Depredação de Bens Públicos (2)

Na conjuntura atual, muitos brasileiros podem estar se autoclassificando como cidadãos inconformados e insatisfeitos, mas, apesar disso, eles não deixam de ser, ao mesmo tempo, contribuintes. E, como contribuintes, os brasileiros estão fazendo um enorme sacrifício ao transferirem para o estado quase 40% de tudo o que ganham (salários, rendas e lucros), para custearem as despesas governamentais dos três níveis (federal, estadual e municipal).
Por  Rubens Menin
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Quando abordei esse tema pela primeira vez, em abril deste ano, estava apenas expressando o meu inconformismo diante da insensatez embutida na depredação sistemática dos bens coletivos ou daqueles, de natureza privada, que ficam desprotegidos e expostos à sanha dos novos bárbaros. Apontei a falta de inteligência dos atos de destruição da sinalização rodoviária, dos abrigos de ônibus, do sistema de iluminação pública e dos demais equipamentos urbanos, mostrando que a sua reconstrução ou recuperação sempre é feita com recursos arrecadados na forma de impostos e taxas e que, portanto, os próprios vândalos acabam prejudicados, seja como contribuintes, seja como eventuais beneficiários de programas assistenciais. Isso, para não mencionar o desconforto transitório durante a fase de reconstrução ou de funcionamento deficiente dos sistemas de uso público ou coletivo, quando os vândalos são novamente prejudicados, desta vez como usuários. Mencionei também, as raízes culturais dessa distorção comportamental, fundamentadas no equívoco de que o patrimônio público seria impertenço justamente por ser de todos e no baixo nível de respeito à propriedade, evidenciado este, entre outras situações, pela leniência com que são tratados os saques de cargas nos acidentes dos veículos transportadores. Quem saqueia impunemente, bebidas de um caminhão tombado, fica estimulado a quebrar vidraças ou a pichar fachadas, desconhecendo ou relativizando o princípio da propriedade, tanto privada como pública.

Naquela ocasião, ainda não tinham ocorrido as manifestações de protesto que sacudiram o país no mês de junho e, muito menos, as pequenas mas devastadoras demonstrações de desordem que se lhes sucederam, com a agressão sistemática e organizada aos prédios públicos, ao comércio e aos equipamentos urbanos. Vejo, estarrecido, esses atos insanos. Minha indignação diante das imagens que mostram a placa de sinalização da mesma rua ser repetidamente destruída em dias sucessivos deve ser a mesma da imensa maioria de brasileiros pacíficos e inteligentes, mesmo quando inconformados com alguma situação adversa. Por essa razão, decidi voltar ao assunto.

Na conjuntura atual, muitos brasileiros podem estar se autoclassificando como cidadãos inconformados e insatisfeitos, mas, apesar disso, eles não deixam de ser, ao mesmo tempo, contribuintes. E, como contribuintes, os brasileiros estão fazendo um enorme sacrifício ao transferirem para o estado quase 40% de tudo o que ganham (salários, rendas e lucros), para custearem as despesas governamentais dos três níveis (federal, estadual e municipal). Não há quem não dê a sua sofrida contribuição, até mesmo ao comprar um quinhão de alimento ou ao vender o seu próprio trabalho. Todos pagam para formar o orçamento público, de onde saem os recursos para a recuperação dos sistemas e equipamentos vandalizados. Precisamos respeitar o dinheiro do estado, materializado na forma do patrimônio público. Devemos ver o vandalismo com a mesma indignação com que vemos a corrupção. O efeito final dos dois crimes é o mesmo: desfalcar o contribuinte, na forma de desvio ou desperdício, de parte do seu trabalho, esforço ou poupança. E devemos dizer isso, alto e bom som, em todas as oportunidades que tivermos. Essa seria uma manifestação construtiva, na qual não estaríamos criando espaço e oportunidades para vândalos e baderneiros.

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