Exercício físico e coração: 7 sinais de que seu corpo pode estar em risco durante o treino

A prática esportiva é essencial para a saúde cardiovascular, mas quando feita sem preparo, pode colocar sua vida em risco. Veja os sinais de alerta, estatísticas de evasão e como prevenir problemas

Paola Machado

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Quando o assunto é saúde do coração, o exercício físico costuma ser visto como aliado — e de fato é. Porém, sem o devido preparo, ele pode se tornar um gatilho para eventos graves, especialmente em adultos sedentários que iniciam uma rotina de treino intensa e não avaliam previamente suas condições cardíacas.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo, responsáveis por mais de 17,9 milhões de óbitos anuais. No Brasil, dados do Ministério da Saúde apontam que mais de 383 mil pessoas morreram por doenças cardíacas em 2022, número que supera todas as outras causas combinadas, incluindo cânceres e causas externas.

Embora o sedentarismo seja um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, um estudo francês publicado na revista científica Circulation demonstrou que a maioria das mortes súbitas associadas à prática esportiva ocorre justamente entre pessoas inativas que iniciam atividades físicas intensas sem preparo, acompanhamento profissional ou avaliação médica adequada. A pesquisa, conduzida entre 2005 e 2010, analisou 820 casos de morte súbita relacionadas ao exercício e concluiu que mais de 90% dos eventos ocorreram durante esportes recreativos, como futebol e corrida, praticados por adultos de meia-idade sedentários ou com histórico de pouca atividade física.

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O problema é agravado por um dado preocupante: a evasão na prática regular de atividade física é altíssima. De acordo com o Global Status Report on Physical Activity (2022) da OMS, 27% dos adultos no mundo não atingem o nível mínimo recomendado de atividade física. No Brasil, estudos como o Vigitel Brasil (2023) mostraram que cerca de 12,1% dos adultos são considerados fisicamente inativos, ou seja, não praticam atividades no lazer, no esporte, nem mesmo em deslocamentos ou tarefas domésticas.

Esse comportamento de abandono e recomeço frequente, aliado à falta de exames preventivos, pode ser perigoso — e até fatal. Abaixo, trago os 7 principais sinais de alerta de que o seu corpo pode estar sinalizando um risco cardíaco durante o exercício:

Desconforto no peito

Nem sempre um ataque cardíaco começa com dor intensa. Em muitos casos, o sintoma aparece como um peso, pressão ou desconforto leve no centro do peito. Pode irradiar para outras regiões ou desaparecer e retornar. A recomendação é clara: interrompa o exercício imediatamente se sentir esse sintoma e busque avaliação médica.

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Muitos eventos cardíacos começam de forma sutil e atípica — sem dor torácica intensa — o que pode atrasar o diagnóstico e aumentar os riscos. Estudos de revisão e ensaios populacionais mostram que entre 20% e 60% dos infartos têm sintomas atípicos, como falta de ar, sudorese, náusea, tontura ou mal-estar geral.

Falta de ar fora do padrão

A dispneia (falta de ar) intensa durante exercício vigoroso pode ser normal. No entanto, se ela surgir de forma súbita, precoce no treino ou estiver associada à dor no peito, isso deve ser encarado como um sinal de alerta cardiovascular, especialmente em adultos com mais de 40 anos.

Um estudo publicado nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia mostra que pacientes, especialmente idosos e diabéticos, frequentemente têm sintomas sem dor torácica clássica, mas com dispneia (falta de ar), sudorese ou náusea como manifestações iniciais.

Tontura ou sensação de desmaio

A tontura durante o exercício pode ser consequência de desidratação ou hipoglicemia, mas também pode indicar queda da pressão arterial ou arritmias. Um erro comum entre iniciantes é realizar a chamada manobra de Valsalva — prender a respiração durante o esforço — o que pode acentuar a queda da pressão cerebral.

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Estudos clínicos indicam que aproximadamente 30% dos indivíduos que sofrem morte súbita durante o exercício relataram sintomas prévios — como dor no peito, falta de ar, palpitações, queda de performance ou tontura — especialmente entre adultos de meia-idade e atletas competitivos. 

