Conteúdo editorial apoiado por

“Fábrica de seguradoras”: por que esta startup de seguros recebeu um investimento de R$ 177 milhões

A 180º Seguros faz a ponte entre seguradoras e negócios que gostariam de oferecer seguros aos clientes, como empresas de tecnologia e varejistas

Mariana Fonseca

Fundadores da 180º Seguros (Divulgação)

Publicidade

Faz anos que as fintechs são as queridinhas dos investidores brasileiros em capital de risco. Agora, essas startups de serviços financeiros estão olhando para quais atividades ainda precisam de um banho de tecnologia. A 180º Seguros busca democratizar os seguros no país – e essa proposta atraiu investidores de peso.

Nesta quarta-feira (2), a 180º Seguros anunciou a captação de R$ 177 milhões. O aporte foi liderado pelos fundos 8VC (que tem no portfólio empresas como The Boring Company, Oscar Health e Wish), Atlantico (Pipo Saúde e Trybe) e Monashees (Facily, Méliuz e Rappi).

O Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, conversou com Mauro Levi D’Ancona. O cofundador da 180º Seguros falou sobre o mercado brasileiro de apólices; sobre o modelo de negócios da insurtech; sobre os próximos passos depois do aporte; e sobre os movimentos de embedded finance (“finanças embutidas”) e de insurtechs (startups de seguros).

“Fábrica de seguradoras”

A 180º Seguros foi criada por Mauro Levi D’Ancona, Alex Körner e Franco Lamping. D’Ancona trabalhou por cerca de cinco anos na área de finanças do Nubank, cuidando de temas como conversas com o Banco Central; captações de investimento e de dívida; e relação com investidores. Lamping foi desenvolvedor também no Nubank, enquanto Körner liderou um portal de comparação de seguros de veículos dentro do Santander.

“Vimos que o mercado de seguros era muito diferente do mercado de investimentos. Temos um ecossistema fértil de fintechs, que geram competição e baixam taxas aos consumidores finais. Já a agenda de competição especificamente para seguros é mais recente. Eles ainda têm uma baixa penetração no país”, analisa D’Ancona.

Os prêmios das seguradoras representaram 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2020, segundo um estudo da seguradora Swiss Re. O mercado é gigantesco, mesmo com essa baixa penetração.

A Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) afirma que o setor cresceu 13,3%, na comparação entre janeiro a novembro de 2020 com o mesmo período de 2021. A arrecadação foi de R$ 275,3 bilhões, desconsiderando seguros de saúde e DPVAT. Mas o cofundador da 180º Seguros estima que ainda há muito a explorar: a participação dos seguros no PIB brasileiro poderia chegar a 11%.

“O seguro no país não é bem difundido por questões culturais e por uma falta de obrigação regulatória. As pessoas não têm muita noção de diferenciais e preços adequados de cada seguro. Então seria caro e demorado atingir diretamente o consumidor final, como fazem as fintechs no mercado financeiro ou de pagamentos. Focamos em atender empresas que buscam uma linha adicional de receita e relação maior com seus consumidores”, diz D’Ancona.

Com essa proposta, a 180º Seguros começou a operar em outubro de 2020. Atualmente, a insurtech atende dois tipos de empresas: primeiro, varejistas que já vendem seguros prestamistas ou garantias de produto; segundo, empresas de tecnologia que veem seguros como um valor adicional aos seus consumidores. A 180º Seguros atende oito empresas hoje, como as startups Buser, Loft e Zul+.

A insurtech é uma corretora de seguros autorizada pela Superintendência de Seguros Privados (Susep). Conecta empresas com propostas de 27 seguradoras e monta planos personalizados; desenvolve as interfaces de programação para integrar sistemas das seguradoras e das companhias (APIs); e cuida do atendimento aos consumidores finais.

“A proposta é ser o braço de seguros dessas empresas”, resume D’Ancona. Na Loft, desenvolveu um seguro residencial que funciona por um sistema de pontos e só cobre itens aplicáveis a apartamentos – limpeza de caixa de água não está inclusa, por exemplo. Para a Zul+, desenvolveu uma emissão de apólice em tempo real para permitir seguros de R$ 0,49 contra roubos em carros estacionados na Zona Azul. “Uma seguradora não tem experiência em atendimento e em tecnologia para emitir seguros com tanta rapidez. Entramos com a infraestrutura desenvolvida por nós.”

