As qualidades para ser um empreendedor de sucesso, segundo Lemann e Marcelo Claure

Investidores falaram sobre as características que buscam em criadores de empresas bem-sucedidas, e sobre o cenário para negócios de tecnologia

Mariana Fonseca

(Foto: Valéria Gonçales/Estadão Conteúdo/AE)

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Sonhar grande, trabalhar duro, executar com precisão, saber encontrar os parceiros certos e estar aberto para a sorte. Essa é a lista de requisitos para ser um empreendedor de sucesso, segundo estes nomes renomados do mundo dos negócios e dos investimentos: Jorge Paulo Lemann e Marcelo Claure.

Lemann cofundou o banco Garantia e a gestora de investimentos 3G Capital, por trás de negócios como Burger King e Heinz. Já Claure foi responsável por colocar a América Latina no mapa de investimentos do conglomerado japonês de telecomunicações SoftBank, e reorganizou empresas como Sprint e WeWork.

Os empresários e investidores participaram de um painel durante o Volpe Day, promovido pela gestora de venture capital Volpe Capital, fundada por Andre Maciel (ex-Softbank), Milena Oliveira (ex-Pinheiro Neto) e Gregory Reider (ex-Warburg Pincus). Lemann e Claure compartilharam detalhes sobre as características que fazem um empreendedor ter sucesso, e refletiram sobre o cenário atual e futuro para negócios de tecnologia.

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Como ser um empreendedor de sucesso?

A primeira característica de um empreendedor de sucesso é “ser um fanático”, segundo Lemann. E o que isso significa?

“Não gosto do cara que tem um diploma incrível e trabalhou em vários lugares. Gosto do cara que quer conquistar. Eu busco alguém que realmente quer vencer e que vai fazer até o impossível, não importa o que aconteça”. Claure usa outra expressão para definir essa mesma característica: “sonhar grande”. “Quando eu olho para empresas e empreendedores incríveis, percebo que os grandes vencedores são as equipes que podem sonhar grande”, diz o investidor.

O próprio Lemann teve de mudar seus critérios de contratação ao longo dos anos, e olhar mais para essa ambição do que para o histórico. “No Garantia, atraímos pessoas que estavam mais olhando para o bônus semestral ou anual do que para construir uma organização para o longo prazo. Quando fomos dos trades no mercado financeiro para a criação de companhias sustentáveis, tivemos de repensar [nossos critérios de contratação e gestão].”

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Mas não basta ter grandes sonhos: é preciso transformá-los em atitudes. “Eu nunca achei um grande empreendedor que não tivesse grandes sonhos, mas que também não trabalhasse muito. E que não fosse religioso na execução. Caso contrário, nada vai acontecer”, completa Claure.

O investidor deu como exemplo uma empresa que ajudou a reestruturar: a gigante de escritórios compartilhados WeWork. “Eu olho para trás e vejo como boas a visão, as pessoas e a cultura. Mas o negócio era uma bagunça, um caso de crescimento a qualquer custo. O Masa [Masayoshi Son, fundador do SoftBank] colocou muita pressão no negócio. E o Adam [Neumann, fundador da WeWork] não conseguiu executar ou ter o time que faria essa execução. Nós colocamos um plano para tornar o negócio lucrativo”, disse Claure.

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A lucratividade só viria com uma impossível ocupação de 160%. Então, a Wework cortou custos por meio da negociação com locatários e dos cortes de funcionários. Adicionou ainda novas linhas de negócio: permitiu o aluguel por hora e criou um software para empresas gerenciarem o uso dos seus espaços de trabalho, por exemplo.

Outra característica importante para um empreendedor de sucesso é formar sociedades produtivas, segundo Lemann. “Na minha primeira sociedade, por volta dos 20 e poucos anos de idade, éramos todos iguais. Falimos em três anos. (…) Precisamos atrair pessoas diferentes para fazer o negócio funcionar. Eu não teria conseguido fazer tudo que fizemos sozinho [na 3G Capital]”, disse o empresário. “As qualidades devem ser diferentes, mas mantendo a ética e a confiança.”

Uma última característica importante é a sorte. “A sorte costuma vir quando algo não funcionou, quando o mercado está ruim. Você descobre uma forma diferente de fazer as coisas e recebe então uma oportunidade”, afirmou Lemann. Apesar de a sorte parecer ser completamente aleatória, é preciso estar preparado para recebê-la, completou Claure. “Todos temos momentos de sorte. A grande diferença está naqueles que estão dispostos a correr riscos.”

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O futuro das startups, e de seus fundadores

Lemann e Claure também falaram sobre o momento difícil para as empresas de tecnologia. Esses negócios estão passando por correções no mercado público e privado, dado o aumento mundial nas taxas básicas de juros.

Para Claure, empreendedores e investidores devem entender que a economia funciona em ciclos e se preparar para eles. “As expectativas sobre as companhias se transformam em um cenário de alta taxa de juros: o aumento do custo de capital força os ciclos de crescimento a serem menores. Os empreendedores devem mostrar aos investidores um caminho claro para o fluxo de caixa e a lucratividade. A ordem é de crescimento lucrativo, e não de crescimento em detrimento dos lucros”, afirmou.

Haverá uma escassez de capital, mas companhias que sabem executar seus produtos e serviços disruptivos sempre terão dinheiro na mesa, de acordo com o investidor. “Empreendedores, esta é a hora de mostrar do que vocês são feitos. De parar de se preocupar com levantar capital e definir valuations [valores de mercado], mas sim com executar aquele plano e aqueles números que vocês mostraram na apresentação de PowePoint.”

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A tecnologia é um caminho sem volta, na visão de Lemann. “Você não pode ficar sentado e achar que as coisas vão permanecer as mesmas para sempre, já que a tecnologia está tomando a liderança do mundo. Eu mesmo não conheço tecnologia tão bem, mas então saio encontrando aqueles ‘fanáticos’”.

Para Claure, também está firmada a importância da América Latina no cenário de investimento para o empreendedorismo. “Quando eu lancei o Latin America Fund [2019], havia uma falta de capital de risco para a região. Essa falta foi reduzida e agora estamos equalizados com o resto do mundo. Bons momentos virão. (…) Em dez anos, haverá mais disrupção do que já aconteceu na história da nossa indústria [de investimentos em tecnologia].”

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.