As Empresas e a Filantropia

A filantropia e as atitudes generosas são hábitos muito arraigados e abrangentes nos EUA. Não se resumem às pessoas físicas. Pelo contrário, as empresas praticam políticas próprias de apoio financeiro a um grande número de ações beneméritas de alcance muito mais amplo do que o já descrito para a educação e que incluem, frequentemente, transferências para outros países.
Por  Rubens Menin
info_outline

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

No tópico antecedente deste blog, mencionei uma característica peculiar da sociedade norte-americana, que tem sido essencial para garantir a sobrevivência de suas principais universidades e para a farta distribuição de bolsas aos capacitados mas desprovidos de recursos para as dispendiosas despesas acadêmicas: o grande volume de doação patrimonial ou financeira enviado pelos seus ex-alunos que foram bem-sucedidos nos negócios. Fiquei com receio de ter sido mal compreendido já que aquele comentário poderia levar ao falso entendimento de que, nos EUA, a filantropia estaria restrita à benemerência de pessoas físicas e ao apoio às universidades. Decidi estender um pouco mais a abordagem, para evitar qualquer interpretação imprecisa ou incompleta da realidade daquele país.

A filantropia e as atitudes generosas são hábitos muito arraigados e abrangentes nos EUA. Não se resumem às pessoas físicas. Pelo contrário, as empresas praticam políticas próprias de apoio financeiro a um grande número de ações beneméritas de alcance muito mais amplo do que o já descrito para a educação e que incluem, frequentemente, transferências para outros países. A Bloomberg, por exemplo, apontou que, apenas as 10 empresas que mais doaram em 2011 fizeram contribuições financeiras superiores a US$ 12 bilhões para filantropia naquele exercício. São números que não chegam, sequer, a uma escala comparável com a observada no Brasil.

Essa característica de generosidade das empresas norte-americanas já foi objeto de muitos estudos e de pesquisas, que incluíram a comparação com o comportamento observado em outros países. Mesmo tendo que resumi-las às possibilidades de espaço deste blog, gostaria de destacar algumas conclusões importantes desses estudos. Existe uma certa analogia de comportamento entre as doações de ex-alunos às universidades em que eles se formaram e a filantropia das empresas norte-americanas em diversos programas sociais e de apoio comunitário: é a sensação de pertencimento, respeito ou integração. Ambas as classes de agentes têm o seu sucesso reconhecido e não hostilizado pelo mercado, pelos padrões culturais e, enfim, pelas próprias comunidades que se beneficiam dessa generosidade potencial. Nas palavras resumidas do Prof. Benito Meneghetti: nos EUA, o público e as instituições torcem pelo sucesso dos futuros mecenas e esses se sentem incentivados à retribuição.

Mas, quero finalizar este tópico com uma opinião pessoal. Independentemente das diferenças culturais entre os dois países, especialmente no que diz respeito ao reconhecimento do sucesso como um resultado justo e benéfico, os brasileiros têm uma disposição elevada para os atos de benemerência. É o que mostram, por exemplo, os dados divulgados pelo Centro de Pesquisa Motivacional, que tratam do voluntariado em ações sociais. Os resultados evidenciam que 54% dos jovens brasileiros querem ser voluntários, mas não sabem que causas apoiar e como começar. Tenho percebido idêntica hesitação por parte de muitas empresas: como, onde e a quem ajudar? No caso das empresas brasileiras, há que se acrescentar o efeito negativo das dúvidas resultantes da atuação das instituições do terceiro setor. Falta transparência que ateste a garantia e a segurança das doações a causas meritórias. A grande maioria dessas instituições está organizada para buscar recursos governamentais e utilizar verbas públicas ou para gerenciar benefícios legais. Faltam instituições e iniciativas focadas no potencial de filantropia existente no âmbito das próprias empresas do mercado nacional.

Compartilhe

Mais de Blog do Rubens Menin

Blog do Rubens Menin

Você Pode Mudar o Futuro

Se existe, hoje, uma certeza largamente majoritária no espírito dos brasileiros, ela é, sem qualquer dúvida, a de que o Brasil precisa mudar. E mudar rápido. Gerações antes de nós – e mesmo a nossa própria – cresceram iludidas com a idéia de que o Brasil seria o país do futuro, ainda que, no presente de cada época, as coisas não corressem tão bem quanto todos gostariam.
Blog do Rubens Menin

Propósito

No mês de maio passado, tive a chance de participar de um extraordinário curso (Executive Program) na Singularity University, organização acadêmica estrategicamente localizada no Vale do Silício, na Califórnia. Já há algum tempo, eu vinha acompanhando o desempenho dessa Universidade, interessado no experimento educacional da instituição fundada pelo icônico Raymond Kurzweil, Diretor de Engenharia da Google e referência mundial para assuntos ligados à Inteligência Artificial. Agora, aparecendo a oportunidade, fui beber diretamente naquela fonte de conhecimentos. Por maiores que fossem as minhas expectativas, a experiência ainda conseguiu superá-las. Não apenas pelos instigantes conceitos do avanço exponencial da tecnologia e o conseqüente alcance próximo dos instantes e eventos característicos da disrupção (mudança completa de paradigmas), como também pelo impacto que isso já vem produzindo – e que produzirá ainda mais, em acelerada progressão – na vida das pessoas e no ambiente das empresas. Além disso, tive a alegria de descobrir os fundamentos acadêmicos para muitas das práticas empresariais adotadas intuitivamente pela MRV. É essa alegria e são essas descobertas que pretendo compartilhar resumidamente, neste tópico, com os eventuais interessados.
Blog do Rubens Menin

Viva a Diversidade!

