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Olimpíadas de Tóquio: uma grande competição em que o Brasil foi muito bem

Que Paris-2024 seja ainda mais interessante, de preferência com o público nas arquibancadas e o Brasil aumentando a quantidade e a variedade de medalhas
Por  Cesar Grafietti -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

E lá se foram os Jogos Olímpicos de Tóquio.

Essas foram as Olimpíadas com o maior número de países ocupando espaços nos pódios. Foram 89 países com medalhas, enquanto no Rio-2016 e em Londres-2012 foram 86, em Pequim-2008 foram 87 e Atenas-2004 teve 74 países com alguma conquista olímpica.

Muitas histórias bacanas, de superação. Ser atleta olímpico não é fácil em nenhum lugar do mundo. A atividade esportiva profissional é difícil para a grade maioria. A carreira é curta e, geralmente, mal remunerada – e há o enorme desafio de como seguir a vida após a carreira.

No Brasil, temos o costume de acreditar que só nosso país trata mal os atletas. Na primeira coluna desta sequência olímpica, citei que 60% dos atletas americanos não possuem agentes ou patrocinadores e o esporte lhes garante menos de US$ 25 mil anuais, fazendo com que eles precisem de “segundos-empregos” para se sustentarem.

Um dos medalhistas de ouro no Taekwondo, o italiano Vito dell’Aquila, é um policial militar (“carabinieri”) que treina nas horas de folga. A austríaca Anna Kiesenhofer, medalha de ouro no Ciclismo de Estrada, é amadora: treina por conta própria, sem apoio, e o trabalho que a sustenta é o de pesquisa na Universidade Politécnica de Lausanne, na Suíça, pois ela é matemática. Medalhista de ouro no boxe, vencendo nossa Bia Ferreira, a irlandesa Kellie Anne Harrington trabalha como faxineira num hospital em Dublin.

São inúmeras as histórias de atletas que possuem dois empregos, cuja parte importante do seu sustento vem de outros empregos. Muitos contam com apoio estatal, especialmente das Forças Armadas. A equipe italiana de Nado Sincronizado é toda formada por atletas-militares da Marinha. O esporte olímpico depende fortemente de apoio estatal para se desenvolver.

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Mas uma coisa é o desejo e outra é a realidade. O desejo universal é de que a iniciativa privada apoie o esporte olímpico de alto rendimento, deixando o Estado cuidar do acesso e da captação, a partir de ações estruturadas e capilares de estados e municípios. É muito bonito falar, mas a prática mundial indica que esporte que não dá retorno não é alvo de investimentos maciços.

No Brasil, a iniciativa privada ainda utiliza bastante do instrumento de lei de incentivo fiscal para aportar recursos no esporte. O que não deixa de ser uma forma de dinheiro público.

Independente desse cenário, que pode mudar, nosso desempenho nos Jogos Olímpicos de Tóquio pode ser considerado bom. Trata-se do nosso maior número de conquistas, e repetimos o desempenho na diversidade de modalidades premiadas que havia sido alcançado na Rio-2016: 12 modalidades.

No quadro abaixo, temos alguns dados comparativos entre Londres-2012, Rio-2016 e Tóquio-2020. Trouxe também os dados de Atlanta-1996 como referência.

Note que no ciclo olímpico da Rio-2016, que vai de uma competição anterior a uma posterior aos Jogos disputados no Brasil, tivemos um salto na quantidade de medalhes, de 17 para 21. Salto importante também nas medalhas de ouro, de três para sete.

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Se compararmos a quantidade de medalhas com o tamanho da delegação, em Tóquio atingimos nosso melhor desempenho, com sete medalhas para cada 100 atletas brasileiros, naturalmente acima da Rio-2016 por conta da maior quantidade de atletas, mas acima de competições anteriores.

A comparação com Atlanta é importante por um item: assim como Surfe e Skate estrearam em Tóquio, nas Olimpíadas de Atlanta tivemos a estreia do Vôlei de Praia.

Naquele momento, a modalidade foi responsável porduas2 medalhas (ou 13% do total), enquanto Surfe e Skate conquistaram quatro medalhas, ou 19% do total.

