Candidatos apresentam estratégias iniciais em São Paulo, mas falham na agenda propositiva

"Empate" no primeiro debate para a prefeitura de São Paulo ajuda Ricardo Nunes e Guilherme Boulos, que polarizam o pleito

Carlos Eduardo Borenstein

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Debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo, realizado pela TV Bandeirantes (Foto: Reprodução YouTube)
Debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo, realizado pela TV Bandeirantes (Foto: Reprodução YouTube)

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O debate realizado pela TV Bandeirantes em São Paulo (SP) evidenciou as estratégias iniciais dos principais candidatos. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) foi o alvo principal dos adversários – o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL); o apresentador José Luiz Datena (PSDB); o empresário Pablo Marçal (PRTB); e a deputada federal Tabata Amaral (PSB).

Ricardo Nunes procurou fugir dos ataques e provocações de seus concorrentes, priorizando a prestação de contas de sua administração. Assumiu a condição de candidato da continuidade. Destacou os investimentos em saúde, segurança pública, e as ações da Prefeitura do centro. Cobrou propostas de Pablo Marçal e falou em instabilidade provocada por invasões de propriedade, buscando atingir Guilherme Boulos, que é ligado ao Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST).

Guilherme Boulos se postou como o candidato da mudança. Afirmou que a cidade está abandonada. Criticou a situação da saúde. Prometeu um novo centro. Lembrou o aumento da população de rua, da violência e a situação do transporte público. Mencionou investigações que atingem pessoas supostamente próximas do prefeito e atacou a gestão de Ricardo Nunes. Bastante atacado por Pablo Marçal, evitou entrar no bate-boca com o candidato do PRTB, assim como responder aos ataques sobre o apoio do PSOL a Nicolás Maduro na Venezuela.

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Pablo Marçal explorou a narrativa da antipolítica. Criou muita polêmica e frases de efeito. Porém, exagerou nos ataques pessoais. Criticou a administração de Ricardo Nunes, afirmando que a gestão municipal é uma bagunça. Procurou rotular Boulos e Tabata como “extrema-esquerda”. E defendeu o empreendedorismo.

José Luiz Datena seguiu fiel a seu estilo de apresentador, realizando fortes cobranças às autoridades. Criticou a polarização, tentando se apresentar como terceira via. Seu alvo principal foi Ricardo Nunes. Atacou o crime organizado, a situação do transporte público, da segurança pública e da saúde. Outro alvo de Datena foi Boulos e sua relação com o presidente Lula (PT).

Tabata Amaral também escolheu Ricardo Nunes como alvo. Declarou que gostaria de morar na cidade que o prefeito descreve. Lembrou seu passado na periferia. Procurou apresentar-se como uma candidata que dialoga com as diferentes forças políticas. Defendeu a construção de um parque tecnológico do centro. Rebateu os ataques de Marçal lembrando investigações que pesam contra o candidato do PRTB.

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Embora o debate seja um evento importante da campanha, pois é o momento em que ocorre o confronto direto entre os candidatos, não tivemos um vencedor. Para vencer um debate, o candidato precisa conseguir impor sua agenda de forma contundente sobre seus adversários, o que não ocorreu. Por outro lado, para perder um debate, o candidato precisa ter um desempenho desastroso, o que também não houve.

O “empate” no debate da TV Bandeirantes ajuda Ricardo Nunes e Guilherme Boulos, que polarizam o pleito neste momento, conforme mostraram as últimas pesquisas.

Ricardo Nunes e Guilherme Boulos são os candidatos que terão à sua disposição importantes instrumentos de campanha. Ancorado em uma aliança de 12 partidos MDB, PL, PP, Republicanos, UB, PSD, SD, Agir, Avante, PRD, Mobiliza, Podemos), o prefeito terá o maior tempo de TV, além de mais de 500 vereadores divulgando seu nome pela cidade.

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Apoiado por 8 legendas (PT, PSOL, Rede, PCdoB, PV, PDT, PMB, PCB), Boulos contará com um palanque eletrônico inferior ao de seu principal adversário – assim como um número menor de candidatos a vereador (170 no total) – dando suporte a seu projeto. Candidatos por chapas-puras, Marçal, Tabata e Datena terão poucos segundos de tempo de TV, o que representa uma desvantagem na comparação com Nunes e Boulos.

Apesar da eleição em São Paulo ter uma repercussão nacional, consequência do envolvimento do presidente Lula (PT), do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) no pleito, acabou prevalecendo no debate a discussão de locais, principalmente a situação da saúde, emprego, segurança pública, moradia e do transporte público.

No primeiro debate da campanha, os candidatos tiveram dificuldades em apresentar uma agenda de futuro para São Paulo, procurando reforçar suas estratégias iniciais de campanha. A partir de agora, os candidatos terão o desafio de serem mais propositivos. É a construção desta agenda propositiva – e não os ataques pessoais, os vínculos com Lula, Bolsonaro ou o impasse na Venezuela – que seduzirá a fatia do mercado eleitoral que possui uma relação esporádica com a política, mas é decisiva nos processos eleitorais.

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Carlos Eduardo Borenstein

Cientista político formado pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA-RS). É analista político da Arko Advice Pesquisas desde 2006 e consultor político e de marketing eleitoral pela Associação Brasileira dos Consultores Políticos (ABCOP). Possui MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais pela Universidade Cândido Mendes.