A idade do seu corpo não é a do RG: como medir e reduzir seu envelhecimento biológico

Pesquisas revelam que é possível viver mais — e melhor — diminuindo a sua idade biológica. Saiba como o exercício físico, a ciência e hábitos simples podem estender sua vida saudável

Paola Machado

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“Quero que a morte me encontre vivo.” A frase foi dita por um professor que conheço e admiro, já perto dos 80 anos, com uma lucidez e vitalidade impressionantes — e resume com perfeição o novo olhar que a ciência tem lançado sobre saúde e longevidade. Mais do que contar os anos vividos, a ciência atual está aprendendo a medir como estamos envelhecendo de verdade — por dentro. A novidade tem nome: relógios biológicos, que indicam a idade funcional do seu corpo e de seus órgãos, independentemente do que diz sua certidão de nascimento.

O cardiologista e geneticista Eric Topol, um dos principais especialistas em medicina digital do mundo, afirma que a idade biológica — medida por alterações epigenéticas, proteínas, inflamações e outros biomarcadores — é um dos melhores preditores de saúde e longevidade. Em entrevista à Scientific American, ele explica que ter uma idade epigenética mais jovem que a cronológica pode significar menor risco de doenças, maior autonomia e mais tempo com qualidade de vida. “Se você tem 70 anos no papel e 60 anos biologicamente, você tirou a sorte grande”, diz Topol.

A ciência dos relógios biológicos já evoluiu ao ponto de permitir a medição da idade de órgãos específicos — como cérebro, coração, fígado, rins e sistema imune — por meio de análises proteômicas e transcriptômicas. Estudos mostram que um coração com envelhecimento acelerado, por exemplo, aumenta em até 5 vezes o risco de insuficiência cardíaca. Já um sistema imunológico mais velho que o restante do corpo pode indicar vulnerabilidade a infecções, câncer e doenças crônicas relacionadas à idade.

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Mas a boa notícia é que, diferente da idade cronológica, a idade biológica pode ser modificada. E há um fator que se destaca entre todos os outros: atividade física regular. “É a única coisa que sabemos com segurança que reduz a idade biológica”, afirma Topol. Não estamos falando de performance atlética, mas de constância. Exercícios aeróbicos como caminhada, esteira ou bicicleta, realizados por 30 minutos ao dia, cinco vezes por semana, são suficientes para começar a reverter esse relógio invisível. Estudos recentes publicados no NPJ Aging e no Aging Cell demonstraram que adultos com rotina consistente de exercícios apresentaram redução significativa na idade epigenética em diversos tecidos, incluindo músculos e sistema cardiovascular.

Não por acaso, atletas como Cristiano Ronaldo, aos 39 anos, seguem competindo em alto nível, com dados de composição corporal e desempenho físico semelhantes aos de um jovem de 25. Embora modelos mais antigos, como a curva em J, tenham sugerido que o excesso de exercício poderia enfraquecer temporariamente o sistema imunológico, estudos como o de Malm (2006) propõem a chamada curva em S.

Nesse modelo mais moderno e multifatorial, o exercício físico — mesmo em altas cargas — tende a fortalecer a imunidade e melhorar marcadores de saúde, desde que esteja inserido em um estilo de vida equilibrado, com sono adequado, nutrição de qualidade e estratégias de recuperação. É exatamente isso que diferencia casos como o de Ronaldo: além da intensidade dos treinos, ele adota pilares consistentes de bem-estar — sono regular, alimentação natural, controle do estresse e uma rotina ajustada à longevidade. O exemplo reforça que a chave para uma idade biológica mais jovem não é o excesso, mas o equilíbrio contínuo entre movimento, descanso e saúde integral.

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Além do exercício, Topol propõe um protocolo chamado “Lifestyle Plus”, que une boa alimentação, sono de qualidade, conexões sociais e gestão do estresse. A abordagem vai ao encontro de estudos que mostram como o estresse crônico ativa processos inflamatórios silenciosos no corpo — um fenômeno conhecido como inflammaging — que acelera o envelhecimento celular e abre caminho para doenças como diabetes tipo 2, depressão e Alzheimer. Por isso, cuidar da mente também é parte do antídoto contra o tempo.

Curiosamente, a tecnologia que mede a idade biológica já está disponível comercialmente em alguns países, mas ainda enfrenta desafios de padronização e custo. Nos Estados Unidos, testes epigenéticos variam de US$ 20 a US$ 200, com diferentes níveis de confiabilidade. No Brasil, ainda são pouco acessíveis. Mas isso não impede que as intervenções funcionem — e possam ser implementadas agora. Um estudo publicado em 2024 no Nature Aging mostrou que uma combinação de suplementos de ômega-3, vitamina D, dieta mediterrânea e exercício físico foi capaz de rejuvenescer o DNA de idosos em até quatro meses, mesmo sem medicamentos anti-envelhecimento.

Em um cenário onde 15,6% da população brasileira tem 60 anos ou mais — o que representa cerca de 33 milhões de pessoas (IBGE, 2022/2023) — entender e aplicar essas estratégias torna-se não apenas uma escolha pessoal, mas uma política de sobrevivência. Afinal, envelhecer todos nós vamos — a questão é como. Com a idade biológica sob controle, é possível viver mais, com energia, independência e menos doenças.

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Cristiano Ronaldo pode ser um em um milhão. Mas viver com vitalidade até os 80, 90 ou mais, mantendo-se funcional, produtivo e presente, está ao alcance de qualquer pessoa que opte por hábitos consistentes. A ciência mostrou o caminho. Cabe a nós — como disse o professor — garantir que a morte nos encontre vivos.

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Paola Machado

Dra. Paola Machado é Doutora e Mestre em Ciências da Saúde pela UNIFESP, especializada em Fisiologia do Exercício, Nutrição e Fisiopatologia da Obesidade. Com mais de 2000 textos publicados em portais renomados, ela se destaca como uma referência em emagrecimento, performance pessoal e rotinas de sucesso, traduzindo conhecimento científico em práticas acessíveis e eficazes. Siga no Instagram: @machado_paola