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A retomada do crescimento econômico no Brasil é uma questão de importância imediata, se quisermos eliminar qualquer hipótese catastrófica de desordem financeira grave – situação que pode servir de rastilho para desajustes sociais e políticos igualmente preocupantes. Mas, se conseguirmos arrumar a casa em prazo curto, usando o conhecido e disponível arsenal de providências ajuizadas, restaria ainda outra batalha mais complexa e difícil: garantirmos o desenvolvimento continuado em prazo mais longo, para que possamos mudar de patamar e buscarmos o enriquecimento da nossa população.
Esse segundo desafio exigirá disciplina e aplicação, mas, sobretudo, visão estratégica e planejamento prospectivo de longo alcance. O crescimento sustentável, que propicia o enriquecimento das nações, ocorre quando se consegue aumentar, continuadamente, a utilização dos fatores básicos, capital e trabalho. Não temos conseguido isso, nos últimos anos. Pelo lado do capital, insumo indispensável para os investimentos, as nossas limitações são evidentes, seja em decorrência da baixíssima capacidade interna de poupança nacional, seja, agora, pela dificuldade de atrairmos poupança externa complementar. Pelo lado do trabalho, já aproveitamos quase todo o estoque de mão de obra disponível no país (mesmo a de baixa qualificação), situação retratada pela pequena taxa atual de desemprego e pelo grande contingente daqueles que estão afastados das ocupações formais por conta dos programas de benefícios distribuídos pelo governo. Esse último aspecto produz, também, outras conseqüências inconvenientes que precisarão ser consideradas de pronto, quais sejam, as pressões inflacionárias decorrentes da elevação dos salários acima dos ganhos de produtividade (característica comum nos regimes de pleno emprego) e o incremento dos custos de produção, que gera o aumento dos preços dos produtos e a perda de competitividade.
De forma simplificada, podemos vislumbrar um rumo geral para a solução do quadro problemático descrito no parágrafo antecedente, supostas como equacionáveis asquestões do aumento da poupança interna e da retomada da atratividade do país para os investidores externos: a otimização do fator trabalho via aumento da produtividade. O número de homens-hora envolvidos em qualquer atividade produtiva, para uma mesma quantidade de produto, terá que diminuir continuamente. Isso pode ser alcançado com a conjunção de dois esforços: a melhoria do ambiente de produção com o uso intensivo de equipamentos e tecnologia moderna de automação, e a qualificação da mão de obra por meio da melhoria educacional, do treinamento “on the job” e da capacitação geral. Uma política desse tipo permitiria “alongar ou espichar” o estoque de mão de obra existente, já que um número menor de funcionários mais qualificados poderia produzir a mesma quantidade que vêm sendo produzida pelos times atuais, menos qualificados. Ou, por outro lado, com o mesmo contingente atual, desde que melhor qualificado, alcançarmos maior volume de produção. Estou particularmente convencido de que essa é a saída para o crescimento econômico continuado e para o conseqüente enriquecimento da nossa população.
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Só que essa não é uma tarefa fácil. Exigirá uma política de Estado corajosa, objetiva, focada e eficiente, para garantir progressivo e continuado aumento nos níveis gerais de educação e formação técnica. Não estou inovando nada com essa percepção. Outros países desenvolvidos têm investigado em profundidade a relação entre todos esses fatores e projetado as situações futuras para embasar a tomada de decisões com a maior antecedência possível. Recentemente, tive condições de ler e examinar um interessantíssimo relatório, publicado nos EUA sob o título “The Global Workforce Crisis”, elaborado pelo prof. Rainer Strack e outros pesquisadores do prestigioso Boston Consulting Group – BCG. Esse estudo examina as condições atuais e futuras da força de trabalho em 25 países (que abrigam 65% da população mundial e que são responsáveis por 80% do PIB global). A estratégia geral de abordagem adotada no estudo do BCG foi a de estimar, em um horizonte relativamente longo, a taxa de crescimento da produtividade do trabalho necessária para que cada país pudesse continuar apresentando o mesmo índice de enriquecimento per capita observado no passado recente, considerados os crescimentos dos respectivos PIBs, força de trabalho e população total. Alguns resultados são muito interessantes: segundo oBCG, os EUA apresentam uma situação futura muito equilibrada, enquanto outros países (Alemanha, Brasil, Polônia, Rússia e Japão) apresentariam situações particularmente críticas no futuro e dependeriam de modificações imediatas nas respectivas políticas educacionais e de formação técnica. Só a título de exemplo, o estudo em tela aponta que a Alemanha já apresentará falta de mão de obra em 2015 e esse quadro decorre de fatores muito semelhantes aos observados atualmente mo Brasil. A taxa de desemprego na Alemanha situa-se, atualmente, em 6,7% (maio de 2014) e já não é possível, ali, atender as demandas correntes por engenheiros, profissionais de informática e outros perfis da área tecnológica. Mas, na Alemanha, as políticas de Estado já estão sendo ajustadas para enfrentar o desafio, incluindo os estímulos para a importação intensiva de profissionais qualificados. Ainda como exemplo, segundo o mesmo estudo, os EUA deverão apresentar um razoável excedente de força de trabalho por bastante tempo (cerca de 19,6 milhões de trabalhadores em 2020 e 7,4 milhões em 2030).
Bem, para ater-me ao espaço disponível neste blog, gostaria de enfatizar, como conclusão, que um esforço nacional pela qualificação da nossa mão de obra deveria ser imediatamente ativado como política de Estado, de forma objetiva e eficaz (sem corporativismo), não apenas para melhorar o equacionamento econômico geral, mas, também, para garantir a prosperidade futura e continuada da nação. Nunca foi tão importante educar.