Somos o país dos desperdícios. Mais do que isso: não sabemos tirar proveito das coisas boas que temos, principalmente quando elas nos foram dadas de presente pela natureza, pelo acaso ou pela história. Muitas vezes, não tiramos proveito delas porque simplesmente não as identificamos e nem as reconhecemos como coisas valiosas. Outras vezes, até chegamos a enxergar o seu valor ou o seu potencial, mas não conseguimos nos organizar para conviver com muitas dessas riquezas e, quase sempre, defendemos idéias atrasadas ou métodos equivocados para considerá-las.
Blog do Rubens Menin

Uma Decisão Estratégica

No próximo dia 18, o Conselho Deliberativo do Clube Atlético Mineiro reunirá os seus 467 membros para uma decisão estratégica. Tão importante, que eu, como atleticano apaixonado e como empresário obrigado pela função a considerar, permanentemente e de forma objetiva, o futuro no planejamento de cada empreendimento, ouso arriscar que esta será a decisão de maior relevância na história do clube. Os conselheiros decidirão se o Galo levará adiante ou não o projeto de implantação de seu próprio estádio, a Arena MRV. Mas, estarão decidindo muito mais do que isso. Os conselheiros decidirão, principalmente, se o Atlético estará ou não entre o limitado número de agremiações consolidadas no – cada vez mais exigente –  cenário futebolístico nacional e mundial.   
Blog do Rubens Menin

Reforma da Previdência

A Reforma da Previdência voltou a ser o assunto do dia, embora ela nunca tivesse perdido a importância, mesmo quando eclipsada por episódios políticos cobertos pela imprensa com mais sensacionalismo. Na realidade, a nação precisa encarar esse desafio de frente, equilibrar o sistema e garantir a sua perenidade antes que a ruína se torne inevitável.
Blog do Rubens Menin

Uma Omissão Imperdoável

O empresariado brasileiro é composto, em sua grande maioria, por lideranças responsáveis e comprometidas com os princípios da ética e da cidadania que fazem prosperar uma nação.  Por isso, seria natural que essa parcela preponderante – isoladamente ou por meio das entidades de classe – se manifestasse em todas as oportunidades em que esse padrão de comportamento deixasse de ser observado em alguma ocasião especial, por qualquer agente importante.
Blog do Rubens Menin

O Indispensável Estado de Direito

Os constituintes de 1988 tiveram o cuidado de destacar na nossa Carta Magna as assim chamadas “cláusulas pétreas“, ou seja, os dispositivos permanentes que não podem ser eliminados ou substancialmente alterados, nem mesmo por Emenda Constitucional, ainda que esta venha a tramitar regularmente no Congresso Nacional.
Blog do Rubens Menin

Operação Carne Fraca: Lições e Reflexões

Quando se preparavam para encerrar mais uma semana nesta atribulada temporada, os brasileiros foram surpreendidos pelas notícias de uma mega operação deflagrada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, na última sexta-feira, sob o codinome de “Carne Fraca“. 
Blog do Rubens Menin

Renda Per Capita Líquida

O IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – órgão vinculado ao Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão – acaba de divulgar os resultados principais das contas nacionais do exercício de 2016, quais sejam, o PIB – Produto Nacional Bruto e seus derivados diretos. O PIB, na realidade, corresponde à soma de todas as riquezas produzidas dentro do território nacional (desconsiderados os recebimentos recebidos do e as remessas enviadas para o exterior). 
Blog do Rubens Menin

2017 vem aí!

É fácil aferir o sentimento dos brasileiros acerca do ano que está terminando. À medida que se aproxima o dia da virada de exercício, as manifestações, íntimas ou públicas, da grande maioria dos nossos patrícios só variam na forma ou no adjetivo de qualificação, mas, em geral, quase todas convergem para uma constatação fortemente depreciativa: vai-se embora um ano que não deixa saudades! De fato, foi um ano em que vivemos turbulências políticas e desastres econômicos sucessivos, que acabaram por produzir uma crise sem precedentes na história da nossa República. Negócios (novos e antigos) foram por água abaixo, setores produtivos inteiros desestruturaram-se, capitais evaporaram ou foram procurar outras plagas, um enorme contingente de brasileiros foi lançado no desemprego, famílias passaram a conviver com o opressivo fantasma da inadimplência, sonhos foram desfeitos e a maior parte da nossa sociedade passou a ostentar uma expressão comum de desalento, insegurança e apreensão.