Legado da Copa

Os itens que compunham os investimentos para a Copa e que, portanto, passariam a ser parte integrante do "legado" nas 12 cidades-sede e em suas periferias, puderam ser vislumbrados, com mais clareza, a partir de 2010, quando foi organizada e divulgada a respectiva "Matriz de Responsabilidades".
Por  Rubens Menin
info_outline

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Em 2007, quando o Brasil ganhou a disputa para sediar a Copa do Mundo de 2014, começou a ser utilizada a palavra “legado” para justificar os investimentos e defender a ideia de que os benefícios não se restringiriam às vantagens que a nossa seleção poderia ter para conquistar, em casa, mais uma estrela e nem à facilidade que os brasileiros teriam para assistir, em pessoa, partidas emocionantes. A expressão “Legado da Copa” pretendia enfatizar que, terminado o torneio, os brasileiros herdariam inúmeras vantagens com impacto positivo sobre a sua qualidade de vida. Foram muito citados os benefícios decorrentes dos novos sistemas de transporte (aeroportos, portos, metrôs, terminais, etc.), a rede hoteleira atualizada e ampliada, equipamentos urbanos e turísticos revitalizados, modernizados ou restaurados, além dos próprios estádios que passariam a servir de base subseqüente para melhorar a prática esportiva nacional.

Os itens que compunham os investimentos para a Copa e que, portanto, passariam a ser parte integrante do “legado” nas 12 cidades-sede e em suas periferias, puderam ser vislumbrados, com mais clareza, a partir de 2010, quando foi organizada e divulgada a respectiva “Matriz de Responsabilidades”. Dois anos depois, em 2012, esse documento básico ainda previa a implementação de 51 projetos, envolvendo investimentos privados e públicos (federais, estaduais e municipais) que, à época, estavam orçados em quase R$ 18 bilhões. Agora, faltando menos de três meses para o início do torneio, temos plena consciência de que muitos dos investimentos previstos acabaram por não se materializar ou, em alguns casos, estarão apenas parcialmente concluídos em 12 de junho, na abertura da Copa.

A diferença entre as previsões e a realidade está sendo objeto de muita polêmica, cujo exame imparcial demandaria tempo e espaço incompatíveis com as disponibilidades imediatas deste blog. Mas, existe um ponto que pretendo enfatizar no presente tópico: como utilizaremos, cuidaremos e defenderemos a parte do “legado” que efetivamente estará concretizada? Em muitos casos, essa parcela representará investimentos significativos e facilidades com importante impacto sobre a qualidade de vida de numeroso contingente populacional. Pretendo exemplificar esse assunto, com o projeto BRT MOVE, cuja primeira etapa acaba de ser implantada em Belo Horizonte e já promoveu uma grande transformação no sistema de transporte coletivo da cidade.

Quando completamente implantado, o sistema contará com 500 ônibus e terá mais de 23 km de extensão, em três espaços (Av. Antônio Carlos, Av. Cristiano Machado e Área Central), com cerca de 40 estações de transferência e cinco estações de integração, todas elas modernas e confortáveis. A BHTRANS (Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte) estima que 700 mil passageiros sejam atendidos diariamente pelo MOVE, quando todo o sistema estiver em operação, com redução média de 45% no tempo de deslocamento dos usuários.

Numa época em que o vandalismo de bens públicos e privados está se transformando em hábito corriqueiro de desocupados, recalcados e baderneiros criminosos, traz grande preocupação o destino futuro desse moderno sistema de transporte. Nesse particular, estou convencido de que, para a preservação desse “legado” que efetivamente se materializou e para o seu usufruto continuado e futuro, não basta apenas admirar a passagem dos belos ônibus articulados em suas vias especiais. É preciso, principalmente, que a população se mobilize preventivamente em sua defesa, cobrando dos três níveis de governo a ativação de um programa específico de segurança patrimonial e de policiamento efetivo. Afinal, mais do que defender o novo padrão de eficiência e conforto representado pelo BRT MOVE, precisamos lembrar à administração gestora e às autoridades policiais de que essa parcela do “Legado da Copa” resultou, no fundo, do nosso esforço contributivo com o sofrido pagamento de impostos. O equipamento é nosso e devemos exigir a sua proteção enquanto estivermos pagando a conta. 

Compartilhe

Mais de Blog do Rubens Menin

Blog do Rubens Menin

Você Pode Mudar o Futuro

Se existe, hoje, uma certeza largamente majoritária no espírito dos brasileiros, ela é, sem qualquer dúvida, a de que o Brasil precisa mudar. E mudar rápido. Gerações antes de nós – e mesmo a nossa própria – cresceram iludidas com a idéia de que o Brasil seria o país do futuro, ainda que, no presente de cada época, as coisas não corressem tão bem quanto todos gostariam.
Blog do Rubens Menin

