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Câmara dos Deputados em 2019: A menor renovação da história

Esperamos que a Câmara em 2019 seja um ambiente de rostos conhecidos apesar do desejo de renovação
Por  Victor Scalet
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Não existe dúvida de que o eleitor brasileiro está insatisfeito com os políticos. Corroboram esse ponto a baixa aprovação quase generalizada e a queda da confiança nas instituições. Em tal cenário existe espaço para renovação relevante das lideranças políticas do país na eleição de 2018.

Entretanto, se por um lado existe uma demanda por renovação, por outro existe a oferta dos nomes de sempre, reforçados pelas regras do jogo moldadas para a continuidade. O resultado da eleição será um embate entre essas forças.

Esse artigo propõe uma alternativa a essa análise qualitativa quase consensual para mostrar que existe uma elevada probabilidade de que a manchete dos jornais no dia 8 de outubro seja algo como: “Menor renovação da história na Câmara”.

A base do estudo é o excelente levantamento feito recentemente pelo DIAP [acesse aqui]. Entraram em contato com cada um dos deputados para descobrir suas intenções eleitorais em 2018. Até agora, dos atuais 513 deputados, apenas 33 disseram ter certeza que não disputarão a própria vaga este ano, enquanto outros 70 ainda não decidiram se concorrerão para Câmara ou tentarão outros cargos. Ou seja, entre 410 e 480 deputados buscarão a reeleição, ou de 80% a 94% do total

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Podemos fazer algumas simulações com base em resultados históricos para tentar antecipar o que deve ocorrer na eleição de 2018 com efeito na legislatura que se inicia em 2019, mas além do total de deputados que buscarão a reeleição é preciso considerar a proporção em que esses deputados terão sucesso na empreitada.

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Pelas combinações potenciais usando as máximas e mínimas históricas poderiam se reeleger entre 209 e 341 deputados, ou seja, uma renovação da Câmara de 59% e 34% respectivamente. A gama de resultados parece muito ampla, mas podemos adicionar argumentos para tentar se aproximar do provável resultado em 7 de outubro.

Primeiro o número de deputados buscando a reeleição tende a ser elevado. Um argumento é quantitativo: 78 deputados foram marcados como “Buscando a Reeleição”, mas que examinam outro caminho, apenas 10 esperam descer a escada na política (podem abrir mão da candidatura em favor de parentes ou disputar para deputado estadual) enquanto os outros esperam subir a escada. Por exemplo, 53 tem como opção o Senado e/ou 23 tem como opção concorrer a vice-governador ou governador. Alguns deputados ainda examinam mais de uma possibilidade. O ponto importante é que parte dessas intenções será frustrada, o que engrossará a fileira de candidatos à Câmara.

O outro argumento é qualitativo. O rápido avanço de investigações contra políticos em instâncias inferiores da justiça gera um incentivo para que aqueles com pendências judiciais evitem eleições majoritárias disputadas em favor da reeleição como deputado afim de manter o foro privilegiado.

Segundo, o índice de reeleição tende a ser elevado em 2018 por uma série de fatores, não podendo se descartar sequer que um novo máximo seja estabelecido.

  – Os índices máximos foram obtidos nas últimas duas eleições, portanto o viés é para cima.

  – A campanha eleitoral será mais curta e terá menos dinheiro

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  – Com financiamento público, os deputados têm a janela de troca partidária para negociar recursos para suas campanhas em detrimento de novos candidatos

   – Deputados tem o tradicional uso de verbas de gabinete e direcionamento de emendas.

A tendência, portanto, é que a renovação na Câmara elevada. Com essas hipóteses é possível esperar que cerca de 313 deputados sejam reeleitos, número bastante acima do recorde da eleição de 1998, quando 288 deputados foram reeleitos.

Esperamos que a Câmara em 2019 seja um ambiente de rostos conhecidos apesar do desejo de renovação.

Victor Scalet É analista político e estrategista macro da XP Investimentos, responsável pela pesquisa XP/Ipespe. É mestre em economia e, antes de se juntar à XP, trabalhou por sete anos na área econômica de instituições financeiras.

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