Nuvemshop se torna unicórnio, após investimento de R$ 2,6 bilhões

Startup reúne mais de 90 mil lojas virtuais. Capital será usado para melhorar lojas virtuais, chegar a outros países e lançar serviços financeiros

Mariana Fonseca

Santiago Sosa, cofundador da Nuvemshop (Divulgação)

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SÃO PAULO – A pandemia do novo coronavírus forçou a digitalização de diversos negócios, inclusive aqueles criados por pequenos e médios empreendedores. A Nuvemshop cresceu com essa demanda e, nesta terça-feira (17), tornou-se o mais novo unicórnio da América Latina.

A plataforma argentina de criação de lojas virtuais atingiu uma avaliação de mercado de US$ 3,1 bilhões (R$ 16 bilhões) após uma injeção de capital de US$ 500 milhões (R$ 2,6 bilhões). O aporte série E foi coliderado pelos fundos Insight Partners (com negócios como Alibaba e Twitter no portfólio) e Tiger Global Management (99, Spotify, Stone, Uber). Participaram da rodada fundos como Alkeon, Sunley House Capital, Owl Rock e VMG Partners.

Investidores de rodadas anteriores também reinvestiram, como Accel, Kaszek, Kevin Efrusy, Qualcomm Ventures e ThornTree Capital. A Nuvemshop já havia captado outros dois aportes em tempos de pandemia: um série D em março deste ano, e um série C em outubro de 2020. Em dez meses, a startup acumula aportes de US$ 620 milhões (R$ 3,2 bilhões).

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Segundo a Nuvemshop, a nova avaliação de mercado a torna a 5ª startup mais valiosa da América Latina. O Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, conversou com Santiago Sosa. O CEO e cofundador da Nuvemshop falou sobre o modelo de negócios da startup e sobre os objetivos com o aporte.

Loja virtual para pequenos e médios

A Nuvemshop foi criada pelos empreendedores Alejandro Vázquez, Martín Palombo e Santiago Sosa. Sosa conta que conheceu os colegas durante a faculdade de Engenharia de Informática. A primeira empreitada dos empreendedores foi um marketplace, criado como parte de uma disciplina de trabalho real. Marketplaces reúnem diversos vendedores terceiros em um mesmo site. A empresa acabou não dando certo – mas os sócios aprenderam que os lojistas queriam páginas mais personalizadas do que as vistas no marketplace, para transmitir melhor suas histórias e marcas.

Em 2010, a Nuvemshop pivotou para seu modelo atual de criação de lojas virtuais. “Somos uma plataforma que viabiliza a tendência de direct to consumer, permitindo que PMEs se conectem de maneira direta com seus consumidores. O objetivo é que pequenos e médios empreendedores se insiram e sejam bem sucedidos na economia digital”, diz Sosa.

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Os usuários carregam produtos e escolhem layout, cores e fontes de suas lojas virtuais por meio de um celular ou computador. Depois, podem inserir opções de cálculo de frete, pagamento e logística. Não é preciso ter conhecimento em programação para montar uma loja virtual pela Nuvemshop. Sosa destaca ainda que a startup permite que desenvolvedores lancem aplicativos, como sistemas de gestão de estoque e de marketing. Hoje, são cerca de 300 aplicativos parceiros integrados com a Nuvemshop, como Bling e RD Station.

A Nuvemshop se monetiza por meio de uma mensalidade e uma taxa fixa por venda. São três planos: R$ 49,90 com taxa fixa de R$ 1,99 por venda concluída; R$ 99,90 com taxa fixa de R$ 0,99; e R$ 199,90 com taxa fixa de R$ 0,49.

Loja virtual criada por meio da Nuvemshop (Divulgação)
Loja virtual criada por meio da Nuvemshop (Divulgação)

Os usuários da Nuvemshop vão desde microempreendedores individuais (MEI) até negócios que faturam anualmente R$ 50 milhões. “Não temos interesse no grande varejista, tanto por conta do nosso propósito quanto por conta da penetração da digitalização. Estimamos que apenas 2% dos pequenos negócios latino-americanos estão no digital”, diz Sosa.

