Endividamento das Famílias e o Crescimento Econômico

Quase todos os setores da nossa economia ressentiram-se da diminuição no ritmo de crescimento por conta da turbulência recente que estamos enfrentando, embora cada segmento esteja respondendo a isso conforme as suas próprias peculiaridades.
Por  Rubens Menin
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Nos últimos anos, o crescimento econômico brasileiro tem sido perseguido, principalmente, com base no incentivo ao consumo através da facilitação do crédito, da distribuição de renda e benefícios (que reduziram a pobreza e ampliaram a assim chamada classe média) e da diminuição dos juros básicos. Essa política e seus resultados puderam ser mantidos no período de 2011 a 2013, quando a taxa SELIC caiu até 7,12% ao ano, menor patamar dessa variável básica em toda a sua série histórica.

No entanto, a persistência da crise financeira internacional e o conseqüente recrudescimento inflacionário obrigaram que o Banco Central voltasse a subir os juros básicos da nossa economia até os atuais 11,00% ao ano. Aparentemente essa política, aliada a outras providências administrativas e financeiras coadjuvantes, logrou um relativo sucesso no objetivo principal de colocar novamente os índices inflacionários dentro dos limites da meta prevista, conforme se depreende dos resultados apurados nos últimos meses, quando a inflação mensal aproximou-se, praticamente, de zero.

Infelizmente, a elevação dos juros básicos e das taxas bancárias dele derivadas dificultou a manutenção do crescimento do consumo por parte das famílias brasileiras, não porque elas estivessem excessivamente endividadas segundo padrões coletivos internacionais, mas pelo fato de que essas mesmas famílias passaram a ter, individualizadamente, parte maior da sua renda comprometida com o pagamento de prestações resultantes de compras e aquisições antecedentes (oneradas pelo aumento dos juros). Foi uma atitude prudencial dos consumidores brasileiros, circunstância que atestou o alcance de boa maturidade por parte das famílias recém elevadas à classe média, preocupadas com a instabilidade importada e com a prioridade de preservação de suas conquistas recentes. Mas o fato é que, como conseqüência dessa circunstância, o crescimento da economia nacional (expresso na forma da taxa de evolução do PIB) diminuiu bastante, especialmente nos dois primeiros trimestres de 2014.

Quase todos os setores da nossa economia ressentiram-se da diminuição no ritmo de crescimento por conta da turbulência recente que estamos enfrentando, embora cada segmento esteja respondendo a isso conforme as suas próprias peculiaridades. O mercado da Construção Civil, por exemplo, foi menos afetado pela elevação dos juros básicos, já que se apóia em taxas setoriais específicas, desatreladas da SELIC, o que permitiu que os agentes financeiros pudessem continuar a oferecer financiamentos atraentes, especialmente para famílias com renda mensal de até dez salários mínimos, interessadas na aquisição de sua primeira habitação ou de sua única casa própria. Apesar dessa peculiaridade favorável, a indústria habitacional não ficou muito afastada das perdas contabilizadas pelo conjunto do setor industrial.

Essa é uma situação que deve ser monitorada e administrada com bastante atenção, cuidado e zelo para que os remédios certos possam ser ministrados no caso da persistência dos efeitos que potencializaram, no momento atual, a perda de fôlego da economia nacional.

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