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SÃO PAULO – A expansão do crédito pode ser verificada em todos os setores. Já consolidados nos segmentos imobiliário e automotivo, os financiamentos estão atingindo diversos serviços e produtos. O pagamento parcelado para a realização de uma viagem ainda é recente no País, mas já ganha adeptos, principalmente consumidores de baixa renda.
O crédito, como qualquer operação financeira, tem suas vantagens, desde que alguns cuidados sejam adotados. Não são poucas as companhias aéreas e agências de viagem que permitem o pagamento dividido em diversas prestações. A parcela que cabe no bolso pode atrair muita gente, mas não é o único fator a ser analisado. Nessa hora, vale o bom senso.
Para o professor Fábio Gallo, da FGV (Fundação Getulio Vargas), o crédito para financiar viagens tem suas vantagens. “Ele cria possibilidades para que as pessoas viajem”, diz. Mas alerta: “Você tem que ter em vista que uma viagem é um consumo de curto prazo”. Então, vale a pena se comprometer durante 10, 12 ou mesmo 60 meses para pagar por alguns dias de diversão?
A prestação é tão baixa…
O argumento é sempre o mesmo: cabe no bolso, então dá para entrar no financiamento. “As pessoas esquecem de olhar o valor total”, afirma Gallo. O problema dessa observação é que a parcela “pequenininha” de um financiamento se soma à de uma outra compra e, de soma em soma, quando chega a conta, “o consumidor não consegue pagar”.
Resultado, o consumidor acaba pagando o valor mínimo, entra no crédito rotativo e a bola de neve está formada. “As pessoas perdem o controle das suas finanças”, considera o professor.
No caso de uma viagem, outros fatores ainda devem ser considerados. “Não é só a passagem e a hospedagem que o consumidor deve levar em conta”, ressalta Gallo. Gastos com alimentação, diversão e uma reserva para imprevistos devem ser somados. Sem contar as taxas que parecem não fazer diferença – como as gorjetas, por exemplo – mas, colocando na ponta do lápis, elas oneram a conta final.
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Em viagens internacionais, os cuidados são ainda maiores, devido ao câmbio. “Em uma situação de volatilidade, mesmo sendo um pacote fechado, você tem outros gastos, que serão pagos em outras moedas”, salienta Gallo.
E é tudo sem juros…
Além da prestação que cabe no bolso, outro fator que atrai o consumidor é o parcelamento sem juros. “Não existe operação financeira sem juros”, ressalta o professor. Por isso, antes de entrar em um crédito para financiar uma viagem, as taxas devem ser levadas em consideração, pois podem deixar a viagem mais cara do que é de fato.
O professor da FGV lembra ainda que essas taxas, mesmo para esse tipo de linha de crédito, são altas. “Não chegam a ser como as taxas do cheque especial, mas ninguém faz nada de graça”, afirma.
Gallo recomenda ao consumidor verificar quanto sairia a viagem à vista e pedir desconto, que, às vezes, pode ser mais vantajoso. E não tem jeito, o melhor mesmo é planejar o roteiro com antecedência e conseguir as vantagens que só esse planejamento permite.
O ideal, diz o professor, seria as pessoas pouparem primeiro para gastarem depois. Mas é difícil. “O brasileiro ainda não sabe poupar”.
Para Gallo, viajar no Brasil ainda é para poucos. “A viagem ainda não entrou na cesta de consumo do brasileiro, pois não atingiu ainda a grande massa e os gastos ainda são muito grandes”, completa.
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Por isso, na hora de colocar a mão no bolso, o principal mesmo é o bom senso. “Você deve se perguntar se você quer ou se você precisa”, lembra. “Você pode consumir querendo, não há nada de errado nisso, desde que você se controle”.