Por que nunca ganhamos o Prêmio Nobel?

Essa absoluta ausência nacional entre os agraciados com o Nobel sempre me intrigou. Somos o único país entre os BRICS que jamais levou a premiação. Até mesmo os nossos vizinhos no continente já tiveram o seu momento de glória. Nós não. Mas, por quê? Se somos a sexta economia do mundo, se produzimos itens de razoável complexidade, se já alcançamos um nível cultural relativamente sofisticado e se somos 200 milhões de brasileiros (quase 3% da população mundial) por que nunca levantamos essa taça?
Por  Rubens Menin
info_outline

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Todo ano, a cada mês de outubro, aguardo o resultado dos laureados com o Prêmio Nobel nas áreas de Física, Química e Economia (concedidos pela Academia de Ciências da Suécia), de Medicina (concedido pelo Instituto Karolinska, a maior universidade médica da Suécia), de Literatura (concedido pela Academia de Letras da Suécia) e da Paz (concedido por um comitê do Parlamento da Noruega). Sempre torço para surgir um brasileiro entre os laureados, lavando a alma nacional, já que nunca tivemos essa honraria desde que o Prêmio foi distribuído pela primeira vez em 1901. Desde então, foram 840 pessoas ou organizações laureadas e nenhum brasileiro.

Essa absoluta ausência nacional entre os agraciados com o Nobel sempre me intrigou. Somos o único país entre os BRICS que jamais levou a premiação. Até mesmo os nossos vizinhos no continente já tiveram o seu momento de glória. Nós não. Mas, por quê? Se somos a sexta economia do mundo, se produzimos itens de razoável complexidade, se já alcançamos um nível cultural relativamente sofisticado e se somos 200 milhões de brasileiros (quase 3% da população mundial) por que nunca levantamos essa taça? Pelas leis da estatística, brasileiros já deveriam ter sido premiados com o Nobel, pelo menos 25 vezes. Esse é o tamanho do nosso atraso nessa corrida.

É verdade que existem injustiças mundialmente reconhecidas. Como a do paranaense César Lattes (o verdadeiro descobridor da partícula subatômica méson Pi, e de outros sucessos no campo da física) ou como a do mineiro Carlos Chagas (que além de descrever, detalhadamente, a etiologia da doença que levou o seu nome, é reconhecido, até hoje, como o mais importante pesquisador de enfermidades tropicais).

Podem ter ocorrido essas e outras injustiças. Mas, o fato é que estamos em débito nessa competição. As premiações cientificas, incluindo a de Medicina, retratam com fidelidade a organização e a excelência do ensino acadêmico nas diversas regiões ou países. Daí a grande concentração de premiados na Europa e nos EUA. Aliás, 257 laureados (30,6% do total) são pessoas nascidas nos EUA. É bem verdade que os norte-americanos investem muito mais que nós em educação superior. Mas, isso não explica, por si só, a nossa defasagem comparativa. Mais do que a diferença nos investimentos, prevalece a falta de qualidade do nosso ensino, penosamente custeado pelo esforço e pelos impostos dos brasileiros.

Fora das áreas científicas, ou seja, no campo da Literatura e na premiação pela Paz, o nosso desempenho é igualmente nulo. Há quem argumente que o uso da língua portuguesa nos isola da comunidade internacional. Premiações recentes no campo da Literatura, concedidas a escritores de línguas relativamente exóticas (pelo menos para o padrão ocidental) desqualificam esse tipo de argumentação. As causas são outras. Assim como as premiações científicas procuram destacar os avanços que efetivamente representem fatores de melhoria na vida das populações, os laureados na Literatura e na Paz também devem simbolizar ações ou processos que levem à harmonia, a compreensão e a boa convivência dos povos. E, nessas áreas, temos insistido com as candidaturas erradas, submetendo indicações fortemente ideologizadas à Fundação Nobel. Quase sempre são personalidades que desfrutam de grande admiração e simpatia dentro do nosso país, mas que, aparentemente, não têm o perfil ajustado às exigências dos que processam as indicações e das instituições que elegem os premiados.

Os norte-americanos, que se orgulham da contribuição dada por seus premiados com o Nobel, para a constituição de uma sociedade melhor, frequentemente mencionam a opinião de que os latino-americanos, e em especial os brasileiros, quase não contribuem para a evolução da humanidade. Se o Prêmio Nobel vier a ser utilizado como escala de medida para essa assertiva, fica difícil encontrar alguma coisa feita ou produzida por brasileiros que tenha servido para melhorar, efetivamente, a qualidade de vida na sociedade global. De todo modo, precisamos modificar esse cenário e “desencantar” na obtenção desse Prêmio e no importante reconhecimento internacional para com a nossa contribuição. Fora os benefícios sócio-econômicos que a inserção de laureados com o Nobel poderá trazer para a nossa população, moldando processos de maior produtividade, de mais inovação e de melhor sustentabilidade.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Compartilhe

Mais de Blog do Rubens Menin

Blog do Rubens Menin

Você Pode Mudar o Futuro

Se existe, hoje, uma certeza largamente majoritária no espírito dos brasileiros, ela é, sem qualquer dúvida, a de que o Brasil precisa mudar. E mudar rápido. Gerações antes de nós – e mesmo a nossa própria – cresceram iludidas com a idéia de que o Brasil seria o país do futuro, ainda que, no presente de cada época, as coisas não corressem tão bem quanto todos gostariam.
Blog do Rubens Menin

Propósito

No mês de maio passado, tive a chance de participar de um extraordinário curso (Executive Program) na Singularity University, organização acadêmica estrategicamente localizada no Vale do Silício, na Califórnia. Já há algum tempo, eu vinha acompanhando o desempenho dessa Universidade, interessado no experimento educacional da instituição fundada pelo icônico Raymond Kurzweil, Diretor de Engenharia da Google e referência mundial para assuntos ligados à Inteligência Artificial. Agora, aparecendo a oportunidade, fui beber diretamente naquela fonte de conhecimentos. Por maiores que fossem as minhas expectativas, a experiência ainda conseguiu superá-las. Não apenas pelos instigantes conceitos do avanço exponencial da tecnologia e o conseqüente alcance próximo dos instantes e eventos característicos da disrupção (mudança completa de paradigmas), como também pelo impacto que isso já vem produzindo – e que produzirá ainda mais, em acelerada progressão – na vida das pessoas e no ambiente das empresas. Além disso, tive a alegria de descobrir os fundamentos acadêmicos para muitas das práticas empresariais adotadas intuitivamente pela MRV. É essa alegria e são essas descobertas que pretendo compartilhar resumidamente, neste tópico, com os eventuais interessados.
Blog do Rubens Menin

Viva a Diversidade!

Somos o país dos desperdícios. Mais do que isso: não sabemos tirar proveito das coisas boas que temos, principalmente quando elas nos foram dadas de presente pela natureza, pelo acaso ou pela história. Muitas vezes, não tiramos proveito delas porque simplesmente não as identificamos e nem as reconhecemos como coisas valiosas. Outras vezes, até chegamos a enxergar o seu valor ou o seu potencial, mas não conseguimos nos organizar para conviver com muitas dessas riquezas e, quase sempre, defendemos idéias atrasadas ou métodos equivocados para considerá-las.
Blog do Rubens Menin

Uma Decisão Estratégica

No próximo dia 18, o Conselho Deliberativo do Clube Atlético Mineiro reunirá os seus 467 membros para uma decisão estratégica. Tão importante, que eu, como atleticano apaixonado e como empresário obrigado pela função a considerar, permanentemente e de forma objetiva, o futuro no planejamento de cada empreendimento, ouso arriscar que esta será a decisão de maior relevância na história do clube. Os conselheiros decidirão se o Galo levará adiante ou não o projeto de implantação de seu próprio estádio, a Arena MRV. Mas, estarão decidindo muito mais do que isso. Os conselheiros decidirão, principalmente, se o Atlético estará ou não entre o limitado número de agremiações consolidadas no – cada vez mais exigente –  cenário futebolístico nacional e mundial.   
Blog do Rubens Menin

Reforma da Previdência

A Reforma da Previdência voltou a ser o assunto do dia, embora ela nunca tivesse perdido a importância, mesmo quando eclipsada por episódios políticos cobertos pela imprensa com mais sensacionalismo. Na realidade, a nação precisa encarar esse desafio de frente, equilibrar o sistema e garantir a sua perenidade antes que a ruína se torne inevitável.
Blog do Rubens Menin

Uma Omissão Imperdoável

O empresariado brasileiro é composto, em sua grande maioria, por lideranças responsáveis e comprometidas com os princípios da ética e da cidadania que fazem prosperar uma nação.  Por isso, seria natural que essa parcela preponderante – isoladamente ou por meio das entidades de classe – se manifestasse em todas as oportunidades em que esse padrão de comportamento deixasse de ser observado em alguma ocasião especial, por qualquer agente importante.
Blog do Rubens Menin

O Indispensável Estado de Direito

Os constituintes de 1988 tiveram o cuidado de destacar na nossa Carta Magna as assim chamadas “cláusulas pétreas“, ou seja, os dispositivos permanentes que não podem ser eliminados ou substancialmente alterados, nem mesmo por Emenda Constitucional, ainda que esta venha a tramitar regularmente no Congresso Nacional.
Blog do Rubens Menin

Operação Carne Fraca: Lições e Reflexões

Quando se preparavam para encerrar mais uma semana nesta atribulada temporada, os brasileiros foram surpreendidos pelas notícias de uma mega operação deflagrada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, na última sexta-feira, sob o codinome de “Carne Fraca“. 
Blog do Rubens Menin

Renda Per Capita Líquida

O IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – órgão vinculado ao Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão – acaba de divulgar os resultados principais das contas nacionais do exercício de 2016, quais sejam, o PIB – Produto Nacional Bruto e seus derivados diretos. O PIB, na realidade, corresponde à soma de todas as riquezas produzidas dentro do território nacional (desconsiderados os recebimentos recebidos do e as remessas enviadas para o exterior). 
Blog do Rubens Menin

2017 vem aí!

É fácil aferir o sentimento dos brasileiros acerca do ano que está terminando. À medida que se aproxima o dia da virada de exercício, as manifestações, íntimas ou públicas, da grande maioria dos nossos patrícios só variam na forma ou no adjetivo de qualificação, mas, em geral, quase todas convergem para uma constatação fortemente depreciativa: vai-se embora um ano que não deixa saudades! De fato, foi um ano em que vivemos turbulências políticas e desastres econômicos sucessivos, que acabaram por produzir uma crise sem precedentes na história da nossa República. Negócios (novos e antigos) foram por água abaixo, setores produtivos inteiros desestruturaram-se, capitais evaporaram ou foram procurar outras plagas, um enorme contingente de brasileiros foi lançado no desemprego, famílias passaram a conviver com o opressivo fantasma da inadimplência, sonhos foram desfeitos e a maior parte da nossa sociedade passou a ostentar uma expressão comum de desalento, insegurança e apreensão.