Copa do Catar: apostadores amadores falam sobre estratégias para tentar acertar resultados

Entre os relatos, há quem já pensa nas apostas como 2ª fonte de renda e outro que busca recuperar o prejuízo – de até R$ 10 mil – dos primeiros lances

Heloísa Brenha

No início, era por diversão. Para apoiar o time do peito. Para enganar o tédio da quarentena. Para dar mais emoção ao jogo do fim de semana. Mas, depois de verem seus palpites futebolísticos na internet se transformando em uma somatória de lucros de R$ 30 a R$ 30.000, vários dos novos apostadores esportivos do Brasil parecem estar levando a brincadeira mais a sério.

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Além do amor pelo futebol, esses apostadores amadores têm em comum a filiação recente nas chamadas casas de apostas esportivas – um mercado online, legalizado no Brasil em 2018, mas ainda sem regulamentação, que já movimenta valores próximos aos R$ 10 bilhões por ano.

Novos no jogo, eles vêm estudando times, jogadores, torneios e as “odds” (cotações do valor a ser pago por aposta acertada) mais vantajosas de cada campeonato. E bolando estratégias próprias para se dar bem na Copa do Mundo da Fifa, que começou no dia 20, no Catar.

O InfoMoney conversou com seis apostadores não profissionais, de várias cidades do país. São jovens bem-colocados profissionalmente que começaram a apostar por diversão e hoje continuam, por diferentes motivos.

Alguns já pensam nas apostas como uma segunda fonte de renda, mantendo uma rotina de planilhas, consultores e metas diárias. Há também quem esteja tentando recuperar o prejuízo – de até R$ 10.000 – dos primeiros lances, e quem até faz uma fezinha de vez em quando, mas não troca o prazer de assistir a um bom jogo pela apreensão de ganhar ou perder dinheiro com o resultado.

Na semana em que a seleção brasileira entra em campo em seu segundo desafio, contra a Suíça, em busca do hexacampeonato, confira as histórias de seis apostadores amadores do Brasil que estão fazendo da paixão nacional um hobby – mais ou menos – lucrativo.

1 – Daniel Gouveia, 38, de São Paulo: ‘Viajei para o exterior com o dinheiro das apostas’

Daniel Gouveia, de São Paulo, começou a fazer apostas esportivas em 2021 (Foto: Arquivo pessoal)
Quem: Daniel Gouveia, 38, editor de vídeo
Onde: São Paulo (SP)
Primeira aposta: Apostou R$ 10 na vitória da Finlândia no jogo Finlândia x Dinamarca da Eurocopa 2021. Ganhou R$ 60.
Máximo que já ganhou em uma aposta: R$ 2.140
Máximo que já perdeu em uma aposta: R$ 300
Frequência com que aposta: 4 vezes por semana
Casa de apostas que utiliza: Sportsbet.io
Estratégia para a Copa: “Vou testar diferentes combinações de resultados para 26 dos 48 jogos da fase de grupos da Copa. Em cada combinação, vou pôr R$ 5. Se errar um resultado sequer, perco, mas perco pouco. Mas se acertar, posso levar até R$ 300.000”

“Lembro bem quando comecei a apostar, foi no primeiro jogo da Eurocopa de 2021. Era para ter sido em 2020, mas devido à pandemia, o torneio foi adiado para o ano seguinte. Eu estava de quarentena em casa, e ia ter esse jogo Dinamarca x Finlândia. Pensei: ‘Ah, deixa eu ver como isto funciona’, entrei em uma plataforma e apostei R$ 10 que a Finlândia, a zebra, ganharia.

No final, aquele foi um jogo marcante, porque um dos principais jogadores da Dinamarca, o [meio-campista Christian] Eriksen teve um mal súbito. Todo o mundo achou que ele tinha morrido, cercaram-no com uma bandeira para retirá-lo do campo e tudo. Quando a partida foi retomada, a Finlândia venceu.

Eu ganhei uns R$ 60, e pensei: ‘Caramba! Já multipliquei bastante o que eu apostei.’ Desde então, virou rotina: Dou uma acompanhada no que está acontecendo nos campeonatos, e vou apostando.

Com o tempo, aprendi que a estratégia de sempre botar as fichas seja na zebra, seja no favorito pode não compensar. Porque, no futebol, tem a questão empate. Em vez de dois, cada jogo tem três resultados possíveis [vitória, derrota, empate], o que pode te fazer perder muito dinheiro.

