Congresso do Partido Comunista Chinês: o que o arriscado xadrez geopolítico diz ao Brasil?

Itamaraty precisa de estratégias para melhor proteger o seu entorno regional dos efeitos colaterais de um “embate” tecnológico intenso entre China e Estados Unidos
Por  Um Brasil
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Por Christopher Mendonça e Vinícius Paulinelli

Encerrou-se, no dia 22 de outubro, a primeira fase do Congresso do Partido Comunista Chinês. O evento é o maior e mais importante da política chinesa, responsável por conduzir Xi Jinping a um terceiro mandato na presidência, algo inédito na política daquele país.

Além da escolha presidencial, cabe ao partido, neste Congresso, a escolha do Comitê Permanente do Politburo, um seleto grupo de sete pessoas que comandarão o gigante asiático pelos próximos anos, com influência direta na organização econômica e na política social do país, dando suporte ao presidente.

O partido entende que uma economia estável e em constante crescimento é essencial para garantir a própria legitimidade dentro e fora da China, fazendo com que as indicações dos nomes responsáveis pela política econômica no Comitê Permanente sempre recebam grande atenção do mercado internacional.

Em um cenário de desaceleração do consumo na Europa e nos Estados Unidos (EUA), e diante da necessidade crescente de Xi Jinping de expandir a sua influência dentro do partido, a decisão provavelmente será no sentido de tomar medidas de alavancagem e reaquecimento do mercado doméstico. A expectativa é, portanto, positiva em relação à demanda pelos principais produtos do agronegócio brasileiro, com destaques para a soja, o milho, o frango e a carne bovina.

Em contrapartida, o cenário sobre a futura logística dos portos chineses é menos otimista. A baixa eficiência das vacinas produzidas nacionalmente e a indicação de Li Qiang como membro do comitê – (ele é responsável pelos lockdowns em Xangai) – indicam que a política de “covid zero” deve continuar no futuro próximo e, gerando problemas com atraso e custos elevados na entrada e na saída de mercadorias do país.

Em se tratando de geopolítica, o que se desenha também não parece animador. Ao longo da carreira política, Jinping centralizou o comando do Estado em sua figura e se tornou o principal líder chinês desde Mao Tsé-Tung, habilmente perseguindo oponentes e controlando o aparato midiático estatal para propagar suas ideias a respeito do “sonho chinês” de grandezas política e cultural.

Essas ideias influenciaram fortemente o estilo de diplomacia inaugurado no governo do atual líder, muito mais imponente, ambicioso e hostil às influências ocidentais. Ao preencher o Comitê Permanente com uma maioria de aliados e retirar os freios para suas ambições, é esperado que a política externa chinesa sob Jinping se torne ainda mais agressiva e intolerante à influência norte-americana no mundo, encontrando uma resposta proporcional de seu principal adversário geopolítico.

Além da já conhecida disputa em torno de Taiwan, a competição tecnológica poderá ganhar destaque no embate entre China e Estados Unidos. Graças ao potencial uso militar de inovações como a Inteligência Artificial (IA) e supercomputadores, empresas de tecnologia presentes em ambos os países se preparam para o risco crescente de ter as operações afetadas por sanções e bloqueios comerciais ocasionados por preocupações de segurança nacional.

Para as nações da América do Sul, um ambiente internacional cada vez mais disputado entre as duas potências significará uma dificuldade crescente em conciliar interesses.

A acomodação da China nos Brics poderá ser alvo de pressões crescentes por parte dos Estados Unidos, conforme Pequim expande sua influência no Sul Global por vias financeiras, comerciais e, até mesmo, tecnológicas – a citar de exemplo a participação da estatal Huawei no leilão do 5G no Brasil, duramente criticada por Washington.

Neste sentido, caberá ao Itamaraty elaborar uma estratégia para melhor proteger o entorno regional dos efeitos colaterais de um arriscado xadrez geopolítico, sem alienar as relações com a sua principal fonte de receitas comerciais na Ásia nem criar desavenças com o seu histórico e poderoso aliado no Norte.

Christopher Mendonça é doutor em Ciência Política e professor de Relações Internacionais do Ibmec Belo-Horizonte (MG). Vinícius Paulinelli é pesquisador do Grupo de Estudos sobre Privatização da Guerra do Ibmec Belo-Horizonte (MG).

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