SXSW 2025: Amy Webb alerta para a era da inteligência viva e suas implicações irreversíveis

Futurista argumenta que o mundo entrou em uma nova era tecnológica, onde regras tradicionais da sociedade, economia e ciência estão sendo reescritas

Rodrigo Lóssio

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No seu sempre aguardado painel do SXSW 2025, a futurista Amy Webb apresentou previsões sobre as principais tendências tecnológicas e os impactos da convergência entre inteligência artificial, biotecnologia e sensores avançados. Em uma palestra repleta de provocações, Webb argumentou que o mundo entrou em uma nova era tecnológica, a qual chamou de “o além”, onde as regras tradicionais da sociedade, economia e ciência estão sendo reescritas por avanços sem precedentes.

“Há semanas em que décadas acontecem”, citou Webb, evocando a velocidade das transformações atuais. Entre os principais pontos, destacou a ascensão da inteligência viva, sistemas capazes de sentir, aprender, adaptar-se e evoluir, combinando IA, materiais programáveis e biotecnologia. O impacto desses avanços, segundo a futurista, não será apenas tecnológico, mas profundamente social, político e econômico.

Inteligência artificial sem humanos no loop

A palestra abordou o progresso dos sistemas multiagentes (MAS), modelos de IA que funcionam de forma autônoma, sem necessidade de supervisão humana. Webb destacou experimentos recentes, nos quais agentes de IA foram capazes de cooperar, criar memes, evangelizar novas religiões e até espalhar desinformação por conta própria. “Eles são como nós. Alguns são bons, outros, nem tanto”, alertou.

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Outro avanço crítico apresentado foi a substituição da linguagem humana por protocolos matemáticos, permitindo que máquinas conversem entre si de forma até 100 vezes mais rápida. “O que acontece quando as máquinas não precisam mais de nós para se comunicar?”, questionou Webb, apontando para um futuro onde IA pode operar de maneira autônoma em larga escala.

Além disso, a futurista ressaltou a iminente fusão entre IA e mundo físico. Sensores avançados já permitem que dados sejam ingeridos diretamente de organismos vivos, incluindo seres humanos, reduzindo a necessidade de entradas manuais. “No além, a IA não precisa de comandos. Ela simplesmente percebe e responde ao ambiente”, afirmou.

Biotecnologia e materiais programáveis: o corpo humano como nova fronteira

Webb apresentou avanços disruptivos no campo da biotecnologia generativa, com a capacidade de criar materiais vivos e modificar organismos. Entre os exemplos, destacou o uso de proteínas artificiais, a criação de dentes humanos dentro de vacas e a engenharia de materiais programáveis que desafiam as leis da física.

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O conceito de inteligência organoide, com computadores baseados em células cerebrais humanas, também foi debatido. “As regras da computação foram quebradas. Pela primeira vez, temos máquinas que literalmente pensam”, afirmou Webb. Empresas já lançaram os primeiros biocomputadores comerciais, misturando neurônios vivos e chips de silício.

A palestra também abordou os impactos na saúde e no corpo humano. “Se já criamos próteses que podem ser controladas pelo pensamento, o que nos impede de projetar corpos com habilidades completamente novas?”, indagou Webb, mencionando pesquisas sobre tentáculos robóticos controlados pelo cérebro e implantes neurais para restaurar a comunicação em pessoas paralisadas.

Robôs bio-híbridos e o embrião da AGI

No campo da robótica, Webb ressaltou que, apesar das grandes expectativas nas últimas décadas, os robôs ainda enfrentam dificuldades para operar no mundo real. “Eles se confundem com o caos”, explicou. No entanto, com o avanço de sistemas multiagentes, IA física e sensores embutidos no corpo humano, a situação está mudando rapidamente.

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A futurista destacou pesquisas recentes, como robôs híbridos feitos de fungos e máquinas, além de modelos desenvolvidos por gigantes da tecnologia que replicam a fisiologia e os movimentos humanos com precisão. Segundo Webb, esses avanços são um passo essencial para alcançar a inteligência artificial geral (AGI), pois “a IA precisa de um corpo para alcançar seu potencial máximo”.

“A AGI não vai emergir em um laboratório, mas no momento em que conectarmos todas essas peças — IA, sensores e biologia”, afirmou. Empresas como Nvidia (NVDC34), Google (GOGL34) e Apple (AAPL34) já estão desenvolvendo hardware especializado para robôs, o que pode acelerar essa transição nos próximos cinco anos.

Cenários para 2035: distopia ou progresso?

Para ilustrar os riscos e oportunidades, Webb apresentou dois cenários para 2035. No primeiro, uma tecnologia de controle sonoro utilizada para melhorar ambientes urbanos acaba sendo apropriada por governos autoritários para manipular emoções e reprimir protestos silenciosamente. “O futuro pode não chegar como um golpe, mas como uma sensação sutil de resignação”, alertou.

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No segundo cenário, empresas privadas assumem o controle da regulação climática, desenvolvendo materiais e organismos bioengenheirados para estabilizar o meio ambiente. “Quando o governo falhou, o mercado assumiu. Mas qual é o verdadeiro preço de um planeta gerenciado por corporações?”, provocou.

Reflexão final: entre a inovação e a ética

Webb encerrou sua palestra com um apelo para que líderes, empresas e governos adotem uma abordagem estratégica diante dessa revolução tecnológica. “A inteligência viva vai definir o futuro da civilização humana. As decisões que tomarmos nos próximos dez anos serão determinantes para nossa sobrevivência”, afirmou.

“Não podemos apenas reagir. Precisamos planejar. E, acima de tudo, precisamos nos perguntar: quem está realmente no controle do futuro que estamos construindo?”

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A palestra de Amy Webb no SXSW 2025 reforçou que a tecnologia está avançando a um ritmo sem precedentes, e as escolhas feitas agora determinarão se essa nova era será marcada por inovação responsável ou por um colapso estratégico.


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Rodrigo Lóssio

Jornalista, consultor em comunicação para empresas de tecnologia e entidades de inovação, CEO da Dialetto.