Hoje, prefiro apostar na múltipla. Aposto em uns 10 ou mais jogos que, por eu gostar tanto de futebol e acompanhar vários torneios, tenho uma noção melhor de quem pode ganhar. O bom da múltipla é que, se você ganha, você também recebe um bônus pelo risco que correu. Afinal é muito mais difícil acertar o resultado de 10 jogos diferentes do que de 1 só. Assim, eu entro com pouco dinheiro e, no fim, posso ter um ganho considerável. Já entrei com R$ 5 e saí com mais de R$ 2.000 nesse tipo de aposta, no meu melhor dia.

Em outubro, saquei o saldo que havia juntado desde aquela Eurocopa e comprei passagem para ver o São Paulo jogar a final da Copa Sul-Americana, na Argentina. O meu time perdeu, mas acho que fiquei menos triste do que outros torcedores, porque pelo menos não perdi o dinheiro da viagem. Gastei só o que havia ganhado com as apostas e, de quebra, conheci outro país.”

Não pode ter paixão. Se eu fosse sempre apostar no São Paulo por ser são-paulino, já teria perdido todo o meu dinheiro. Preferências de lado! Você tem que tratar isso como um estudo e como um jogo

Daniel Gouveia, apostador de São Paulo (SP)

2 – James Dantas, 28, de João Pessoa: ‘Para ganhar dinheiro tem que apostar no longo prazo’

James Dantas, 28, é apostador esportivo desde 2019 (Foto: Arquivo pessoal)
Quem: James Dantas, 28, engenheiro civil
Onde: João Pessoa (PB)
Primeira aposta: “No Nordeste, como muita gente vem de outros estados, é comum torcer para dois times. Eu torço para o Botafogo aqui da Paraíba, e para o Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, por causa do meu pai. Era setembro de 2019, e minha primeira aposta foi R$ 5 no Vasco, mesmo sabendo que a chance de perder ali era muito grande. Perdi mesmo daquela vez, mas, de agora em diante, vai ser melhor!”
Máximo que já ganhou em uma aposta: R$ 1.700
Máximo que já perdeu em uma aposta: R$ 800
Frequência com que aposta: Diária
Casa de apostas que utiliza: Bet365
Estratégia para a Copa: “Campeonatos que envolvem seleções não são tão bons de apostar para ganhar dinheiro, é mais por diversão. Porque as ‘odds’ são relativamente mais baixas, e no futebol existe o imponderável, nem sempre o melhor ganha. Às vezes, Davi ganha de Golias. Mas uma aposta que eu vou fazer com certeza nessa Copa é R$ 100 no Brasil hexacampeão mundial! Esse aí vai ser um lucro fácil!”

“Eu comecei a fazer apostas esportivas em 2019. O contrato que eu tinha com a minha empresa encerrou, e eu precisava de uma renda extra enquanto eu não encontrava outro emprego. Coloquei uns R$ 1.000 no site de apostas esportivas e fui brincando.

No começo, eu nem sabia realmente para onde ir, o que [de apostas] que tinha, o que que não tinha… Aí eu resolvi contratar consultores, que são pessoas que ficam assistindo aos jogos, que têm scouting [processo de coleta e análise do máximo de informações sobre um jogador ou uma equipe] para orientar sobre as melhores apostas. Tem consultores que cobram milhares de reais todo mês pelas dicas. Ao meu atual, eu pago R$ 350 por mês.

Recebo as indicações por um grupo de mensagens, no celular. Quando saio para jantar com a minha namorada, ponho o grupo no silencioso porque senão ela reconhece o toque e fica brava. Aposto todo dia, sim, mas varia: Em um dia, posso fazer 5 ou posso fazer 50 apostas. No geral, é bem lucrativo. Se eu fosse somar tudo o que já gastei nesses anos, daria algo em torno de R$ 14.000, mas já ganhei R$ 46.500. Dá um lucro de mais de 200%.

Eu levo como se fosse um investimento de alto risco que eu tenho na Bolsa. É uma grana que eu não coloco no meu orçamento, não sei quanto vai dar no final do ano. É o meu presente. No ano passado, consegui fazer uma reforma na minha casa [com o dinheiro das apostas].

Óbvio, esse mundo não é mil maravilhas. Se você não tiver uma gestão da sua banca, pode perder tudo o que tem. Eu mesmo já cheguei no dia 10 de um mês com um prejuízo de R$ 18.000. Mas no fim consegui fechar o mês com R$ 6.000 de lucro. É preciso ter bastante calma e ter em mente que é um jogo.

