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Quais as perspectivas econômicas pós-pandemia?

Existe um debate sobre a recuperação, se será em “V”, “U” ou em “L”. A cada dia que passa, a primeira opção aparenta ficar menos provável
Por  Um Brasil -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

por Márcio Antônio Salvato e Luiz Carlos Day Gama*

O momento atual, em termos econômicos, é o mais delicado em décadas – não somente no Brasil, mas em todo o planeta. Em relatório divulgado no último dia 24 de junho, o FMI projeta uma queda da economia mundial da ordem de 4,9% em 2020. Para o Brasil, a previsão é ainda mais pessimista: queda de 9,1%.

O relatório do boletim Focus, considerando a expectativa de analistas internos, projeta uma queda de 7% neste ano. Ao analisar alguns indicadores macroeconômicos, fica evidente por que tal pessimismo. Em relação ao último trimestre de 2019, o PIB caiu 1,5% no primeiro trimestre. Em relação ao mesmo período do ano anterior, a queda é mais branda (-0,3%). O resultado é preocupante, pois a quarentena teve início em março, apenas no último mês do trimestre de apuração.

Outros indicadores apontam que o pior ainda está por vir: o setor de serviços acumula queda de 18,7% em três meses seguidos de retração – dos quais -11,7% só em abril –, em comparação a março; a taxa de desocupação no trimestre móvel, encerrado em abril, ficou em 12,6%, acumulando o quarto aumento seguido do indicador. Houve um aumento de quase 900 mil desocupados entre os dois últimos trimestres móveis. Em geral, todos os indicadores de emprego apresentaram piora profunda.

Com relação à indústria, o setor de bens de capital teve queda de 41,5% em abril, em comparação a março, enquanto o setor de bens de consumo duráveis sofreu queda de 79,6% para o mesmo período. Praticamente todas as atividades setoriais tiveram declínio, com destaque para fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias, que caiu 88,5% entre março e abril.

Os dados acima ilustram que a recessão que enfrentaremos nos próximos meses será profunda, mesmo que alguns analistas divirjam sobre a sua intensidade e sobre o processo de recuperação. O processo de reabertura da economia parece ser gradual e com muitas restrições, apontando que a recuperação será lenta. É preciso deixar claro que os efeitos são devastadores tanto dos pontos de vista da saúde quanto da economia, não existindo uma separação, como alguns tentam impor. Qualquer decisão a ser tomada deve levar isso em consideração.

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Existe um debate sobre a recuperação, se será em “V” (queda rápida com recuperação rápida), em “U” (queda rápida e recuperação lenta) ou em “L” (estagnação antes da recuperação). A cada dia que passa, a primeira opção aparenta ficar menos provável. Nesse sentido, políticas públicas devem ser pensadas, entretanto, sem deixar de lado a preocupação com um orçamento público equilibrado.

Um endividamento excessivo, hoje, significa mais peso sobre as gerações futuras. O governo forneceu, nas últimas semanas, auxílio emergencial aos trabalhadores autônomos, informais e MEIs (“coronavoucher”) e também aos Estados. A fonte desse dinheiro pelo aumento do endividamento, o que irá afetar os resultados primário e nominal do setor público (sem e com serviços financeiros da dívida, respectivamente). Espera-se um déficit primário acima de 10% do PIB, ao fim do ano, e um déficit nominal acima de 14% do PIB, ao fim do ano.

O Banco Central vem trabalhando em prol de tentar aquecer a economia (juros mais baixos, queda do compulsório, etc.), porém, em um momento de incerteza como este, políticas monetárias tendem a ter seus efeitos reduzidos, o que é chamado, tecnicamente, de “armadilha da liquidez”. Não obstante, o BCB sinalizou que não pretende cortar mais os juros. Discute-se agora a necessidade de ampliação das linhas de crédito para reduzir a taxa de mortalidade de empresas, já esperado para este trimestre.

Em suma, são políticas que tentam mitigar o problema, ampliando o crédito e na tentativa de garantir fontes de créditos a um custo mais acessível, com menos exigências colaterais de garantia.

O certo é que os números apontam para o pior desastre econômico desde a grande depressão da década de 1930. Se já estávamos numa possível década perdida, a contar a partir de 2014, quando se começou a reduzir a renda per capita, talvez só atingiremos a mesma renda per capita de 2013 apenas após 2026. Isso ficará registrado nos livros de História.

* Márcio Antônio Salvato é economista e coordenador do curso de Economia e professor do curso de Ciências Econômicas do Ibmec BH; Luiz Carlos Day Gama é economista e professor de Economia do Ibmec BH.

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