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Ensaio sobre a cegueira

O que você faria num momento de crise: tentaria desovar o máximo possível do seu estoque para gerar caixa ou morreria abraçado com ele? Acredito que qualquer ser vivo com no mínimo dois neurônio optaria pela primeira opção, certo? Não na visão das montadoras de veículos...
Por  Raphael Galante
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Caro leitor, digníssima leitora: neste momento de pandemia-confinamento, o estagiário que vos escreve teve tempo para reler um clássico do Zé Saramago: Ensaio Sobre A Cegueira.

Se você já leu me entenderá melhor. Se não leu, seu cerne central é:

“…A obra narra a história da epidemia de cegueira branca que se espalha por uma cidade, causando um grande colapso na vida das pessoas e abalando as estruturas sociais…”

O livro só veio a calhar devido ao momento em que vivemos… afinal de contas: a vida imita a arte!

Mas, o que isso tem a ver com o setor automotivo? Bom… semana passada, recebemos um estudo da Cox Automotive. Who?

A Cox Automotive é um dos gigantes da indústria automotiva; podem conhece-los melhor aqui ou, para quem é da “velha guarda”, agora são os donos da Tabela Molicar. Aqui (para o Brasil), trouxeram toda a sistemática da KKB (Kelly Blue Book), onde, lá nos States, é uma referência na precificação dos carros há quase um século. Mas, vamos lá.

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Todos aqui estamos bem cientes que a situação econômica é mais do que crítica. Ou, na visão do ex-presidente do BC, Armínio Fraga, estamos em depressão e, aí, haja tarja preta para resolver o nosso problema.

Num momento de depressão econômica, um dos pontos chave para qualquer negócio é gerar caixa – é necessário ter liquidez para poder sobreviver.

Por exemplo, imagine que você – caro leitor – tivesse uma loja que vende celulares (ou qualquer outra coisa) e que ela estivesse mega-estocada de aparelhos. O que você faria num momento da mais aguda crise econômica: tentaria desovar o máximo possível do seu estoque para gerar caixa ou morreria abraçado com ele?

Eu acredito que qualquer ser vivo com no mínimo dois neurônios optaria pela primeira opção. Certo? Depende….

Não na visão das montadoras de veículos. E, aqui, entra a obra do Zé Saramago.

As montadoras foram contaminadas pela epidemia de cegueira branca. O que quase todas elas fizeram no mês de maio?

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Segundo o estudo da KKB, o preço dos veículos novos aumentou em média 2,25%, oscilando entre montadoras que reduziram o preço dos seus veículos (só uma – Audi – no meio de 21 marcas), até as que aumentaram em até quase 10% (BMW).

Quer mais?

O preço dos carros seminovos com até dois anos de uso caiu 0,66%. E dos carros usados (de 3 até 10 anos de uso), reduziu por volta de 2,24%.

E você sabe qual é a principal moeda na hora de comprar um carro novo? É o carro usado!

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Fazendo aquela conta de padoca: o meu carro desvalorizou por volta de 2,25%; o preço dos carros novos aumentou por volta de 2,25%, logo, para comprar um carro novo, terei um custo adicional de quase 5%, num momento onde a grande maioria tá mais liso do que quiabo.

Isso sem levar em consideração, como falamos no último post, que o crédito para veículos deu uma baita piorada.

Logicamente que os “jênios” das montadoras devem ter uma explicação muito mais racional do que a do estagiário, afinal de contas ele não possui dois neurônios… só um (e ainda por cima, meio capenga).

Mas eu só estou aguardando o momento em que as locadoras começarem (mais aceleradamente) a queimar os seus veículos e desvalorizar ainda mais o preço dos carros usados, para ver como elas irão se virar.

E aí, o que achou? Dúvidas, me manda um e-mail aqui. Ou me segue lá no Facebook, Instagram, Linkedin e Twitter.

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Raphael Galante Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva

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