Não acho que seja um jogo de azar, porque não é só escolher um número e rolar uma roleta. Existe probabilidade. Por exemplo, se o Palmeiras for jogar contra um time fraco. O Palmeiras ganhar é algo que tem uma chance razoável de acontecer. E mesmo se o retorno da aposta for baixo, digamos, 30%: é 30% de lucro! O que que dá 30% de lucro em 90 minutos? Nada, né?”

O pessoal gosta de apostar R$ 100 para voltar R$ 10.000, botar R$ 10 para voltar R$ 30.000… A chance de isso acontecer é baixíssima, a mesma de ganhar na Mega-Sena. A minha visão não é essa. A minha visão é: quanto menor a ordem, mais a chance de bater, o negócio é ir mantendo uma constância, que, de grão em grão, a galinha vai enchendo o papo

James Dantas, apostador de João Pessoa (PB)

3 – Vanessa Lindenblatt, 28, do Rio de Janeiro: ‘O dinheiro que você ganha é o dinheiro que outra pessoa perdeu’

A apostadora Vanessa Lindenblatt (Foto: Arquivo pessoal)
Quem: Vanessa Lindenblatt, 28, economista
Onde: Rio de Janeiro (RJ)
Primeira aposta: Apostou R$ 100 na vitória do Flamengo em um jogo de junho de 2022. Ganhou R$ 250.
Máximo que já ganhou em uma aposta: R$ 250
Máximo que já perdeu em uma aposta: R$ 150
Frequência com que aposta: Semanal
Casa de apostas que utiliza: Bet365
Estratégia para a Copa: “Vou entrar no bolão dos meus grupos: o dos amigos flamenguistas, o dos colegas de trabalho, para ter esse momento de descontração com eles mesmo. O grupo do Brasil na Copa está bem tranquilo, então muito vai depender de quem vai passar em 1º e 2º lugar [para as oitavas-de-final]. Isso define muita coisa em termos de adversários nas outras chaves. É preciso se informar sobre as seleções: o negócio é ir bolando a estratégia conforme o campeonato avança.”

“Sou flamenguista assídua e, neste ano, juntamos um grupo amigos que, em todo jogo do Flamengo no Maracanã, a gente vai ver junto. Em junho, antes de chegar ao estádio, a gente começou a brincar: ‘Ah, duvido que você aposte que o Flamengo vai ganhar, para levar uma energia boa para o jogo’. E eu falei: ‘Quer saber? Vou apostar. Nunca apostei, mas vou fazer isso pelo Flamengo!’ Aí passei um PIX de R$ 100 faltando 15 minutos para a partida começar. A ‘odd’ era de 2,5. O Flamengo ganhou, e eu ganhei também, R$ 250.

E aí, acabou que virou tradição: Toda vez que o Flamengo vai jogar, a gente dissemina lá no grupo qual a estratégia de cada um para o jogo, e aposta. Eu sigo alguns canais no Telegram que são mais simples de acompanhar, principalmente o ‘Tips da Bet’, e converso com alguns amigos que apostam mais. Passei até a estudar mais futebol, inclusive europeu, para apostar na Champions League também. Tenho acompanhado mais os jogos para ver quem está melhor, quem está pior, os jogadores que estão se saindo bem lá fora e tal.

Mês a mês, está dando um saldo superpositivo. Não é nada grande, ainda não me propus a levar isso como uma renda extra, mas posso fazer isso no futuro.

Eu levo como uma brincadeira saudável, e tenho muito claro que não posso me viciar nisso. Porque é um jogo de azar, parecido com cassino, carteado… As casas de apostas só dão lucro e estão de pé porque muita gente perde dinheiro. O dinheiro que você ganha é o dinheiro que outra pessoa perdeu, e isso pode ser perigoso se você não tiver controle, principalmente controle psicológico.

Por exemplo, agora na Libertadores, todo o mundo estava crente de que o Pedro ia ser a estrela do jogo. Então, eu botei R$ 150 que um dos jogadores que ia fazer gol na final era ele. E não foi, foi o Gabigol. Aí, perdi tudo, mas estava tão feliz de o Flamengo ter ganhado o título em si, que nem me abalou. Pensei: ‘Ah, que seja pelo Flamengo e bola para frente!’”