Arritmia ou palpitações

Sentir o coração acelerado durante o exercício é comum, mas se você perceber palpitações irregulares, batimentos fora do ritmo ou persistentes no repouso após o treino, é fundamental procurar avaliação médica. A fibrilação atrial (FA) é a arritmia cardíaca sustentada mais comum no Brasil, frequentemente subdiagnosticada, especialmente entre adultos de meia-idade.

Um estudo na comunidade brasileira demonstrou que, apesar da prevalência de FA ser semelhante à global, apenas 7,25% dos pacientes com FA estavam recebendo terapia anticoagulante em sua condição basal, aumentando consideravelmente o risco de acidente vascular cerebral (AVC) e morte súbita.

Desconforto em outras regiões do corpo

Dor irradiada para mandíbula, braço esquerdo, pescoço, costas ou estômago podem ser sintomas atípicos de infarto. Uma revisão sistemática revelou que entre 26% e 34% dos infartos se apresentam dessa forma, resultando em diagnósticos tardios. Esse quadro é ainda mais comum em mulheres, que frequentemente relatam dor no pescoço, costas ou mandíbula, náusea, tontura ou fadiga em vez da típica “aperto no peito” — o que pode atrasar o diagnóstico e agravar o prognóstico.

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Sudorese fria e náuseas

Sudorese excessiva durante o treino é esperada, mas se ela vier acompanhada de sudorese fria, náusea, sensação de desfalecimento ou pele pálida, pode indicar uma queda abrupta da perfusão sanguínea — um sinal clássico de isquemia miocárdica iminente.

Estudos mostraram que essa combinação de sudorese fria e náusea está presente em cerca de 50–60% dos casos de infarto com supradesnivelamento do segmento ST (STEMI), sendo considerada um marcador mais específico que a dor torácica clássica.

Fadiga fora do comum

Cansaço extremo, desproporcional à intensidade do treino, pode ser um alerta de comprometimento cardiovascular. Em mulheres, em particular, a fadiga inexplicada é um dos sinais iniciais mais frequentes antes de um infarto, relatado em cerca de 70% dos casos. Estudos qualitativos e revisões integrativas confirmam que essa exaustão — muitas vezes descrita como “fadiga incomum” — ocorre semanas antes do evento, sendo um indicativo precoce de isquemia miocárdica, mesmo na ausência de dor torácica típica.

Quais esportes oferecem mais risco cardíaco?

Segundo as Lausanne Recommendations, uma análise que reuniu 1.101 casos de morte súbita esportiva em atletas com menos de 35 anos entre 1966 e 2004 revelou que os esportes com maior concentração desses eventos incluíram futebol (30%), basquete (25%) e corrida (15%) — modalidades comuns entre praticantes recreativos e de fim de semana. A causa é quase sempre cardiológica, principalmente cardiomiopatias e anomalias coronarianas, destacando a importância de avaliação prévia e triagem em participantes dessas atividades.

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Prevenção: o que fazer antes de iniciar um programa de treino?

Mesmo pessoas com doenças cardíacas podem e devem se exercitar, desde que passem por avaliações médicas regulares. O ideal é realizar:

Além disso, a supervisão de um profissional de educação física é fundamental, especialmente nas primeiras semanas de treinamento, fase em que a maior parte dos eventos ocorre.

Afinal: fazer exercício faz mal para o coração?

Em nossa sociedade, onde mais de 60% dos adultos brasileiros estão acima do peso e cerca de 26,8% são obesos, conforme dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019 do IBGE, cuidar da saúde cardíaca é imperativo para garantir longevidade e produtividade. Embora o exercício físico seja um dos pilares da longevidade, praticá-lo sem planejamento adequado, sem exames prévios e sem orientação profissional pode ser tão perigoso quanto o sedentarismo, especialmente em pessoas com sobrepeso ou obesidade.

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Paola Machado

Dra. Paola Machado é Doutora e Mestre em Ciências da Saúde pela UNIFESP, especializada em Fisiologia do Exercício, Nutrição e Fisiopatologia da Obesidade. Com mais de 2000 textos publicados em portais renomados, ela se destaca como uma referência em emagrecimento, performance pessoal e rotinas de sucesso, traduzindo conhecimento científico em práticas acessíveis e eficazes. Siga no Instagram: @machado_paola