Novas Tomadas: Vitória da Burocracia

Em outros termos, as vítimas da tecnoburocracia (apenas entre os proprietários dos imóveis construídos pela MRV na vigência da Norma anterior) estarão desperdiçando, do seu próprio dinheiro, quantia equivalente àquela necessária para a construção de quase 250 novas habitações no padrão médio.
Por  Rubens Menin
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O brasileiro comum, que não seja um eletricista ou um especialista em equipamentos elétricos, apenas agora vem se dando conta da existência de um novo tipo de plugue (tomada macho) nos aparelhos eletro-eletrônicos fabricados no Brasil ou importados de outros países, que somente pode ser ligado diretamente às tomadas de parede (tomada fêmea) de um novo e específico modelo. As donas de casa e os consumidores comuns começaram a se assustar diante da descoberta de que os novos eletrodomésticos, recém adquiridos, simplesmente não mais se encaixavam diretamente nas tomadas existentes nas paredes de sua residência quando estas eram do tipo antigo, denominadas simplificadamente de “universais” por admitirem conexão com plugues usados nos EUA e no Japão (duas hastes chatas paralelas) e também com os plugues brasileiros tradicionais (dois pinos redondos).

Isso passou a acontecer porque o CONMETRO – Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial baixou a Resolução N° 08, dispondo que, a partir de 01/01/2010 não mais poderiam ser fabricados ou importados aparelhos elétricos ou eletrônicos que não estivessem rigorosamente de acordo com o novo padrão de plugues e tomadas recomendados na Norma NBR 14136 da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Essa mesma Resolução N° 08 fixou, também, a data de 01/07/2011 a partir da qual passaria a ser expressamente proibida a venda, em todo o território nacional, de tomadas e plugues do padrão antigo.

A Norma NBR 14136, desenvolvida e estabelecida no âmbito da ABNT, com a participação de agências governamentais e de representantes da indústria de eletroeletrônicos e de fabricantes de tomadas, placas, plugues e adaptadores (portanto, dos maiores interessados na criação forçada de um novo e lucrativo mercado) buscou justificar-se na necessidade da padronização, dada a existência, em todo o mundo, de mais de uma centena de formatos diferentes para os plugues e tomadas. Com o viés ideológico com que tudo vem sendo conduzido recentemente no País, a NBR 14136 abandonou os formatos de maior utilização mundial (incluindo o padrão NEMA norte-americano) e adotou como base a Norma IEC 60906-1, concebida para aplicação na União Européia mas que, de fato, até o presente, teve apenas a adesão da Suíça e de dois outros países fora daquele continente: África do Sul e, agora, do Brasil (parcialmente). Mesmo assim, a ABNT optou por um formato próprio e distinto da Norma IEC 60906-1 no que diz respeito ao diâmetro dos pinos e a eliminação das conexões no padrão norte-americano para redes de 110 ou 120 Volts (que serve à maior parte das utilizações domésticas).

Essa opção de industriais e de tecnoburocratas, referendada pelos órgãos governamentais, representou, na prática, a criação de mais um padrão (distinto de todos os demais e obrigatório apenas no Brasil). A história tem demonstrado que as únicas tentativas bem-sucedidas de uniformização costumam decorrer da adoção do padrão mais usado e do esforço pela sua universalização. Criar mais um padrão, somente complica o problema. Além disso, não devemos nos esquecer de trapalhadas semelhantes que já fizemos no passado e que vão desde o especialíssimo padrão PAL-M adotado no nosso sistema de TV em cores até o famigerado formato Telebrás criado para as conexões telefônicas, que adotou uma base enorme, de 4 x 4 cm, com quatro pinos chatos de grande tamanho (apenas para ligar um telefonezinho na parede).

No entanto, o meu objetivo neste tópico não é a crítica ou a defesa do novo padrão brasileiro de plugues e tomadas, já que os próprios especialistas discordam, entre si, acerca das vantagens e desvantagens técnicas do formato especificado na NBR 14136. Pretendo, apenas, mostrar a inconveniência econômica da mudança obrigatória. Vou usar como exemplo para abordar esse absurdo econômico, dados referentes à realidade operacional da nossa própria Construtora.

Antes do surgimento da nova obrigatoriedade, a MRV já havia construído, comercializado e entregue mais de 100 mil unidades habitacionais com tomadas do tipo tradicional (aquela chamada de “universal”). Os atuais proprietários dessas residências, já cansados de procurar e comprar adaptadores para os novos eletrodomésticos – nem sempre disponíveis para todos os modelos – estão aderindo à solução de substituir definitivamente as suas tomadas de parede pelo novo padrão nacional (o único que pode ser vendido livremente no comércio). Alguns desses proprietários conseguem fazer as substituições por um custo muito baixo (especialmente aqueles que, sendo eletricistas, podem concluir a tarefa com a aplicação doméstica de seu próprio tempo). Outros conseguem fazer a troca por um preço mediano (principalmente quando contam com a ajuda de amigos especializados). Mas, existe uma parcela dos proprietários que paga muito caro pelos serviços (sujeita que está à tabela de preços adotada pelos eletricistas e seus sindicatos para consertos ou adaptações em cada “ponto” elétrico). Admitido um preço médio de R$ 240,00 para a substituição de todas as tomadas de cada habitação, pode-se inferir que o conjunto dos proprietários dos prédios construídos pela MRV na vigência das disposições anteriores, estaria gastando o equivalente ao custo de quase 250 unidades habitacionais. Em outros termos, as vítimas da tecnoburocracia (apenas entre os proprietários dos imóveis construídos pela MRV na vigência da Norma anterior) estarão desperdiçando, do seu próprio dinheiro, quantia equivalente àquela necessária para a construção de quase 250 novas habitações no padrão médio. Não há argumento que justifique esse desperdício. Especialmente, em um país com um déficit habitacional do tamanho do nosso.

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