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A interferência na Petrobras voltou? Apesar de polêmico corte de preços, analistas não acreditam nisso

Mesmo com alguns ruídos sobre a coincidência entre o momento político e o anúncio da companhia, analistas não acreditam que esse foi o motivador por trás do corte do preço de combustíveis
Por  Lara Rizério
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

SÃO PAULO – Um dos grandes ativos da nova gestão da Petrobras (PETR3;PETR4), a elogiada política de ajuste de reajuste dos preços de combustíveis da companhia está sendo alvo de alguns ruídos nesta sexta-feira (26). Isso em meio a uma decisão surpreendente de reduzir o preço médio da gasolina nas refinarias em 5,4% e em 3,5% os valores do diesel.

O mercado estava esperando pelo reajuste, mas na direção contrária, conforme destacado pelo BTG Pactual em relatório na véspera do anúncio. Os analistas Antonio Junqueira, Gustavo Castro e Daniel Guardia destacaram que, desde o último aumento de preços, o petróleo se valorizou e estimavam uma alta de cerca de 3% dos preços dos combustíveis. Outro fator para justificar isso era a depreciação do real. 

Além disso, as últimas decisões da companhia sobre o assunto sinalizavam que a estatal estava disposta a manter ou até ampliar o prêmio dos combustíveis em relação à paridade internacional, conforme destacamos no Insight do Dia do dia 24 de abril (veja clicando aqui). Segundo o Bradesco BBI, o motivo para tanto era simples: a empresa gostaria que “não comprassem dela”, incentivaria os importadores de combustível e, desse modo, sairia gradualmente de um papel monopolista no segmento de refino do Brasil. A venda de ativos, incluindo refinarias, é um dos grandes catalisadores que os analistas estão vendo para a companhia em 2017. 

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Desta forma, a decisão da Petrobras surpreendeu o mercado, inclusive pela justificativa, de que estaria reduzindo os preços em decorrência da forte alta das importações. O ruído no mercado ainda se justifica em meio ao momento político que vive o Brasil após a delação premiada da JBS que ameaça fortemente levar à queda do presidente Michel Temer.

A redução dos preços dos combustíveis seria uma medida popular em um momento em que a popularidade do peemedebista está no fundo do poço e ainda levaria a uma redução do IPCA, o que balizaria as estimativas de que o Copom (Comitê de Política Monetária) deve cortar os juros em 1 ponto percentual na reunião da semana que vem. De acordo com a MCM Consultores, se o reajuste for repassado em sua integralidade, o impacto no IPCA (Índice de preços ao consumidor amplo) será negativo em 0,09 ponto percentual.  Com isso, os fantasmas na interferência política voltaram a assombrar o mercado. 

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O Goldman Sachs, por sua vez, destacou o impacto negativo desse anúncio sobre os números da estatal. A expectativa é de uma potencial redução de US$ 450 milhão ao ano no Ebitda para cada US$ 1 por barril de prêmio menor praticado ante os valores internacionais.

“Avaliamos que estratégia da Petrobras de recuperar fatia de mercado ao reduzir o prêmio em relação ao mercado internacional é negativo do ponto de vista econômico”, destaca Pascon. Olhando à frente, ele observa que, se o nível de prêmio de US$ 9,90 por barril for consistente até o final de 2018, a estimativa é de um impacto negativo de R$ 4,4 bilhões (ou queda de 4,3%) ao Ebitda estimado de R$ 102,6 bilhões pelo banco. Já para 2018, o impacto negativo estimado é de R$ 8,3 bilhões (ou queda de 7,4%) ao Ebitda estimado para 2018 de R$ 111,4 bilhões. Neste cenário, o banco vai monitorar a faixa de prêmio implícita nas próximas decisões antes de reavaliar seu modelo, que atualmente pressupõe prêmio de US$ 15,50 o barril para 2017-2018.

Não entre em pânico

Além do Goldman, outras casas de análise apontaram o anúncio como contra intuitivo ou inesperado. Porém, mesmo sendo surpreendente, há quem veja a decisão com mais cautela. 

“A política de preços da Petrobras é relativamente nova e a empresa pode trabalhar para encontrar o nível de prêmio apropriado para o ambiente atual no mercado interno”, afirmam os analistas do Bank of America Merrill Lynch. Eles assumem um prémio médio de 10% tanto para a gasolina quanto para o diesel até 2017, o que está abaixo do spread do ano anterior de 12,1% para a gasolina e de 17,2% para o diesel. “As margens de refinação atualmente atuais não são sustentáveis no longo prazo e devemos ver um nível normalizado de 5-10%, avaliam. Já o UBS, por sua vez, apontou que a empresa parece não estar olhando para os preços à vista, mas uma média móvel. 

O BTG ressalta: o timing pode levar investidores a acreditarem num mix de política interna e interferência política na decisão.Porém, os analistas do banco não acreditam que seja o caso – “pode ter sido apenas coincidência”. Com isso, eles seguem com o call positivo em Petrobras, apontando que os principais catalisadores de longo prazo continuam sendo: (1) Permanência do Pedro Parente; (2) venda de ativos; (3) transferência de direitos e (4) preços do petróleo.

Outro que vê a decisão como surpreendente, mas que faz sentido e que a política de preços está sendo corretamente aplicada é o Credit Suisse. Destacando que o elevado nível de importações foi um dos pontos fundamentais para anunciar este aumento, os analistas do banco apontam que uma das perguntas que parecem fazer mais sentido agora seria quanto a Petrobras pode perder de participação de mercado para que a sustentação do prêmio ainda faça sentido.

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Essa é uma pergunta um tanto “capciosa” mas, considerando todas as complexidades, os analistas do Credit fizeram um teste de sensibilidade. Ela indica que manter um prêmio de 10% faz sentido até uma perda de participação de mercado de no máximo 20%, nível este que foi bem próximo do que tem ocorrido atualmente na importação no mercado de diesel. O nível de importação está em um patamar que supre cerca de 22% do mercado de diesel e 15% de gasolina. 

Assim, a impressão dos analistas Andre Natal e Regis Cardoso é de que o mercado está funcionando realmente como um “mercado aberto” com vários nomes competindo, volatilidade de preços, flutuação de mercado. “Olhando pra frente, acreditamos que a Petrobras deverá fazer ajustes mais frequentes de acordo com o comportamento dos competidores e dos preços internacionais”, apontando também que a queda do prêmio médio . parece ser um caminho para reduzir eventuais novas perdas de participação de mercado. 

Apesar de, num primeiro momento, o corte de preços em meio ao ambiente político conturbado sinalizar uma possível interferência política, não é assim que os analistas estão vendo o anúncio da Petrobras. Porém, isso não quer dizer que eles não se surpreendam mais vezes com as notícias de reajuste de preços. Com isso, o mercado monitorará de perto os próximos anúncios da companhia – também de forma a entender até onde ela quer chegar. Por enquanto, as expectativas são positivas. 

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Lara Rizério Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.

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