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A ausência de IPOs no Brasil nos últimos três anos é um sintoma alarmante de um problema muito maior. A entrada de novas empresas na Bolsa vai além de um evento financeiro: é um sinal de confiança no futuro econômico. Empresas que abrem capital geram empregos, fomentam inovação e democratizam o acesso ao crescimento. Cada IPO bem-sucedido fortalece o ecossistema econômico, atraindo investimentos que impulsionam setores inteiros.
Então, por que estamos sem IPOs?
A resposta está no ambiente econômico e regulatório do país. O Brasil enfrenta desafios que vão desde uma carga tributária complexa até insegurança jurídica. Esses fatores desencorajam empresas a buscarem o mercado de capitais como uma forma de crescer. Além disso, a volatilidade econômica e política reduz a confiança dos investidores, criando um círculo vicioso que mantém empresas e investidores afastados.
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O cenário atual de seca de IPOs é o maior em quase 30 anos. A última vez que a Bolsa local ficou tanto tempo sem listagens foi entre 1995 e 1998. O último IPO no Brasil ocorreu em 2021, quando 57 empresas abriram capital. Desde então, observamos um movimento preocupante de regressão no número de empresas listadas. Em janeiro de 2022, a Bolsa brasileira contava com 385 empresas listadas; hoje, são 335.
Casos como o da Energias do Brasil e da Cielo, que realizaram Ofertas Públicas de Aquisição (OPA) para sair da Bolsa, exemplificam esse cenário. Curiosamente, o contraste é evidente ao observar outros países. Recentemente, fui convidado para ministrar uma masterclass em uma universidade em Angola. Durante minha pesquisa sobre o país, descobri que, apesar de sua economia menor, Angola possui atualmente quatro empresas listadas, todas com IPOs realizados em 2024. Mesmo enfrentando desafios econômicos significativos, Angola está à frente do Brasil nesse quesito.
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Esse, no entanto, não é uma particularidade do país africano. Segundo o relatório Global IPO Watch da PwC, nos últimos três anos, os Estados Unidos registraram 511 IPOs, enquanto, globalmente, ocorreram mais de 3.000, com destaque para a Ásia, que tem atraído cada vez mais capital do investidor estrangeiro. As perspectivas para 2025 no mercado internacional são positivas, impulsionadas pela possível queda dos juros americanos.
No Brasil, porém, o cenário é oposto. Com a expectativa de juros altos no primeiro semestre de 2025, não há otimismo para uma retomada de IPOs. Essa desconexão é tão severa que a única alternativa para algumas empresas brasileiras tem sido buscar mercados estrangeiros para listar. No entanto, esse movimento não é simples. Em 2024, por exemplo, a Cosan tentou levar sua subsidiária Moove ao mercado norte-americano, mas acabou desistindo, alegando condições desfavoráveis. Esse episódio expõe um desinteresse global crescente por ativos brasileiros.
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Há também uma questão cultural: a falta de prioridade dada ao desenvolvimento do mercado de capitais. Enquanto países emergentes estão construindo mercados financeiros vibrantes, o Brasil parece paralisado, sem políticas claras que incentivem a abertura de capital.
Se quisermos retomar o caminho do crescimento sustentável, precisamos repensar nosso ambiente de negócios. Facilitar a abertura de capital, simplificar regulações e criar um ecossistema que estimule a confiança de empreendedores e investidores deve ser prioridade.
Ficar sem IPOs por três anos é mais do que um dado estatístico: é um reflexo da inércia diante de um problema estrutural.