Parece impopular, mas não é: como o brasileiro usa (bastante) o vale-presente

Apesar de não parecer, especialistas apontam que vale-presente é mercado em ascensão no Brasil

Maria Luiza Dourado

Cartões-presente do Google Play em uma loja de conveniência (El Nuevo Doge via Wikimedia Commons)
Cartões-presente do Google Play em uma loja de conveniência (El Nuevo Doge via Wikimedia Commons)

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Ganhar ou presentear alguém com um vale-presente não é exatamente comum no Brasil como em outros países. Mas isso não significa que a categoria esteja em decadência, segundo especialistas consultados pelo InfoMoney.

Segundo Edmundo Lima, diretor executivo da ABVTEX (Associação Brasileira do Varejo Têxtil), levantamentos de entidades do setor mostram que a maior parte dos brasileiros ainda foca em itens tangíveis para presentear, como roupas, calçados, brinquedos e perfumes, com forte peso para as lojas físicas.

“Os giftcards quase nunca aparecem entre as primeiras respostas espontâneas, o que ajuda a explicar a percepção de baixa popularidade no comparativo com os Estados Unidos, por exemplo, apesar do crescimento consistente do segmento”, afirma o executivo.

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Ainda assim, o executivo defende que o interesse pelo produto, que é mais usado na categoria de games, entretenimento, serviços digitais e no universo corporativo, existe e cresce rápido.

Dados da maior distribuidora de cartões-presente do país, a Blackhawk Network Brasil, mostram que mais de 16 milhões de cartões-presente foram comercializados no país em 2024, gerando um faturamento de R$ 1,5 bilhão – aumentos anuais de 6,7% e 15,4%, respectivamente. Nesse mesmo período, o ticket médio foi de R$ 60 para R$ 80.

Ainda, a empresa compartilhou dados de um levantamento feito com 1.044 brasileiros, maiores de 18 anos, em janeiro de 2025, que descobriu que 4 em cada 5 entrevistados compraram cartões-presente nos 12 meses anteriores. Na ocasião, 89% dos entrevistados responderam que planejavam comprar giftcards em 2025, um aumento de 12% em relação ao ano anterior, e 78% compartilharam a intenção de comprar giftcards digitais no ano, alta de 2% em relação a 2024. 

Outro exemplo do crescimento do uso dos vales-presente foi visto recentemente, na pré-Black Friday. Segundo um levantamento exclusivo feito pela Neotrust foram comprados R$ 19,3 milhões em giftcards nos e-commerces nas últimas quarta e quinta-feira (dias 26 e 27 de novembro), um aumento de 16,9% em relação aos mesmos dias da semana da pré-Black Friday 2024.

Experiências como presente

Para a pesquisadora Silvia Quintanilha, diretora associada da TM20 Branding e professora titular nos Masters em Pesquisa de Mercado e Consumer Insights, o conceito de vale-presente está em ascensão no Brasil.

“As pessoas no Brasil e no mundo, sobretudo após a pandemia, estão valorizando cada vez menos bens e cada vez mais experiências. E presentear alguém com uma experiência é um vale-presente”, explica Quintanilha.

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Dados mostram o ganho de relevância das experiências em datas comerciais. Segundo o estudo do Ibevar-FIA Business School, a preferência por presentes de experiência, como jantares em restaurantes e dias de spa, cresceu no Dia das Mães ao nível dos itens queridinhos, como cosméticos e perfumes. Já no Dia dos Pais, a intenção de presentear com experiências — como viagem de fim de semana e ida a restaurantes gourmet –perderam apenas para o iPhone.

O mesmo fenômeno foi visto no Dia dos Namorados, que registrou aumento nas buscas por passagens de ônibus em 2025.

“Acredito que a categoria vale-presente esteja em alta – mas nem sempre relacionamos a esse nome todos os produtos correspondentes. A gente está presenteando mais com vale-presente sem saber que se trata de um vale-presente”, afirma.

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Tendência mundial

Apesar de o Brasil representar uma pequena parte da indústria global de giftcards de US$ 1,29 trilhão, especialistas acreditam que este é um mercado em ascensão no país – assim como no mundo inteiro.

“O brasileiro é mais emocional ao presentear. Prefere itens tangíveis que ele escolheu pessoalmente para o presenteado, e isso joga contra os vales-presente. Outro obstáculo é que o vale-presente tem preço e a gente não gosta de falar de dinheiro – vale lembrar que aqui foi criada a pesquisa que calcula a renda de um lar perguntando quantos banheiros e quantas TVs existem na casa do entrevistado para evitar perguntar quanto ele ganha por mês. Mas a vida está corrida, os deslocamentos estão cada vez mais difíceis de serem feitos, sobretudo em grandes cidades – é nessa realidade que a tendência do giftcard, que é um facilitador, cresce”, completa Quintanilha.

O estudo “Oportunidades e estratégias do mercado global de cartões-presente até 2034”, da ResearchAndMarkets.com, projeta que essa indústria atinja US$ 5,22 trilhões globalmente até 2034.

Maria Luiza Dourado

Repórter de Finanças do InfoMoney. É formada pela Cásper Líbero e possui especialização em Economia pela Fipe - Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas.