Um setor em constante mudança

O aumento da produtividade e o desenvolvimento econômico têm produzido o efeito secundário de impor a capacitação, treinamento e melhoria do nível cultural dos trabalhadores, alavancando, como um êmbolo, os contingentes menos qualificados para padrões superiores de educação e renda.
Por  Rubens Menin
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A evolução tecnológica nem sempre tem sido bem compreendida, principalmente entre nós. É muito repetida a queixa de que a rápida automação de processos, a mecanização de tarefas e o uso intensivo dos recursos de informática estariam engolindo postos de trabalho ou comprometendo a empregabilidade. Essa é uma visão imprecisa de quem não enxerga o verdadeiro alcance do progresso e seu impacto positivo na renda e na qualidade de vida de todas as pessoas. Na prática, qualquer país, setor econômico ou região que avança no uso de tecnologias mais modernas e atualizadas experimenta um surto positivo de prosperidade. Desta vez, quero abordar esse equívoco de interpretação que apareceu novamente após a divulgação, na semana passada, dos dados do CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, apurados no mês de outubro.

Com efeito, essa ferramenta do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) apontou o pior resultado para a criação de empregos formais no país, em um mês de outubro, desde 1999 (1.748.656 demissões contra 1.718.373 admissões, deixando um saldo líquido de 30.283 postos de trabalho fechados).Esse péssimo resultado, que corresponde a cerca de 0,07% do estoque de vagas ocupadas no mês anterior (setembro de 2014), decorreu, principalmente, da diminuição de postos de trabalho na Construção Civil (33.556), na Agricultura (19.624) e em vários ramos industriais, baixas que não puderam ser totalmene compensadas pelo crescimento das contratações no setor público, no ramo de serviços e no comércio. Essa é uma questão complexa e que precisa ser revertida, mas decorre antes do baixo crescimento e das deficiências estruturais da nossa economia do que do avanço tecnológico em si, visto equivocadamente como o papão de empregos.

Sobre isso, é importante observar que a prosperidade das nações (de todas elas, assim como a nossa própria) decorre do aumento geral de produtividade obtido com a incorporação de novas tecnologias e com a conseqüente substituição da mão de obra menos qualificada por capital fixo (máquinas, equipamentos e processos automatizados). Vimos isso nos setores industriais e de serviços, com a incorporação acelerada de tecnologia da informação a partir da década de 1970. Novamente o processo se repetiu, atingindo, desta vez a agricultura, a partir da década de 1990, quando alcançamos índices superiores de produtividade e pudemos sustentar as nossas contas externas com um grande volume de exportação de grãos. Esse mesmo processo acabou por alcançar, também, a Construção Civil, a partir de 2005, até atingir a intensidade atual com a mecanização dos canteiros e com a assim chamada “construção industrializada”. Atualmente, as construtoras brasileiras produzem mais do que há uma década (metragem quadrada total) e o fazem com a utilização de metade do número de trabalhadores ocupados naquela época. Nesse setor, que conheço de perto, o progresso não se restringiu apenas à melhoria da qualidade e da segurança dos produtos e nem à simples redução nos custos de produção. Houve, também, uma melhoria muito significativa nas condições gerais de trabalho (conforto e segurança), na remuneração dos operários e, principalmente, na capacitação e treinamento da mão de obra envolvida.

O que descrevi resumidamente para a Construção Civil vale para o conjunto da economia. O aumento da produtividade e o desenvolvimento econômico têm produzido o efeito secundário de impor a capacitação, treinamento e melhoria do nível cultural dos trabalhadores, alavancando, como um êmbolo, os contingentes menos qualificados para padrões superiores de educação e renda. Aliás, como a experiência internacional tem mostrado, os efeitos desse ciclo são muito mais profundos e permanentes: o porte e a importância relativa dos segmentos econômicos estão premiando os setores mais exigentes em detrimento daqueles que ocupam mão de obra menos qualificada, ou seja, o ciclo transfere ocupações e riqueza desde as atividades primárias (mineração, agricultura, etc.), passando pelas atividades secundárias (indústria, construção, etc.) até alcançar e ampliar o setor terciário (serviços, administração, etc.). Resta saber se estamos nos planejando e nos preparando adequadamente para surfar essa onda inexorável, com o máximo proveito para todos os cidadãos.

Por oportuno, já que mencionei a Construção Civil, quero registrar outro resultado importante do avanço tecnológico nesse setor. As construtoras brasileiras alcançaram, neste nível tecnológico, uma capacidade de produção muito superior àquela que apresentavam no passado. Portanto, pela lógica ou por simples bom senso, essa capacidade adicional deveria ser aproveitada e, ao invés de redução nos postos de trabalho, que demonstra um nível elevado de ociosidade, poderia estar sendo produzido um número maior de moradias para enfrentar de forma mais objetiva o nosso renitente déficit habitacional. É tudo uma questão de planejamento público, de prioridade institucional e de opção política. E de melhor distribuir a riqueza obtida com o aumento de produtividade, na forma da universalização do acesso à moradia.

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