Você precisa acompanhar os jogos, entender como o mercado está a nível tanto de time como de jogador, para perceber as frestas em que pode ganhar dinheiro. Seguir canais do Telegram que dão dicas de apostas é bom, porque às vezes você não ganha no jogo, mas no volume. Em vez de apostar alto em 1 partida, você pode apostar pouco em 10 e, de repente, acertar 8. Você se expõe ao risco em mais jogos, mas ao mesmo tempo dilui o risco entre eles

Vanessa Lindenblatt, apostadora do Rio de Janeiro (RJ)

4 – Hugo Penna, 28, de Belém: ‘A meta é ser um apostador consciente e não perder dinheiro’

O apostador Hugo Penna, de Belém (PA), na final da Copa de 2018, na Rússia (Foto: Arquivo pessoal)
Quem: Hugo Penna, 28, engenheiro civil
Onde: Belém (PA)
Primeira aposta: Apostou R$ 20 no Cruzeiro, no jogo Cruzeiro x River Plate da Copa Libertadores de 2015. Ganhou R$ 150.
Máximo que já ganhou em uma aposta: R$ 18.000
Máximo que já perdeu em uma aposta: R$ 4.000
Frequência com que aposta: Semanal
Casa de apostas que utiliza: Bet365, Betano, BetWinner e Pinnacle
Estratégia para a Copa: “Vou para o Catar agora, a partir das oitavas-de-final. Está virando tradição: Vai ser o terceiro Mundial que eu acompanho, e o segundo em que aposto. Pretendo apostar nas seleções que devem se classificar, nas que devem passar em 1º lugar do grupo, nas que devem chegar até determinada fase. Aposto que o Brasil vai passar em 1º lugar para as eliminatórias, por exemplo. Vou investir também em alguns mercados de jogos individuais, como que time vai ganhar e quem vai ser o artilheiro de cada equipe.”

“Eu descobri as apostas esportivas através de um amigo que já apostava em um site, me explicou como funcionava e tudo, e eu me interessei. O primeiro jogo em que apostei foi Cruzeiro e River Plate, na Libertadores de 2015. O Cruzeiro estava jogando fora de casa, e a ‘odd’ pagava 7,5. Pensei: ‘Ah, vou colocar R$ 20 e ver no que dá’. E deu certo, ganhei R$ 150. Aí, comecei a me empolgar e, como sempre fui muito fanático por futebol, fui apostando em vários torneios.

A aposta fazia com que eu prestasse mais atenção nos jogos, eu ficava mais vidrado nos campeonatos, mais por dentro. Só que, nos primeiros 2-3 anos, eu perdia e ganhava, perdia e ganhava, e no final do mês o saldo era negativo. Com o tempo, eu fui percebendo isso, e fui estudando cada vez mais.

Fiz quatro cursos de apostas, li três livros sobre o tema, sigo apostadores profissionais e também pago um consultor particular. A vez que eu ganhei mais foi com a dica de um consultor, uma múltipla de quatro jogos de diversos campeonatos, nacionais e internacionais. Apostei R$ 200 que os quatro jogos terminariam em empate, e a aposta bateu. Levei R$ 18.000.

Hoje em dia, tenho uma gestão de banca bem equilibrada. Eu não boto todo o saldo que tenho em uma só aposta, por mais certa que ela seja. Eu divido a minha banca em 200 unidades e, a cada aposta que eu faço, coloco no máximo 1 unidade, ou seja, 1 duzentos avos do que tenho. Eu não vou ficar mais rico nem mais pobre com uma aposta, mas sim no longo prazo, entendeste?

Apostar já é algo que faço há 7 anos, porque gosto de fazer. Minha meta é estudar para ser um apostador consciente e não perder dinheiro. Procuro ter uma banca lucrativa para poder gastar com lazer, viagens, desde que nunca comprometa minha fonte de renda principal. Para mim, apostar é um hobby. Não deixo que atrapalhe minha profissão de fato, que é a engenharia.”

