Sobre expectativas e bolhas

“Unânime”: consenso total, onde todos os membros de um grupo concordam plenamente, sem discordância. Essa é a definição da palavra. Ontem o BCE votou por um corte de 25 bps. Segundo a Lagarde a decisão foi “unânime, a não ser por um votante”. Bom, então não foi unânime, né Lagarde? 9 em cada 10 dentistas […]

Alexandre Aagesen

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“Unânime”: consenso total, onde todos os membros de um grupo concordam plenamente, sem discordância. Essa é a definição da palavra. Ontem o BCE votou por um corte de 25 bps. Segundo a Lagarde a decisão foi “unânime, a não ser por um votante”. Bom, então não foi unânime, né Lagarde? 9 em cada 10 dentistas acham que o 10º não sabe o que está fazendo. Mesmo assim não é unânime. Mas ok, sem surpresas, vamos voltar. Ontem BCE cortou 25 bps. Amplamente esperado, como já discutimos por aqui. Menos famoso, mas mais relevante se você for súdito do príncipe Hamlet, Ragnar Lothbrok ou da Rainha Margarethe II, o Banco Central Dinamarquês – que não usa o Euro – também cortou. Junte isso aos pedidos de seguro-desemprego mais altos nos EUA e entenda o otimismo dos mercados ontem. Se o Non-Farm Payroll de hoje vier abaixo de umas 160 mil vagas (mercado espera quase 190 mil), você vai ver o efeito se repetir. Atenção. Concentração. O café esfria enquanto o suor desce.

Essa semana Nvidia subiu (de novo) e passou a Apple em valor de mercado, se tornando a segunda empresa mais valiosa do mundo, valendo mais de 3 trilhões de dólares, o que é mais dinheiro do que eu tenho aqui agora na minha conta corrente (imagino que na sua também). Tenho recebido com muita frequência a pergunta se é bolha, e decidi pesquisar um pouco mais. José Scheinkman tem um paper muito interessante sobre o tema. Uma bolha, em geral, se dá ao redor de um tema, não de um único ativo. Nesse caso, seria AI, não Nvidia apenas. Outra característica é que a valorização dos ativos é descolada dos fundamentos. As ações da Nvidia subiram 3 mil por cento nos últimos 5 anos, enquanto seu lucro subiu “apenas” mil por cento. Parece esticado, claro, mas não necessariamente uma bolha. Existe de fato algo por trás. Por fim, o mais interessante, é como uma bolha estoura. Segundo Sheinkman, é pela oferta. O assunto fica tão quente que se torna um negócio vender mais daquilo. Criar uma empresa “.com” só para fazer IPO; criar uma criptomoeda só para fazer um ICO; criar um derivativo de tulipa, para aumentar a oferta. É nesse ponto que surgem ofertas descasadas do fundamento e, o excesso de oferta, estoura a bolha. Nas últimas divulgações de resultados, agora sobre o primeiro trimestre de 2024, das 500 empresas do S&P500, 205 falaram sobre AI. Nos setores de comunicações e tecnologia temos apenas cerca de 100 nomes. Aqui sim parece ter algum indício de, no mínimo, um Hype exagerado. Mas longe de ter uma conclusão, para um lado ou outro. Além disso, vale lembrar que uma bolha não acaba com a tese, acaba com algumas empresas. Seguimos tendo tulipas nas floriculturas, seguimos acompanhando o Bitcoin e seguimos entrando na internet – caso contrário você não estaria lendo isso aqui.

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Alexandre Aagesen

Com mais de 16 anos de mercado financeiro, é CFA Charterholder, CAIA Charterholder, autor do livro "Formação para Bancários", professor convidado e Investor na XP Investimentos