A insurtech se monetiza com uma comissão sobre a venda de cada seguro, e pode cobrar taxas fixas de manutenção das companhias atendidas. Mesmo assim, a eliminação de coberturas desnecessárias, a negociação em escala e a infraestrutura replicável permite que os seguros custam em média 30% a 40% menos do que quando o consumidor final faz uma cotação pela internet, segundo D’Ancona. A insurtech não divulga quantos seguros comercializou até o momento.

Investimentos e próximos passos

Este não foi o primeiro investimento da 180º Seguros. A insurtech fez uma rodada semente de R$ 44 milhões com fundos como Canary, Dragoneer, Rainfall e 8VC. O investimento atual de R$ 177 milhões (US$ 31,4 milhões) é a rodada seguinte na esteira do venture capital, conhecida como série A. Além de 8VC, Atlantico e Monashees, participaram os fundos Dragoneer, Quartz e Norte.

Startups brasileiras costumam captar uma série A de US$ 5,5 milhões, segundo um estudo publicado em setembro do último ano pela empresa de inovação Distrito. O valor captado pela 180º Seguros é quase seis vezes a média brasileira de uma rodada série A. Supera inclusive a média das startups americanas, que foi de US$ 13 milhões em 2021, segundo a base de dados Crunchbase.

“A oportunidade que atacamos é gigante. Atendemos clientes de grande porte, que querem vendem milhares a milhões de seguros e precisam saber que daremos conta desse fluxo todo. Portanto, precisávamos de um investimento acima do normal para estruturar a empresa. Temos uma equipe de desenvolvedores e de advogados focados apenas em segurança da informação e Lei Geral de Proteção de Dados [LGPD]. É completamente fora do padrão para um negócio no nosso estágio”, diz D’Ancona.

Segundo o cofundador, o último ano foi dedicado a “tirar a empresa do PowerPoint”: conquistar os primeiros grandes clientes e ir de três para 50 funcionários. “O novo aporte vai levar a gente para o próximo nível em tipos de parcerias e em escala”.

A 180º Seguros espera chegar a 110 funcionários até o final deste ano, e com isso atender mais empresas e desenvolver novas propostas de parceria.

Além das oito empresas atendidas atualmente, a 180º Seguros tem mais oito empresas em fase de desenvolvimento de produto e outras três em fase de negociação. Essas negociações podem envolver joint ventures – sociedades em que a insurtech vai entrar com mais investimento e desenvolver diversos produtos de seguro, em troca de participação no negócio. O objetivo final é chegar a 1 milhão de seguros vendidos em 2022.

O potencial das finanças embutidas

A 180º Seguros participa do movimento do embedded finance. O objetivo das empresas de “finanças embutidas” é que outras companhias ofereçam serviços financeiros em sua operação. Pense em um aplicativo de delivery que tem também uma oferta de conta digital, por exemplo.

“Empresas de diferentes segmentos estão criando desde produtos pontuais até ecossistemas completos, que combinam soluções financeiras e não financeiras para seus clientes. O embedded finance é uma oportunidade que promete movimentar mais de US$ 7,2 trilhões até 2030, segundo dados das consultorias Rainmaking e Finnovista”, analisou Bruno Diniz, especialista em fintechs, anteriormente para o Do Zero Ao Topo.

Para Diniz, ganhará a empresa de embedded finance que oferecer a melhor combinação de custo, tecnologia, variedade de produtos financeiros, velocidade de implementação e possibilidade de customização. E ainda estamos longe de um mercado saturado. “Talvez vejamos um processo de consolidação em breve, puxado por grandes nomes do setor, à medida que se capitalizam e buscam complementar as suas ofertas. Mas a oportunidade por enquanto é muito grande, e existem várias lacunas para serem ocupadas.”

Para a 180º Seguros, a proteção é uma dessas lacunas – e a turbulência das eleições presidenciais no país não mudou os planos de expansão da insurtech.

“As pessoas têm que ver o seguro como algo que realmente ajuda nas tarefas do seu dia a dia, não como algo cheio de asteriscos e sem uso de verdade”, diz D’Ancona. “Temos um déficit de seguros no país e órgãos reguladores dispostos a avançar na agenda de competição e inovação. A oportunidade vai continuar, independente do vaivém na política.”

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.