Dengue: como saber quais repelentes vendidos no país protegem contra o Aedes Aegypti?

Inseticidas 'naturais' à base de citronela, andiroba e óleo de cravo não possuem comprovação de eficácia

Equipe InfoMoney

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Com mais de 3 milhões de casos de dengue em 2024 no país, os consumidores devem tomar medidas de proteção contra o Aedes aegypti, transmissor da doença. Entre as medidas recomendadas está a utilização de repelente, produto que protege a pele da picado do mosquito.

A procura pelo produto, em farmácias e supermercados, disparou neste ano com a escalada da dengue, gerando aumento de preço do item, que passou dos 16% entre o fim de 2023 e o início deste ano. Para além do valor, o consumidor precisa ficar atento porque não é todo repelente que possui a proteção específica contra a dengue.

Os princípios ativos recomendados por autoridades de saúde pública, como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos, contra o mosquito Aedes aegypti são:

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“Esses insumos são reconhecidos por sua eficácia. Não existe uma lista oficial dos produtos que não funcionam, mas, geralmente, produtos sem esses ingredientes podem não ser efetivos. Sempre veja o rótulo para garantir que o repelente tenha um desses ingredientes e siga as instruções de uso”, afirma Carolina Vesentini, advogada do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).

Importante salientar também que a quantidade de cada princípio ativo muda, a depender da idade para qual o produto é indicado. Geralmente, repelentes para crianças possuem um percentual menor de Deet, por exemplo (6%-9%).

Além disso, Vesentini ressalta que, para garantir a escolha de um produto eficaz, o consumidor deve seguir algumas orientações. “Verifique o rótulo para identificar os ingredientes ativos; opte por produtos que contenham os ingredientes reconhecidos pela sua eficácia contra mosquitos (citados acima); considere a duração da proteção oferecida pelo produto, que também deve estar indicada no rótulo”, diz a especialista.

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Em nota enviada ao InfoMoney, a Sociedade Brasileira de Dermatologia ressaltou que é importante seguir as orientações de uso do repelente, como:

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), por sua vez, ressalta em seu site que os repelentes, como o próprio nome diz, apenas repelem os mosquitos do ambiente. “São encontrados na forma de espirais, líquidos e pastilhas utilizadas, por exemplo, em aparelhos elétricos. A substância ativa e seus componentes complementares precisam ser aprovados pela Anvisa”, diz a agência em nota enviada ao InfoMoney.

A agência tem uma lista de repelentes saneantes (de volatilização elétrica ou queima) e de repelentes cosméticos (para aplicação na pele) devidamente aprovados e garantiu que esses são eficazes contra o mosquito Aedes aegypti, que é o nome da principal espécie de mosquito que transmite os vírus da dengue, além do vírus causador da febre chikungunya e do Zika vírus.

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Ainda, em seu site, a agência explica que os inseticidas chamados “naturais”, à base de citronela, andiroba, óleo de cravo, entre outros, não possuem comprovação de eficácia. Portanto, são irregulares e não recomendados.

Fabricante é obrigada a informar eficácia?

Segundo Vesentini, pelo Código de Defesa do Consumidor, os fabricantes de repelentes precisam informar claramente sobre a eficácia do produto, inclusive se ele não funciona contra o Aedes aegypti.

“Embora o Código não diga isso, de forma explícita para cada situação, ele destaca a importância de dar aos consumidores informações claras e precisas sobre o que estão comprando, especialmente quando se trata de questões de saúde e segurança. Portanto, se um repelente não é eficaz contra o Aedes aegypti, o fabricante deveria, idealmente, informar isso na embalagem para evitar enganos. Isso ajuda os consumidores a fazerem escolhas mais informadas e seguras”, avalia a especialista.

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O que dizem as marcas?

O InfoMoney entrou em contato com as principais marcas de repelente para questionar como as informações de eficácia estão sendo expressas aos consumidores. Foram consultadas as marcas: Xô Insetos, Repelex, Off e SBP. Até o momento desta publicação, apenas a Xô Insetos, da Cimed, respondeu às questões.

Em nota, a marca explica que seu produto é eficaz contra o mosquito Aedes aegypti (mosquito transmissor da Dengue, Zika, Chikungunya e Febre Amarela).  Na formulação do produto são encontrados Deet (7,5% em produto de loção ou spray; 15% em aerossol; e 7,5% nos produtos infantis) e Icaridina (25% padrão e 20% nos produtos infantis), com diferentes percentuais que influenciam nas horas de proteção. 

“Todos os produtos estão sinalizados conforme a exigência da Anvisa. Não temos nenhum produto que não combate o Aedes aegypti . Todos os repelentes da linha combatem o mosquito transmissor da dengue”, diz a Cimed em nota.

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A empresa afirma ainda que “é exigido por lei indicar na comunicação das embalagens as horas de proteção, quais mosquitos combatem, o princípio ativo (Deet ou Icaridina).”

A Reckitt Industrial, dona das marcas Repelex e SBP, respondeu a solicitação da reportagem em 19 de abril. Em nota, afirma que ambos os produtos repelem o mosquito e têm eficácia comprovada. “Não podemos falar que eles combatem, pois são repelentes cosméticos. Eles não matam o mosquito, mas sim repelem. Todos os repelentes cosméticos das marcas SBP e Repelex possuem eficácia comprovada para repelir os mosquitos transmissores de doenças como Zika, Dengue e Chikungunya”, diz a empresa.

No caso do Repelex a empresa utiliza DEET como ingrediente ativo. “Ele é o responsável por repelir os mosquitos. A concentração varia de acordo com o formato do produto. Na loção é de 6.79%; no spray é de 6.79%; e no aerossol é de 11.06%.” Para o SBP, a empresa diz que o princípio ativo é a icaridina. “A concentração varia de acordo com o repelente, podendo chegar até 25% de concentração nos repelentes com maior tempo de ação”.