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Com a morte de CAOA, acaba uma era no setor automotivo brasileiro

Seu grande mérito foi ter sido um executivo visionário, quase um sonhador, que acreditava no mercado automotivo e fez do seu grupo o maior do setor
Por  Raphael Galante
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Caros leitores, digníssimas leitoras: neste sábado (14), o setor automotivo foi pego de surpresa com o falecimento do Dr. Carlos Alberto “Midas” de Oliveira Andrade (CAOA). Com isso, praticamente encerra-se uma era no segmento.

Mas que “era” foi essa?

Foi um tempo em que executivos do setor faziam acontecer! Exemplos são vários, como o Pinheiro Neto da GM e o Maciel da Ford, que davam a cara à tapa (em comerciais na TV, por exemplo) e seguraram um rojão violento no mais complicado momento da indústria automotiva (naquele período “tranquilo” entre a crise asiáticas, a crise russa e a maxidesvalorização do Real – para o leitor se situar).

Tivemos ainda o Belini, do grupo Fiat, que deixou para a empresa uma legitima “Casa da Moeda” com a operação da Jeep lá em Goiana (PE). No caso do Belini, não duvido que lá na matriz exista um busto (se não for uma estátua) em sua homenagem!

De uma geração um pouquinho mais nova, temos o Sérgio Habib – que fez (assim como o CAOA, mas em menor escala) a marca Citroen no Brasil. Mas aí os franceses pegaram a marca de volta e deu no que deu. E o Sérgio, assim como Ícaro, viu seu sonho derreter, com a paulada que a Dilma deu na JAC, com o infame INOVAR-AUTO (acredito que à época, era mais fácil estocar vento do que provar a legalidade desse programa).

Outro que se destacou foi o Eduardo Souza Ramos (Mitsubishi-Suzuki). Ele conseguiu fazer a marca dos três diamantes um ícone no mercado brasileiro. E, acredito que seja só por aqui! Além disso, ele foi um mecenas nos esportes náuticos e ralis com a criação do Rali dos Sertões.

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Na verdade, lá no início de tudo, em meados da década de 1970-80, quando o Eduardo e o CAOA se digladiavam na associação dos concessionários Ford (a origem dos dois é a mesma), estava se formando o alter ego de cada um. Eles são um bom exemplo do que é uma antítese!

Essa leva toda é como a nossa seleção de 1970! Por mais que falei aqui de Clodoados, Jairzinhos e Rivelinos, o cara que fez a diferença foi o Pelé – nessa nossa analogia, estamos falando do CAOA.

Todos os mencionados aqui tiveram destaque no setor. Mas nada se compara com a revolução que foi implementada pelo CAOA. Se a Renault, com seus 7% de mercado é o que é, deve-se em boa parte por tudo que ele fez quando trouxe e operou com a marca entre 1992 e 1997.

A Hyundai, com os seus 10% de mercado, só é o que é por causa dele. E a recém-nascida CAOA-Chery, já com quase 2% de mercado, foi o último “toque de Midas” dele.

Seu grande mérito foi ter sido o executivo brasileiro mais visionário, quase um sonhador, que acreditava no mercado automotivo e fez do seu grupo o maior do setor.

Ele promoveu mudanças que o setor há́ muito precisava. Desmistificou o “ranço” do carro coreano (os exemplos anteriores eram Daewoo e Daihatsu) e do carro chinês; gerou mais competitividade no mercado (acabou-se o conceito das quatro grandes – GM, VW, Fiat e Ford); além de promover uma incrível gestão de custos (as montadoras tradicionais são como “elefantes obesos”; já a dele era mais no conceito “bodybuilder”), mas nunca deixando de lado o foco na qualidade e nos resultados.

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Ele era aquele empresário raiz, num mercado cada vez mais Nutella.

Não tinha medo de fazer um anúncio na televisão dizendo que o carro dele É O MELHOR DO MUNDO. Ou falar claramente que é melhor que um Volkswagen, Audi, Mercedes e afins…

Apesar de ele ter construído/possuído um pequeno império e ter preocupações infinitamente mais complexas, ele era do tipo que queria ver/saber como seria a chamada promocional (preço, oferta, taxas) dos veículos que seriam divulgados no final de semana.

Assim como qualquer ser humano, ele teve vários acertos e incontáveis erros! Aqueles erros “crássicos” como uma dívida bilionária junto ao Banco Santos, por exemplo. Ou então ter o seu nome relacionado aos maiores escândalos de corrupção da história moderna da República tupiniquim, como as operações Acrônimo, Lava-Jato e Zelotes. E agora, o resto de suas histórias viraram causos… principalmente na forma – um tanto quanto heterodoxa – de se fazer negócios com ele.

E o que será do grupo daqui para frente?

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Bom, aquele slogan da Band News FM, “Em vinte minutos tudo pode mudar”, servia direitinho para o Caoa. Com a sua saída, deverá haver um pouco mais de previsibilidade. No grupo, já existem pessoas extremamente qualificadas para tocar o barco.

O grande ponto é que os “novos” executivos do setor automotivo, da leva posterior a que mencionamos acima, são mais naquele conceito de “carreiristas”. Eles fazem aquele arroz-com-feijão campeão – mas é só.

Imaginar novas marcas sendo trazidas por visionários é meio que difícil agora. Basta ver que o nome CAOA sempre estava ligado a chegada e/ou manutenção de marcas por aqui.

Enfim, é uma era de visionários que se encerra.

Meus sentimentos aos seus familiares e a todos do grupo CAOA.

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Raphael Galante Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva

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