Plano de saúde no estilo startup, Sami aposta até em viagens de Uber ao médico para crescer

Em seis meses, startup chegou a mil microempreendedores individuais (MEIs) e pequenas empresas atendidos por seu plano de saúde

Mariana Fonseca

Vitor Asseituno e Guilherme Berardo, da Sami (Divulgação)

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SÃO PAULO – A startup de saúde Sami começou sua própria operadora de saúde há seis meses, quando captou um aporte de R$ 86 milhões com os conhecidos fundos de venture capital Monashees e Valor Capital Group. De lá para cá, a healthtech já conquistou mil microempreendedores individuais (MEIs) e pequenas empresas com seu “plano de saúde no estilo startup.”

Além de conveniência na contratação e no atendimento, a Sami defende o foco em medicina preventiva. A Sami anunciou recentemente uma parceria com a gigante mobilidade urbana Uber, para que seus usuários recebam corridas gratuitas para se consultar presencialmente com seu time de saúde.

Essa parceria com a Uber é a amostra mais recente da estratégia da Sami desde o lançamento da operadora de saúde: conquistar a confiança dos usuários por meio de validação por grandes companhias. O InfoMoney conversou com Vitor Asseituno, cofundador da Sami, sobre o modelo de negócios e a estratégia de crescimento Sami.

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Plano de saúde no estilo startup

A Sami foi criada pelos empreendedores de saúde Guilherme Berardo e Vitor Asseituno em 2018. O negócio está de olho em um grande mercado.

Segundo a Agência Nacional de Saúde (ANS), a receita de contraprestações das operadoras somou cerca de R$ 200 bilhões em 2019. Porém, uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostrou que 69,7% dos brasileiros em 2018 não tinha plano de saúde particular, empresarial ou individual.

Médico de formação, Asseituno trabalhou na aceleradora americana de startups Rock Health e conheceu benchmarks que levariam à criação da Sami. As operadoras de saúde digitais Bright Health e Oscar Health levantaram US$ 1,6 bilhão e US$ 1,5 bilhão com investidores, respectivamente.

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De volta ao Brasil, Asseituno criou primeiro a empresa de eventos na saúde Live Healthcare. A empresa foi vendida há dois anos para o grupo de eventos Informa. O empreendedor se uniu a Berardo para fundar a Sami. Berardo fez carreira no banco de investimentos Merrill Lynch. Depois, montou um hospital de transição (cuidado para pacientes com cuidados médicos complexos) junto do tio, que era médico. O empreendimento se tornou a rede Premium Care, com oito clínicas de longa permanência atualmente.

Asseituno e Berardo receberam o primeiro investimento externo para a Sami em março de 2019. Os fundos Canary e Redpoint eventures aportaram US$ 1,3 milhão na startup de saúde, acompanhados de anjos como Paulo Veras (99), Sérgio Ricardo dos Santos (Amil) e Alan Warren (Oscar Health).

O empreendimento começou abordando as operadoras de saúde, implementando o serviço de telemedicina e usando análise de dados para filtrar os melhores médicos. O objetivo era reduzir a evolução dos casos, reduzindo a sinistralidade (e os custos) das operadoras. Esse mínimo produto viável (MVP) acumulou dados de 500 mil pessoas.

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Porém, muitas operadoras não tinham essa cultura de coletar informações com precisão. O aporte de R$ 86 milhões, obtido em outubro de 2020, veio justamente para a criação da operadora de saúde própria da Sami.

Crescimento e estratégia da Sami

A contratação pode ser feita de forma completamente online pelas empresas, sem atendimento de corretores – essa modalidade já responde por 13% das vendas da Sami.

O foco da startup está em pequenos CNPJs, com uma até 99 vidas e por isso mais propensos a testarem uma compra digital. Em seis meses, a healthtech acumulou mil vidas atendidas na cidade de São Paulo.

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O reajuste segue o Índice de Preços para o Consumidor Amplo (IPCA), e não o reajuste tradicional das operadoras de saúde. A ideia é que as pequenas empresas não precisam renegociar e trocar de plano frequentemente. Em janeiro de 2021, o Procon de São Paulo afirmou que as empresas de plano de saúde coletivo repassaram reajustes de até 228%.

O custo da Sami fica entre 10% a 20% mais barato em comparação com um plano de saúde corporativo tradicional, segundo Asseituno.

Cada usuário tem um médico responsável por acessar seu histórico, acompanhar sua saúde e orientar o agendamento de consultas com especialistas. Esses profissionais receberão feedbacks do usuário, assim como as estrelas no aplicativo de mobilidade urbana Uber.

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“As pessoas querem muito um plano de saúde, considerando-o um mal necessário para acessar um médico ou hospital. Nosso papel é redefinir essa percepção e fato ter um plano para a saúde delas. Buscamos promover uma medicina melhor, mais digital e com benefícios focados em prevenção”, diz Asseituno.

A Sami tem uma parceria com a plataforma de academias Gympass. Em janeiro, a startup começou um piloto para oferecer gratuitamente aos usuários corridas pelo aplicativo Uber. Os vouchers de ida e volta de consultas podem ser pedidos por qualquer usuário da Sami hoje, para se encontrar pessoalmente com sua equipe fixa de saúde.

Os times de médicos, enfermeiras e coordenadores de saúde criados pela healthtech ficam na Beneficência Portuguesa, no centro de São Paulo. São profissionais voltados ao primeiro atendimento e acompanhamento dos usuários.

Os usuários que fazem uso desse transporte vão desde pacientes que simplesmente querem conhecer presencialmente sua equipe de saúde até usuários de que têm doenças crônicas e precisam realizar exames e receber novas receitas de medicamentos.

“Idosos e pessoas com doenças como diabetes e hipertensão precisam fazer check ups frequentes, mas estão com medo de pegar o transporte coletivo e se contagiar com a Covid-19. Doenças crônicas mal controladas são outra pandemia”, diz Asseituno. “Ir de carro é uma forma de estar mais isolado e seguro. Tanto para a pessoa quanto para a operadora de saúde, faz sentido evitar que ela não receba atendimento, piore em casa e depois pare em uma UTI.”

A Sami continua praticando a tradicional remuneração por consulta ou serviço para os médicos e instituições de saúde parceiras (fee for service). Mas está estudando outros modelos de monetização para decidir qual deles gera o melhor incentivo ao setor, evitando a ocupação desnecessária de leitos hospitalares.

“Número de procedimentos não necessariamente se traduz em qualidade. Todos os nossos contratos pedem compartilhamento de dados. Estamos coletando informações para saber como foi a experiência com cada médico e hospital. Aferindo qualidade, podemos cobrar dos parceiros mais excelência e remunerar quem dá o melhor atendimento”, diz Asseituno. “Plano de saúde comuns não se importam com medicina preventiva ou com uma cirurgia mal feita, porque o usuário vai olhar o tamanho do reajuste e mudar de plano logo. A gente pensa em ficar com o paciente por um prazo de dez anos.”

A Sami ainda precisa convencer mais usuários de sua proposta – e parcerias com grandes empresas, como a Uber, são uma forma de pegar credibilidade emprestada. “É difícil tomar a decisão de comprar seguros com uma startup, tradicionalmente um negócio de maior risco. Essas parcerias mostram a credibilidade do mercado em nós.”

A Sami saiu de 82 para quase 200 funcionários em seis meses. O negócio também dobrou de tamanho em fevereiro, em março e em abril. A healthtech espera chegar a 5.000 a 7.000 empresas atendidas por seu plano de saúde no estilo startup até o final de 2021.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.