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No tópico antecedente deste blog, mencionei uma característica peculiar da sociedade norte-americana, que tem sido essencial para garantir a sobrevivência de suas principais universidades e para a farta distribuição de bolsas aos capacitados mas desprovidos de recursos para as dispendiosas despesas acadêmicas: o grande volume de doação patrimonial ou financeira enviado pelos seus ex-alunos que foram bem-sucedidos nos negócios. Fiquei com receio de ter sido mal compreendido já que aquele comentário poderia levar ao falso entendimento de que, nos EUA, a filantropia estaria restrita à benemerência de pessoas físicas e ao apoio às universidades. Decidi estender um pouco mais a abordagem, para evitar qualquer interpretação imprecisa ou incompleta da realidade daquele país.
A filantropia e as atitudes generosas são hábitos muito arraigados e abrangentes nos EUA. Não se resumem às pessoas físicas. Pelo contrário, as empresas praticam políticas próprias de apoio financeiro a um grande número de ações beneméritas de alcance muito mais amplo do que o já descrito para a educação e que incluem, frequentemente, transferências para outros países. A Bloomberg, por exemplo, apontou que, apenas as 10 empresas que mais doaram em 2011 fizeram contribuições financeiras superiores a US$ 12 bilhões para filantropia naquele exercício. São números que não chegam, sequer, a uma escala comparável com a observada no Brasil.
Essa característica de generosidade das empresas norte-americanas já foi objeto de muitos estudos e de pesquisas, que incluíram a comparação com o comportamento observado em outros países. Mesmo tendo que resumi-las às possibilidades de espaço deste blog, gostaria de destacar algumas conclusões importantes desses estudos. Existe uma certa analogia de comportamento entre as doações de ex-alunos às universidades em que eles se formaram e a filantropia das empresas norte-americanas em diversos programas sociais e de apoio comunitário: é a sensação de pertencimento, respeito ou integração. Ambas as classes de agentes têm o seu sucesso reconhecido e não hostilizado pelo mercado, pelos padrões culturais e, enfim, pelas próprias comunidades que se beneficiam dessa generosidade potencial. Nas palavras resumidas do Prof. Benito Meneghetti: nos EUA, o público e as instituições torcem pelo sucesso dos futuros mecenas e esses se sentem incentivados à retribuição.
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Mas, quero finalizar este tópico com uma opinião pessoal. Independentemente das diferenças culturais entre os dois países, especialmente no que diz respeito ao reconhecimento do sucesso como um resultado justo e benéfico, os brasileiros têm uma disposição elevada para os atos de benemerência. É o que mostram, por exemplo, os dados divulgados pelo Centro de Pesquisa Motivacional, que tratam do voluntariado em ações sociais. Os resultados evidenciam que 54% dos jovens brasileiros querem ser voluntários, mas não sabem que causas apoiar e como começar. Tenho percebido idêntica hesitação por parte de muitas empresas: como, onde e a quem ajudar? No caso das empresas brasileiras, há que se acrescentar o efeito negativo das dúvidas resultantes da atuação das instituições do terceiro setor. Falta transparência que ateste a garantia e a segurança das doações a causas meritórias. A grande maioria dessas instituições está organizada para buscar recursos governamentais e utilizar verbas públicas ou para gerenciar benefícios legais. Faltam instituições e iniciativas focadas no potencial de filantropia existente no âmbito das próprias empresas do mercado nacional.