Até não estar

Depois de quase 10 anos de sanção ao petróleo venezuelano, os EUA retomam negociações com o governo da Venezuela para derrubar as sanções, se o Maduro prometer eleições presidenciais livres e internacionalmente monitoradas no ano que vem.
Por  Alexandre Aagesen
info_outline

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

O passado é o que fez o agora, assim como o agora faz o amanhã. Os acontecimentos não acontecem no vácuo e começar a puxar o fio de uma história nunca é tão simples, até por que o passado foi feito de um outro passado mais remoto, e assim por diante (se é que posso usar “diante” para falar do passado). Mesmo assim, é frequente ouvir que dessa vez será diferente e que o vai haver uma grande mudança estrutural. Seja “um novo normal”, uma nova moeda hegemônica, um novo regime monetário, um novo modelo de governo. Aquele que diz que “dessa vez é diferente” está sempre – sempre – errado. Até não estar.

Em 2001, os EUA invadiram o Afeganistão, com o intuito declarado de trazer uma democracia ao país, e (potencialmente) um não-declarado de trazer mais petróleo ao mercado global, já que o preço do barril tinha atingido uma cotação máxima em 10 anos (35 dólares por barril – #saudades). Essa invasão durou 20 anos, e terminou em 2021 com uma retirada de tropas que (para dizer o mínimo) poderia ter sido mais bem planejada e executada. A história não se repete, mas rima. Depois de quase 10 anos de sanção ao petróleo venezuelano, os EUA retomam negociações com o governo da Venezuela para derrubar as sanções, se o Maduro prometer eleições presidenciais livres e internacionalmente monitoradas no ano que vem. Democracia por petróleo. O contexto? Duas guerras envolvendo regiões produtoras de petróleo ao mesmo tempo. A Venezuela sancionada. Até não estar.

Vale ainda acompanhar ISIS voltando a ser uma preocupação global, depois de um atentado em Bruxelas e o efeito China-Minério de Ferro: não importa que o incentivo do Banco Popular da China tenha sido para os bancos locais terem liquidez num momento de risco de confiança. Se há incentivo governamental na China, minério de ferro sobe. Vale ainda acompanhar juros longos voltando a preocupar lá fora, mas economia real conseguindo se descolar – pelo menos no dia. Bolsas subiram e Brasil respondeu mais à uma dinâmica própria. Claro que economia americana vai seguir sendo acompanhada de perto. Claro que nossos preços vão seguir olhando para o mundo. Claro que as treasuries de 10 anos vão estar no radar de todos os investidores do mundo inteiro. Até não estar (mas por enquanto, está).

Ficou com alguma dúvida ou comentário? Me manda um e-mail aqui

Alexandre Aagesen Com mais de 15 anos de mercado financeiro, é CFA Charterholder, autor do livro "Formação para Bancários", host do podcast "Mercado Aberto" e Investor na XP Investimentos

Compartilhe

Mais de One Page

One Page

Powell e o Lobo

Mercado não acredita totalmente em Powell e dezembro começa muito positivo para ativos de risco.
One Page

O tal do Precatório

Wikipedia: "Precatórios são formalizações de requisições de pagamento de determinada quantia por beneficiário, devida pela Fazenda Pública, em face de uma condenação judicial definitiva, ou irrecorrível".