposta na área de serviços financeiros digitais. A startup criou uma especialização só para trabalhar com o Open Banking, movimento que fez bancos abrirem suas APIs para que outras instituições usassem os dados para atender melhor o consumidor final. “Vários bancos são nossos clientes e essa é uma via importante de crescimento. A API está no centro do Open Banking”, diz o cofundador da Sensedia. A startup também sustenta a API usada pela Cielo para operar os novos pagamentos por WhatsApp.

Para 2021, a startup planeja expandir sua receita entre 70% a 75%. Quanto mais o negócio cresce, mais difícil fica manter aquela média de 115% ao ano – mas os valores absolutos ficam maiores. “O primeiro trimestre deste ano foi o melhor da nossa história em receita”, diz Bacili.

O novo aporte de R$ 120 milhões deve ajudar nos planos de expansão da Sensedia. Essa é a primeira captação da startup, que vinha crescendo com a margem gerada pelos próprios clientes (bootstrapping).

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40% dos recursos serão usados para evolução da plataforma da Sensedia. “Os clientes estão cada vez mais maduros no uso das APIs, o que faz a malha de integração entre elas ser mais complexa. Queremos tornar tudo mais gerenciável, mas também seguro”, afirma Bacili.

Os 60% restantes irão para internacionalização, que começou faz dois anos na startup. O negócio foi para a América Latina, e depois para o Reino Unido. “O Brasil é um pequeno pedaço desse mercado. Temos concorrentes globais de gerenciamento de API, como o Google. Sem investimento externo, poderíamos demorar para expandir e perderíamos uma janela de oportunidade”, diz o cofundador da Sensedia.

A startup busca agora validar nosso potencial e adquirir clientes em países da União Europeia. No segundo semestre, chegará aos Estados Unidos. A Riverwood Capital deve ajudar a escalar a solução da Sensedia em outras geografias, por ser um fundo de investimentos internacionais. “A Riverwood tem um conhecimento profundo nos mercados de B2B Enterprise [atendimento a empresas de grande porte] e SaaS [software como um serviço]. Ao mesmo tempo, tem um histórico interessante de ajudar empresas da América Latina a terem projeção global”. O mercado internacional representa 10% do resultado da startup hoje. A ideia é que ele represente metade das receitas até 2024.

Todos esses planos pedem mais funcionários. A Sensedia está com 100 vagas abertas, 20 delas fora do Brasil.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.