Petrobras e a necessidade de aumento de capital

Geração de caixa da companhia não é suficiente para o dispêndio com investimentos e o pagamento da dívida
Por  Celson Placido
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

SÃO PAULO – Vamos discorrer hoje sobre a Petrobras e a Necessidade de Aumento de Capital, vamos aos pontos:

a) Endividamento extremamente elevado – A companhia atingiu 5,24x Net Debt/Ebitda e tende a permanecer elevado, pois a empresa possui uma dívida líquida total de R$ 402 bilhões, sendo que 73% estão atrelados a moeda estrangeira (dólar) que deve permanecer em alta. Conforme quadro abaixo:

b) Preços do petróleo devem permanecer em baixa – A própria Arábia Saudita mencionou hoje que não pretende cortar a produção de petróleo, conforme comentário abaixo:

Não há proposta para um corte coordenado pela Arábia Saudita na Opep do petróleo, afirmou o ministro saudita, Ali al-Naimi. Segundo ele, a demanda pelo petróleo deve continuar a aumentar em 2016.

Ao chegar para a reunião da Opep, Naimi disse: “Não há base para acreditar que há uma proposta coordenada saudita para reduzir a produção”. Segundo o ministro, há um superávit de petróleo no mercado. “Nós já dissemos mais de uma vez que estamos dispostos a cooperar com qualquer um que esteja disposto a trabalhar conosco para equilibrar o mercado”, disse a autoridade.

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Após a notícia de que a Arábia Saudita estaria aberta a um corte na produção, se outros produtores concordassem, a reação do Irã e da Rússia foi descartar essa possibilidade.

Teerã se prepara para voltar ao mercado internacional, com a retirada das sanções contra o país por causa do programa nuclear iraniano, enquanto Moscou avalia que a manutenção da produção em patamar alto foi uma estratégia liderada pelos sauditas para prejudicar financeiramente a Rússia.

Aparentemente, o Irã recuou da ideia anterior de que os países da Opep tivessem cotas individuais de produção. O ministro do Petróleo iraniano, Bijan Zanganeh, disse que “sem cotas, a Opep não pode fazer nada”, mas também acrescentou que “nós não temos propostas. Estamos aqui para ouvir”.

“Nós estamos preocupados com a união da Opep e em defender os interesses de todos os países”, afirmou o ministro. O Iraque produz cerca de 4,5 MM de barris ao dia, atualmente, e planeja exportar cerca de 3,6 MM de barris ao dia, disse a autoridade.

Segundo relatório da comissão econômica da Opep, caso o cartel continue a produzir nos níveis atuais, de cerca de 31,5 MM de barris ao dia, a demanda superaria a oferta em 2016 em 700 mil barris ao dia, o que manterá os preços baixos. Caso a produção retorne aos 30 MM de barris ao dia – um teto fechado pelo cartel, mas em geral ignorado -, a demanda superaria a produção em 800 mil barris ao dia, de acordo com o documento. Os preços ainda assim continuariam baixos, porque o mundo aumentou muito seus estoques, durante esse período de excesso de oferta e preços baixos, aponta o relatório.

Abaixo a evolução do preço do Brent em 5 anos:

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Aliado a isso, o segmento Exploração e Produção de Petróleo, com a queda do preço do petróleo, vem apresentando forte queda no seu resultado operacional, conforme quadro abaixo:

 

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c)     Custo de Extração – Outra preocupação para a empresa

Vale mencionar os custos de extração de petróleo, em dólar apresentaram queda e a participação governamental também, devido aos menores gastos com royalties e participação especial, em consequência do decréscimo do preço médio de referência do petróleo nacional, em dólares (52%), devido à queda dos preços no mercado internacional, associado ao decréscimo no lifting cost, comentado acima. Porém, vale mencionar que a Petrobras vende o barril de petróleo com um desconto em torno de US$ 10/barril em relação ao preço do Brent, que hoje está na casa de US$ 44/barril, ou seja, o preço médio de venda do barril para a Petrobras está em torno de US$ 34/barril e com o custo quase US$ 20/barril, só de extração e participação governamental, alguns poços estão bem próximos ao break-even. Gerando mais um problema de caixa para a companhia.

d) A necessidade constante de novas captações para honrar o investimento e o pagamento da dívida:

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A necessidade de caixa da companhia permanecer, pois a geração de caixa da companhia não é suficiente para o dispêndio com investimentos e o pagamento da dívida. Conforme quadro acima.

e) Saídas para a companhia:

1) Aumento de combustíveis – Foram realizados 2 aumentos, um no final do ano passado que acabou melhorando as margens da companhia e também seu resultado e mais um esse ano devido ao preço da gasolina e diesel, evitando que a companhia apresentasse prejuízos no segmento abastecimento. Aqui o governo poderia autorizar mais um aumento;

2) Desinvestimentos – Venda de ativos. A empresa tem tentado, porém, o setor está extremamente complicado, devido ao cenário desafiador e petróleo mais baixo. Tentaram abrir capital da BR Distribuidora e não saiu nada. Vale lembrar que a venda de ativos operacionais gerará numa melhora de caixa no curto prazo, porém, terá impacto negativo no Ebitda da companhia, pois reduzirá o Ebitda da empresa;

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3) Redução do Capex – Vem realizando a redução do mesmo. Porém, tudo tem limite e não dá pra reduzir mais. Fora que o crescimento da produção com a redução do Capex será afetado negativamente; e

4) Aumento de Capital – A companhia não tem muita saída. Basta saber quando realizará o aumento. O cenário piorou muito com a alta do dólar – dívida da companhia explodiu e a queda do petróleo, afetando negativamente as receitas da companhia no segmento exploração e produção da mesma. Aqui poderiam utilizar o que chegou a circular no mercado como uma dívida híbrida, com aumento da dívida, mas pagamento só daqui há alguns anos, não tendo desembolso de caixa para pagamento de juros e principal.

Riscos para a nossa tese de investimentos:

a) Queda na cotação do dólar. Não esperamos que isso ocorra, acreditamos que a tendência da moeda norte américa é de alta;

b) Elevação na cotação do petróleo – Outro ponto que não acreditamos que ocorra, como comentamos acima sobre Arábia Saudita e Opep;

 c) Mudança no modelo de partilha, que permitiria a companhia vender alguns blocos que a mesma possui. Aqui vale ressaltar que é uma melhora de curto prazo, porém, reduzirá as expectativas de crescimento de produção no médio/longo prazo; e

d) Mudança governamental – pois traria, como foi visto ontem, dia 03/12, um fluxo positivo para Brasil e nesse caso, Petrobras. Mas por fundamento, não se justifica.

Enfim, cenário extremamente desafiador para a companhia, com preços do petróleo em baixa e endividamento em elevação, não justificando exposição a mesma.

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