Na corrida mundial por profissionais de tecnologia, QuintoAndar vai abrir escritório em Portugal

Centro de tecnologia da startup vai contratar 50 profissionais, como cientistas de dados, designers, engenheiros de software e gerentes de produto

Mariana Fonseca

Gabriel Braga e André Penha, cofundadores do QuintoAndar (Divulgação)

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SÃO PAULO – O QuintoAndar vai abrir um escritório em Portugal – mas o objetivo não é mediar aluguel, compra ou venda de imóveis por lá. A startup está de olho na contratação de profissionais experientes em tecnologia, como cientistas de dados, designers, engenheiros de software e gerentes de produto.

Esses profissionais trocarão conhecimento e tecnologias com os profissionais brasileiros. Assim, o QuintoAndar está se armando em um cenário de escassez de desenvolvedores por aqui, especialmente daqueles com mais anos de profissão.

“Inauguramos um centro de tecnologia fora do país porque, como empresa, buscamos diversidade de experiências e indústrias. O objetivo é não cometermos erros conhecidos em design, tecnologia ou usabilidade”, afirmou André Penha, cofundador e diretor de tecnologia do QuintoAndar, em entrevista ao Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney. “Existem muitos profissionais competentes por aqui, mas nosso ecossistema de tecnologia é jovem. Há dez anos, quase não havia exemplos de empresas no setor. Pessoas que sabem como escalar uma empresa são raras, e boa parte delas já está bem empregada.”

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O QuintoAndar permite alugar, comprar ou vender propriedades em sua plataforma. Alguns de seus diferenciais são fotos profissionais gratuitas para os anúncios, digitalização da transação e eliminação de garantias caras e complicadas, como um fiador. Para o dono da propriedade alugada, a startup cobre até R$ 50 mil em reparos no imóvel e dá garantia de recebimento em dia do aluguel.

O QuintoAndar intermedeia 10 mil locações e 1.000 vendas de imóveis mensalmente. O site de aluguel e comercialização de propriedades administra R$ 50 bilhões em imóveis, espalhados por 45 cidades brasileiras. Em agosto deste ano, anunciou uma extensão de investimento que avaliou o negócio em mais de US$ 5 bilhões. Ao todo, a companhia levantou mais de US$ 700 milhões desde sua fundação, em 2013.

Europa x Estados Unidos

O escritório vai começar a operar em março do próximo ano, e a startup espera chegar a 50 funcionários em Portugal até o final de 2022. A Europa como um todo é berço de negócios como Booking, Skype e Spotify. Na decisão entre abrir um escritório internacional nos Estados Unidos ou na Europa, fatores como custo de vida, câmbio, voos e fuso horário pesaram para o lado europeu.

“Temos alguns poucos funcionários morando no Vale do Silício. Mas o custo de vida por lá é muito maior do que no Brasil ou na Europa, tanto que a disparidade entre os salários de tecnologia e de não-tecnologia está promovendo um êxodo da região. Além disso, não existe um voo direto entre o Brasil e São Francisco. Portugal não só tem um fuso horário melhor em relação ao nosso país, mas também voos diretos partindo de diversas cidades brasileiras”, disse Penha.

O objetivo é contratar profissionais de todo o continente europeu, e não apenas brasileiros e portugueses. Segundo o cofundador do QuintoAndar, Portugal virou um lugar visado pelos europeus por conta de custo e qualidade de vida.

“Os europeus querem morar em um lugar com sol durante boa parte do ano, e com uma indústria de tecnologia que ainda está começando. Já os brasileiros veem cultura e gastronomia parecidas. Não queremos duas empresas diferentes, mas a mesma empresa com diversos polos”.

Boa parte dos processos de tecnologia já é documentada em inglês, que deve ser a linguagem padrão do escritório europeu do QuintoAndar. O centro deverá ter independência para desenvolver projetos autônomos, usando tecnologias como ciência de dados e inteligência artificial. Esses projetos serão depois discutidos com a equipe brasileira e se tornarão parte de produtos do QuintoAndar.

De preferência, esses produtos devem servir para diversos países. A startup está preparando sua expansão internacional, ainda sem data definida. Mas o primeiro destino internacional não será Portugal, e sim o México. A Loft, concorrente na frente de compra e venda de imóveis, realizou um movimento de expansão internacional similar, anunciando a aquisição da mexicana TrueHome no final de outubro.

Muitas vagas, poucos profissionais

O Do Zero Ao Topo já abordou a corrida por desenvolvedores pelo mundo, inclusive no Brasil. Sobram vagas em tecnologia, mesmo em um país com 13,7 milhões de desempregados.

A Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom) estima que será preciso contratar 70 mil profissionais por ano até 2024 no setor de tecnologia da informação e comunicação (TIC). A demanda reprimida é 25% em Internet das Coisas, 11% em Segurança, 10% em Big Data, 6% em Nuvem e 2% em Inteligência Artificial. Completam a lista profissionais administrativos (19%), de nível técnico (14%) e em outras tecnologias (13%).

Muitas vagas e poucos profissionais levam à alta remuneração. A Brasscom estima que a média nacional de salários é de R$ 1.945, ante uma remuneração média de R$ 4.792 no setor de TIC. É uma diferença de quase 2,5 vezes. Especificamente entre os profissionais de software para transformação digital, a remuneração média sobre para R$ 5.628 (2,9 vezes).

Os salários são ainda mais inflados por conta das jornadas remotas. O home office, consolidado pela pandemia, permite que uma startup de São Paulo supra sua demanda contratando desenvolvedores no Sul ou no Nordeste. Por outro lado, empresas de cidades menores têm de adequar seu salário a um nível nacional, e não mais regional.

No extremo, essa competição por talentos se tornou global. Já existem diversos casos de empresas brasileiras que perdem bons profissionais porque não conseguem pagar salários que equivalem ao que o profissional receberá em dólares ou euros. Como resposta à fuga de talentos, algumas empresas estruturaram programas próprios de capacitação de profissionais de tecnologia. No caso do QuintoAndar, os professores serão seus próprios funcionários do exterior.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.