Não é uma diferença gritante. Os esportes são tão relevantes que permanecerão para os jogos de Paris-2024 e tendem a seguir adiante. Assim como foi com o Vôlei de Praia, que inclusive teve desempenho bastante fraco em Tóquio.

Abrindo um pouco mais o histórico de medalhas brasileiras, temos o seguinte:

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Note que há esportes que tradicionalmente contribuem com medalhas, casos do Judô, Vela, Vôlei e Futebol, enquanto outros têm desempenho mais destacado nas últimas competições, como Ginástica, Boxe, Canoagem e Maratona Aquática.

Natação segue bem, e o Vôlei de Praia foi a modalidade que mais sofreu em termos de redução de medalhas.

Mas veja que há um grupo bastante errático, e que muitas vezes depende de esforço e talento individual, como o Pentatlo, o Tiro e o Taekwondo, ou mesmo ficaram para trás em desenvolvimento, casos do Basquete e do Hipismo. O próprio Tênis, especialmente no caso das duplas femininas que conquistaram o bronze agora, é um esporte que sofre para se firmar no Brasil.

O fato é que precisamos dar sequência nos investimentos nos esportes em que aparentemente ganhamos alguma estrutura e tração, de forma que a equipe de boxe não seja extinta, nem que a canoagem dependa exclusivamente de Isaquias.

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Outra forma de avaliarmos o desempenho do Brasil nos Jogos Olímpicos é excluindo do quadro de medalhas as competições que têm estrutura profissional muito clara, casos da Vela, Vôlei, Vôlei de Praia, Futebol, Surf e Skate.

Ainda assim o número de medalhas em Tóquio-2020 seria de 14, mesma quantidade da Rio-2016, e acima das 11 de Londres e oito de Atlanta. Ou seja, estamos sendo capazes de evoluir.

É o ideal? Não parece, se considerarmos a população brasileira, nossa enorme diversidade e o tamanho da nossa economia.

Ainda precisamos de modelos de desenvolvimento mais profissionais, devemos aumentar o apoio da iniciativa privada, que deveria cuidar da fase competitiva e da formação para o pós-carreira. Mas negar a evolução é uma espécie de terraplanismo.

Para terminar, alguns dados dos maiores medalhistas dessas competições utilizadas na análise brasileira:

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Note que nas últimas três Olimpíadas os quatro países com mais medalhas se repetem. Mas alguns dados chamam a atenção:

i) Os EUA tiveram forte redução de ouros em Tóquio-2020, algo que, de alguma forma, pode ser associado à ausência de fenômenos como Phelps e Biles;
ii) A Rússia se manteve estável em ouros, mas a China cresceu bastante, mostrando a relevância do “modelo político e de Estado” na gestão do esporte;
iii) O Reino Unido reduziu a quantidade de ouros, mas manteve seu desempenho geral, mostrando que os efeitos de Londres-2012 parecem sustentáveis.

Assim como a Copa do Mundo de Futebol deixou de ser uma surpresa, um torneio em que as seleções apresentam novidades táticas, os atletas se encontravam para medir forças, e isso foi substituído por competições mais fortes de clubes, centralização na Europa e mais competições entre seleções, os Jogos Olímpicos também deixaram de ser um evento com surpresas.

Todos se conhecem, todos se enfrentam, em ligas nacionais, torneios continentais, campeonatos mundiais. Se continua sendo “A” competição a ser vencida, ao mesmo tempo o fator surpresa ocorrerá apenas por acaso, como o ouro conquistado pelo italiano Marcell Jacobs nos 100 metros rasos.

O bacana é que os Jogos Olímpicos seguem sendo relevantes, um grande evento mundial do esporte. A Olimpíada aprendeu a necessidade de rejuvenescer e parece seguir um caminho seguro em relação ao futuro.

Que Paris-2024 seja ainda mais interessante, de preferência com o público nas arquibancadas e o Brasil aumentando a quantidade e a variedade de medalhas.

P.S.: Na última tabela, a Alemanha, Coreia do Sul e Japão são mencionados por comporem o bloco de cinco primeiros colocados nas competições.

Cesar Grafietti Economista, especialista em Banking e Gestão & Finanças do Esporte. 27 anos de mercado financeiro analisando o dia-a-dia da economia real. Twitter: @cesargrafietti

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