Propósito

No mês de maio passado, tive a chance de participar de um extraordinário curso (Executive Program) na Singularity University, organização acadêmica estrategicamente localizada no Vale do Silício, na Califórnia. Já há algum tempo, eu vinha acompanhando o desempenho dessa Universidade, interessado no experimento educacional da instituição fundada pelo icônico Raymond Kurzweil, Diretor de Engenharia da Google e referência mundial para assuntos ligados à Inteligência Artificial. Agora, aparecendo a oportunidade, fui beber diretamente naquela fonte de conhecimentos. Por maiores que fossem as minhas expectativas, a experiência ainda conseguiu superá-las. Não apenas pelos instigantes conceitos do avanço exponencial da tecnologia e o conseqüente alcance próximo dos instantes e eventos característicos da disrupção (mudança completa de paradigmas), como também pelo impacto que isso já vem produzindo – e que produzirá ainda mais, em acelerada progressão – na vida das pessoas e no ambiente das empresas. Além disso, tive a alegria de descobrir os fundamentos acadêmicos para muitas das práticas empresariais adotadas intuitivamente pela MRV. É essa alegria e são essas descobertas que pretendo compartilhar resumidamente, neste tópico, com os eventuais interessados.
Blog do Rubens Menin

Viva a Diversidade!

Somos o país dos desperdícios. Mais do que isso: não sabemos tirar proveito das coisas boas que temos, principalmente quando elas nos foram dadas de presente pela natureza, pelo acaso ou pela história. Muitas vezes, não tiramos proveito delas porque simplesmente não as identificamos e nem as reconhecemos como coisas valiosas. Outras vezes, até chegamos a enxergar o seu valor ou o seu potencial, mas não conseguimos nos organizar para conviver com muitas dessas riquezas e, quase sempre, defendemos idéias atrasadas ou métodos equivocados para considerá-las.
Blog do Rubens Menin

Uma Decisão Estratégica

No próximo dia 18, o Conselho Deliberativo do Clube Atlético Mineiro reunirá os seus 467 membros para uma decisão estratégica. Tão importante, que eu, como atleticano apaixonado e como empresário obrigado pela função a considerar, permanentemente e de forma objetiva, o futuro no planejamento de cada empreendimento, ouso arriscar que esta será a decisão de maior relevância na história do clube. Os conselheiros decidirão se o Galo levará adiante ou não o projeto de implantação de seu próprio estádio, a Arena MRV. Mas, estarão decidindo muito mais do que isso. Os conselheiros decidirão, principalmente, se o Atlético estará ou não entre o limitado número de agremiações consolidadas no – cada vez mais exigente –  cenário futebolístico nacional e mundial.   
Blog do Rubens Menin

Reforma da Previdência

A Reforma da Previdência voltou a ser o assunto do dia, embora ela nunca tivesse perdido a importância, mesmo quando eclipsada por episódios políticos cobertos pela imprensa com mais sensacionalismo. Na realidade, a nação precisa encarar esse desafio de frente, equilibrar o sistema e garantir a sua perenidade antes que a ruína se torne inevitável.
Blog do Rubens Menin

Uma Omissão Imperdoável

O empresariado brasileiro é composto, em sua grande maioria, por lideranças responsáveis e comprometidas com os princípios da ética e da cidadania que fazem prosperar uma nação.  Por isso, seria natural que essa parcela preponderante – isoladamente ou por meio das entidades de classe – se manifestasse em todas as oportunidades em que esse padrão de comportamento deixasse de ser observado em alguma ocasião especial, por qualquer agente importante.
Blog do Rubens Menin

O Indispensável Estado de Direito

Os constituintes de 1988 tiveram o cuidado de destacar na nossa Carta Magna as assim chamadas “cláusulas pétreas“, ou seja, os dispositivos permanentes que não podem ser eliminados ou substancialmente alterados, nem mesmo por Emenda Constitucional, ainda que esta venha a tramitar regularmente no Congresso Nacional.
Blog do Rubens Menin

Operação Carne Fraca: Lições e Reflexões

Quando se preparavam para encerrar mais uma semana nesta atribulada temporada, os brasileiros foram surpreendidos pelas notícias de uma mega operação deflagrada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, na última sexta-feira, sob o codinome de “Carne Fraca“. 
Blog do Rubens Menin

Renda Per Capita Líquida

O IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – órgão vinculado ao Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão – acaba de divulgar os resultados principais das contas nacionais do exercício de 2016, quais sejam, o PIB – Produto Nacional Bruto e seus derivados diretos. O PIB, na realidade, corresponde à soma de todas as riquezas produzidas dentro do território nacional (desconsiderados os recebimentos recebidos do e as remessas enviadas para o exterior). 
Blog do Rubens Menin

2017 vem aí!

É fácil aferir o sentimento dos brasileiros acerca do ano que está terminando. À medida que se aproxima o dia da virada de exercício, as manifestações, íntimas ou públicas, da grande maioria dos nossos patrícios só variam na forma ou no adjetivo de qualificação, mas, em geral, quase todas convergem para uma constatação fortemente depreciativa: vai-se embora um ano que não deixa saudades! De fato, foi um ano em que vivemos turbulências políticas e desastres econômicos sucessivos, que acabaram por produzir uma crise sem precedentes na história da nossa República. Negócios (novos e antigos) foram por água abaixo, setores produtivos inteiros desestruturaram-se, capitais evaporaram ou foram procurar outras plagas, um enorme contingente de brasileiros foi lançado no desemprego, famílias passaram a conviver com o opressivo fantasma da inadimplência, sonhos foram desfeitos e a maior parte da nossa sociedade passou a ostentar uma expressão comum de desalento, insegurança e apreensão.