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Crise energética da China é mais uma turbulência global e terá impactos até no agronegócio brasileiro

Aumento nos preços de insumos para defensivos agrícolas encarecerá produção agrícola e terá reflexo na inflação
Por  Roberto Dumas Damas -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Era só o que faltava. Nem de longe chega a ser o arrebatamento mundial e nem o ecoar das 7 trombetas dos 7 anjos do apocalipse, mas que causa uma turbulência mundial, isso causa.

Eis que depois do quase desmoronamento da gigante chinesa Evergrande se transformar em uma eventual demolição controlada, a crise energética na China parece piorar ainda mais os prognósticos para a recuperação da economia mundial, em especial a do Brasil, país que exporta 30% de tudo que mandamos para o exterior, para a China.

Mas o que será que esta levando a essa “crise energética”? Talvez um pouco de tudo, salpicado por narrativas difusas e desencontradas, que convém mostrar por um pouco o pano de fundo.

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De acordo com o 14º Plano Quinquenal do Congresso Nacional do Povo, em 2025 a China deverá diminuir o consumo de energia por unidade de PIB em 13,5% e emissões de carbono por unidade de PIB em 18% (comparado com os níveis de 2020).

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Em princípio, aparentemente o Partido Comunista Chinês busca utilizar essa narrativa para explicar o fechamento compulsório de várias termelétricas movidas a carvão (principal fonte de energia na China), como forma de atender os objetivos estabelecidos no 14º Plano Quinquenal.

Os cortes de produção de energia nas térmicas foram combinados com uma demanda maior por energia por causa da onda de calor e consumo de eletricidade na província de Guangdong, que chegou a subir 17% na comparação anual de janeiro a agosto deste ano.

Junte-se a isso uma menor produção de energia eólica e maior demanda por bens industrias e intermediários e nota-se o imbróglio que a China esta causando na economia mundial. Poder-se-ia afirmar que o interesse de Beijing em controlar as emissões de carbono, como parte de seu plano quinquenal estaria completamente por trás da crise energética, principalmente pelo fato de o interesse do país em sediar as olimpíadas de inverno em 2022, mostrando um país menos poluído. Na medida do possível.

Por trás desse interesse legítimo em endereçar fatores que impactem as mudanças climáticas, é fato que a China emitiu 10 giga toneladas (“gigatons”) de CO2 por ano em 2020, comparado com 5 gigatons e 3 gigatons emitidos pelos EUA e pela índia, respectivamente.

Atualmente, a China passa por um período de falta de matéria prima (carvão) para fazer rodas suas térmicas. Aproximadamente 90% do carvão é extraído localmente, mas consumo de energia elétrica até agosto foi 14% maior do que o ano passado e a produção de carvão subiu apenas 4,4%. A resposta para esse desbalanceamento entre oferta e demanda seria mais importações. Pois é. Ai que a coisa começa a entrar no tabuleiro geopolítico.

Em 2019, a Austrália exportou US$51 bilhões de briquetes de carvão, sendo a China e Taiwan receptores de quase 25% desse total. O fato é que depois que a Austrália levantou suspeitas sobre a origem do vírus Covid-19, a China continental impôs sanções contra seu principal exportador de carvão da Ásia e da Oceania.

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Some-se a isso o pacto AUKUS (Austrália, Reino Unido e Estados Unidos, na sigla em inglês) anunciado conjuntamente pelos três países para enfrentar a China na região do Indo-Pacífico, que visa reforçar a cooperação trilateral em tecnologias avançadas como a inteligência artificial, sistemas submarinos nucleares e vigilância em longa distância, e que acabou por azedar mais ainda as relações entre Beijing e Camberra, levando a China a estressar mais as relações comerciais com seu “quase vizinho”.

Mas onde o Brasil seria impactado nessa crise energética? Em vários pontos:

1. Menor apetite de risco dado uma maior turbulência mundial e menor crescimento econômico faz os investidores fugirem de países em desenvolvimento, principalmente aqueles que tem uma relação comercial bastante estreita com a China, como é o caso do Brasil;

2. Dada a crise energética da China a produção de insumos para defensivos agrícolas, como o glifosato, herbicida mais usado no Brasil, está 23% mais cara que em 2020 e deve subir mais, afetando o custo dos produtores agrícolas no país e incitando ainda mais a inflação de alimentos. Segundo dados da ComexStat, no ano de 2020, o Brasil importou 134 mil toneladas de defensivos agrícolas da China;

3. Além dos defensivos agrícolas, aparentemente por intermédio do National Development and Reform Commission (NDRC), o governo chinês parece lançar dúvidas sobre a continuidade das exportações de fertilizantes fosfatados, como forma de suprir o mercado interno. Não podemos esquecer que a China, além de ser o maior produtor de fertilizantes fosfatados também é o maior consumidor. Isso sem falar dos fertilizantes nitrogenados, que são derivados da amônia, obtida a partir da transformação química do gás natural, o qual subiu mais de 550% em 12 meses. Para piorar, o preço da ureia subiu US$ 60 em um dia devido aos estragos do furacão IDA, o que levou a um aumento do custo do frete de barcaças de ureia, atingindo o máximo em nove anos;

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4. Se juntarmos a essa crise energética o episódio da Evergrande, gigante do setor imobiliário, segmento responsável por 26% do PIB chinês, e por conta do qual se espera uma óbvia redução das atividades nesse segmento, não apenas o setor agro pode sofrer impactos com os últimos acontecimentos na China, mas também o setor de commodities metálicas, como já estamos observando no preço das mesmas e das empresas mineradoras e siderúrgicas.

Roberto Dumas Damas Roberto Dumas Damas é estrategista-chefe do Voiter e representou o Itaú BBA em Xangai de 2007 a 2011. Em 2017, atuou no banco dos BRICs em Xangai. Dumas é mestre em Economia pela Universidade de Birmingham na Inglaterra, mestre em Economia Chinesa pela Universidade de Fudan (China), além de professor de MBA e pós graduação do Insper e da FIA e professor convidado da China Europe International Business School (CEIBS) e Fudan University (China)

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