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“Com 650 milhões de consumidores, a América Latina é o mercado de comércio eletrônico que mais cresce no mundo. Ao oferecer sua plataforma desenvolvida especificamente para a região, a Nuvemshop está posicionada de maneira única para continuar a liderar a transformação digital. Estamos entusiasmados em fazer parte deste novo capítulo de crescimento”, afirmou em comunicado sobre o investimento Matt Gatto, Managing Director da Insight Partners.

Existem diversos concorrentes no mercado. Alguns players brasileiros são Loja Integrada/VTEX e Tray/Locaweb (LWSA3). Empresas internacionais também têm presença no país, como a americana Shopify e a israelense Wix. Sosa coloca como diferenciais ferramentas de gestão integradas às lojas virtuais; associação com o ecossistema de parceiros; e o nível de atendimento aos lojistas.

“A Nuvemshop não só tem a tecnologia e os serviços que as empresas latino-americanas exigem, mas também a compreensão das particularidades que levarão seus clientes ao sucesso de mercado. A empresa está lançando a base da infraestrutura de comércio eletrônico para a próxima década”, complementou também em comunicado sobre o aporte John Curtius, sócio da Tiger Global Management.

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Planos de expansão do unicórnio

A Nuvemshop reúne mais de 90 mil lojas, a maioria deles no mercado brasileiro. A startup na Argentina, no Brasil e no México.

O investimento de R$ 2,6 bilhões será usado primeiro para quatro grandes objetivos. O primeiro objetivo é melhorar o serviço principal de loja virtual com ferramentas de gestão. “Queremos tornar a experiência de compra mais fácil, rápida e segura para que os lojistas vendam mais e poupem seu tempo. Sabemos que são empresas em que uma ou duas pessoas fazem de tudo. Vamos implementar funcionalidades como compra em um clique e ampliar nosso ecossistema de aplicativos para resolver dores relevantes dos lojistas”, diz Sosa. A Nuvemshop espera triplicar o volume de apps conectados nos próximos 18 meses.

O segundo objetivo é expansão internacional. A Nuvemshop vai reforçar a operação na Argentina, seguir expandindo no México e chegar até países como Chile, Colômbia e Peru.

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O terceiro objetivo é construir soluções financeiras e de logística. “Trabalhamos com dezenas de parceiros de pagamentos e devemos evoluir para ofertas de empréstimo”, afirma Sosa.

O último objetivo é fazer fusões e aquisições (M&As) nessas áreas de expansão geográfica, logística e serviços financeiros. A Nuvemshop nunca fez processos de M&As e pretende fazer escolhas “cirúrgicas”. “Não queremos sair comprando 10 ou 15 empresas, como outras plataformas de e-commerce.”

Em 2020, a Nuvemshop cresceu mais de três vezes. Neste ano, planeja mais do que duplicar. A plataforma projeta um volume transacionado por seus vendedores de R$ 7 bilhões em 2021.

“Antes da pandemia, crescíamos entre 70% e 80% ao ano. Eventualmente devemos regredir para esses patamares, mas ainda é difícil dizer quando diante da continuidade das restrições de circulação em cada país. A Argentina teve um lockdown severo e o e-commerce lá teve um pico enorme. O Brasil adotou mais gradualidade no lockdown, então as compras online cresceram no mesmo passo. Está difícil traçar estimativas em curto prazo, então seguimos acreditando que o e-commerce já era tendência antes da pandemia e vai continuar crescendo mesmo com o fim das restrições”, diz Sosa.

Nos próximos cinco anos, a base de vendedores da Nuvemshop deve crescer entre cinco a sete vezes, enquanto o volume transacionado deve crescer de 15 a 20 vezes.

“As vendas devem crescer mais rápido do que nossa base de lojistas porque os consumidores se acostumam a comprar online, e assim o tíquete médio de compra também aumenta. As compras também vão aumentar porque daremos mais ferramentas de logística e marketing.”

Os planos pedem mais funcionários. A Nuvemshop tem 600 empregados atualmente, quadruplicando seu quadro de profissionais nos últimos 18 meses. A startup pretende contratar mais 300 pessoas neste ano em toda a América Latina. Até o final de 2022, espera chegar a 1,5 mil funcionários.

Sosa descarta planos imediatos de uma oferta pública inicial de ações (IPO). “O Tiger Global Management tem experiência em investir nas companhias de capital aberto, e pode nos ajudar em uma eventual abertura de capital. Não é objetivo nosso agora, mas deve ser um caminho natural nos próximos cinco anos.”

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.