São três pilares para ser um bom apostador: saúde física, saúde mental e conhecimento. Tem que saber ganhar e saber perder, e ter uma estratégia diversificada para não quebrar a banca. Se você estiver em um dia ruim: Para, desliga o site, vai espairecer a cabeça, ir para a academia… O importante é ter equilíbrio para conseguir manter a constância nas apostas

Hugo Penna, apostador de Belém (PA)

5 – Daniela Montanheiro, 27, de Campinas: ‘Escolho curtir o jogo a ficar apreensiva com a aposta’

A apostadora de Campinas (SP), Daniela Montanheiro, com o namorado Vinicius Freitas (Foto: Arquivo pessoal)
Quem: Daniela Montanheiro, 27, publicitária
Onde: Campinas (SP)
Primeira aposta: Apostou R$ 50 na vitória do São Paulo na Copa Sul-Americana de 2022, e perdeu.
Máximo que já ganhou em uma aposta: R$ 35
Máximo que já perdeu em uma aposta: R$ 50
Frequência com que aposta: Esporadicamente
Casa de apostas que utiliza: Bet365
Estratégia para a Copa: “Até acho que vou apostar na Copa do Mundo, mas estou com um pezinho atrás. Vamos ver como vai ser a 1ª fase. Porque aí já é uma coisa mais pessoal, em função de outros gastos e planos que tenho, então, não sei quanto dinheiro quero gastar nisso. Devo fazer uma aposta em conjunto ou com meu namorado ou com mais amigos, daí a gente coloca um pouquinho de dinheiro cada um em uma conta no site e, se ganhar, divide depois, tipo um bolão. Corremos o sério risco de apostar que o Brasil vai ser campeão, mais por desejo do que por cálculo nesse caso [risos]!”

“Comecei a apostar neste ano, através do meu namorado, o Vinicius [Freitas, de 34 anos]. A primeira aposta eu fiz junto com ele, e foi justo na final da Copa Sul-Americana, que o nosso time, o São Paulo, perdeu! Brincamos que devemos ter mais sorte no amor mesmo [risos]! Perdemos R$ 50 cada um, e também foi o maior prejuízo. Depois passamos a apostar menos, R$ 10-R$ 15 por vez.

Dependendo do jogo, apostamos no time favorito, mas às vezes também apostamos no empate. Eu não tenho um perfil muito agressivo como apostadora: Prefiro ver o histórico, apostar no resultado mais provável. O Vinicius já é mais ousado, às vezes põe R$ 10 em uma aposta muito improvável, do tipo o XV de Piracicaba ganhar do Flamengo [risos], só para ver o que dá.

Ele trabalha em TI e, no meio dele, é bastante comum gente que aposta não só em futebol mas em vários cenários, não só dos esportes. Até na morte da rainha Elizabeth [2ª, da Inglaterra] um amigo dele apostou [risos]! Eu já não sou assim, sou mais moderada mesmo, até porque não tenho muito conhecimento sobre o mundo das apostas, e acho que a linha que separa o hobby do vício é muito tênue.

Eu sempre gostei de futebol. Aprendi com o meu pai a acompanhar qualquer tipo de jogo. Eu sento para ver TV com ele, ele está vendo um jogo da série B, e a gente começa a conversar: Fala do esporte, fala do técnico, fala dos jogadores… É o nosso momento ali. Eu poderia muito bem apostar na série B, mas não é o caso, eu escolho curtir o jogo a ficar apreensiva com a aposta.

Tanto que teve jogo em que meu namorado quis apostar, eu falei não, e ele apostou sozinho. Lembro um que foi a final da Champions [League], ele apostou na vitória do Real Madrid e no placar. E não é que ganhou? Aí eu falei: ‘Olha só, que bom, hoje você vai pagar o jantar [risos]!’”

Eu nunca me coloquei uma meta para as apostas, do tipo: ‘Ah, quero ganhar X reais, ter X% de lucro etc.’ Para mim, assistir a um jogo de futebol não está condicionado a fazer uma aposta. Tem jogo em que eu até prefiro não apostar, porque quero assistir, e não ficar na apreensão de sair o resultado. Até por isso que, para mim, não condiz apostar contra o meu time: Eu iria perder o prazer que eu tenho ali de assistir ao jogo

Daniela Montanheiro, apostadora de Campinas (SP)

6 – Lucas Sabino, 27, do Rio de Janeiro: ‘Eu lá vou deixar de ganhar dinheiro por causa do Flamengo?’

O carioca Lucas Sabino aposta desde 2019 (Foto: Arquivo pessoal)
Quem: Lucas Sabino, 27, engenheiro de produção
Onde: Rio de Janeiro (RJ)
Primeira aposta: Apostou R$ 200 que não sairia um quinto gol em uma partida do Campeonato Carioca Sub-20 de 2019. No último minuto, o quinto gol saiu, e ele perdeu os R$ 200.
Máximo que já ganhou em uma aposta: R$ 3.600
Máximo que já perdeu em uma aposta: R$ 1.600
Frequência com que aposta: Diária
Casa de apostas que utiliza: Bet365
Estratégia para a Copa: “Eu pretendo apostar em alguns jogos da 1ª rodada e em quem vai avançar. Tem alguns jogos que já dá para dar como certos, como Holanda e Catar. Não acho que o Catar vá conseguir fazer nenhuma graça frente à Holanda, entendeu? Mas para as demais apostas, pretendo esperar a 1ª rodada e ver como os demais times estão jogando. Por enquanto, eu acho que vai dar Brasil. E não porque eu sou brasileiro e torcedor da seleção, mas porque, de todas as convocações que eu vi até agora, a nossa é a mais competitiva.”

“Foi em 2019 que comecei a apostar. Eu tinha colocado R$ 200 no site, porque tinha uma promoção de que, depois de R$ 200 reais apostados, a empresa te dava mais R$ 200. Logo na primeira aposta, coloquei tudo em um jogo do Carioca Sub-20, Nova Iguaçu com outro time, não lembro qual. O Nova Iguaçu estava perdendo de 4 a 0, com menos de 10 minutos para terminar o jogo, 1h da tarde. Pensei: ‘Pô, os jogadores estão cansados, vou botar aqui duzentão que não vai ter um quinto gol nesse jogo’.

Eis que, aos 91 [minutos], sai o quinto gol da partida [risos]! Tomei prejuízo, mas pelo menos a empresa cobriu [com o bônus de R$ 200]. Aí, pensei: ‘Vou recuperar, vou colocar tudo em um jogo certo’. Era a final da Copa América 2019, Brasil e Peru, e botei os R$ 200 que o Brasil sairia vitorioso. A ‘odd’ estava em 1,6, ganhei R$ 320, R$ 120 de lucro.

Aí comecei a apostar muito, mas muito impulsivamente. Cheguei a ganhar R$ 3.600 em uma única aposta, e perder R$ 1.600 em outra. Mas perder era mais frequente que ganhar. Eu tinha consciência de que eu estava no prejuízo, não sabia bem de quanto. Tentava recuperar, mas de uma maneira meio aloprada: Perdia, e ia colocando mais dinheiro, mais dinheiro, mais dinheiro…

Até que uma hora, como bom engenheiro, elaborei uma planilha no Excel com tudo o que havia perdido e tudo o que havia ganhado em 2 anos de apostas. Achei um rombo de R$ 10.000! Pensei: ‘Caraca! Eu já perdi isso tudo! Vamos recuperar isso com calma: não vai ser em um dia, uma semana nem um mês’, até porque eu tenho o meu trabalho, né, não me dedico 100% a isso.

Botei R$ 600 no site, e me prometi que essa seria a última vez que eu sacaria dinheiro da minha conta para as apostas. E estipulei uma meta diária, para conseguir ir recuperando aos poucos o prejuízo.

Estou nesse processo de recuperação, tenho batido a meta quase todos os dias. Quando eu bato ou às vezes supero a meta, eu simplesmente fecho o site e não abro mais. Hoje, em 2 meses e 10 dias depois, já juntei R$ 3.700. Essa mudança de mentalidade tem sido muito boa. Eu penso em passar um pouquinho esse valor, aí eu vou tirar todo o dinheiro que eu perdi, e vou trabalhar só com o meu ganho. Ainda tenho um sonho em fazer das apostas uma segunda renda mesmo, para poder viver tranquilo, construir minha vida.

Para ser um bom apostador, a gente tem que tirar o emocional, e colocar o racional. Sou flamenguista, mas já apostei contra o meu time, sim. E ganhei, claro! Eu lá vou deixar de ganhar dinheiro por causa do Flamengo? Penso assim: Se o Flamengo perder, eu vou ficar triste. Mas se ele perder e eu ganhar dinheiro, compensa um pouco. Time é time, aposta é aposta.”

Tem que ter cabeça, não pode querer ganhar a qualquer custo. Acho que todo iniciante perde dinheiro ali no começo, é normal. Nunca ouvi nenhuma história de alguém que colocou dinheiro em um site de apostas e nunca tenha perdido, só foi ganhando e ganhando… Eu já ganhei e perdi muito, mas não penso em parar

Lucas Sabino, apostador do Rio de Janeiro (RJ)