Apagão de Mão de Obra & Capacitação
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Especulava-se, desde o ano passado, sobre a possível ocorrência de um apagão de mão de obra na Construção Civil. A maioria dos analistas especializados e a grande imprensa em geral projetava o crescimento do setor com base nas taxas observadas nos anos antecedentes e apontava para a inevitável falta de mão de obra recrutável já a partir de 2012. No entanto, isso não ocorreu, como a realidade acabou por demonstrar.
Em minha opinião, essa frustração das expectativas pessimistas decorreu da conjunção de três fatores, dois bons e um mau. O último, e talvez mais importante, está materializado na grande diminuição de ritmo do setor, nos dois últimos exercícios. Depois dos bons resultados alcançados em 2011, todas as grandes construtoras nacionais vivenciaram uma significativa diminuição no volume de obras (notadamente no segmento habitacional), fenômeno que ainda está presente neste segundo semestre de 2013. Diminuiu o número de lançamentos e de vendas por razões que já tenho abordado em outros tópicos deste blog. Em muitas regiões, aumentou o tempo médio de comercialização do estoque de unidades habitacionais já construídas em proporção equivalente à redução no ritmo das novas obras. Com menos canteiros a serem providos de mão de obra, diminuiu, evidentemente, a demanda por novas contratações.
Mas, além do mau fator descrito no parágrafo anterior, o anunciado apagão de mão de obra foi evitado, também, por duas circunstâncias que podemos identificar como sendo de boa natureza e que não haviam sido inteiramente percebidas e consideradas nas previsões pessimistas, formuladas ao final de 2011. Vou abordar resumidamente essas duas circunstâncias.
Em primeiro lugar, há que se considerar a rápida variação observada na tecnologia de construção, que levou à mecanização dos canteiros e ao aumento geral de produtividade, das remunerações, da qualificação e da segurança no trabalho. Esse efeito reduziu significativamente a aplicação da mão de obra (especialmente nos níveis de menor qualificação) para a edificação do mesmo número de unidades ou da mesma área construída, quando cotejada com os dados de períodos antecedentes.
O segundo bom fator resultou do esforço da maioria das grandes construtoras para treinar, qualificar e revocacionar, em conformidade com as novas exigências tecnológicas, um contingente significativo de profissionais do setor. Vou exemplificar com números da nossa Construtora, que conheço com mais profundidade. Nos últimos anos, a MRV vem ativando um importante programa de treinamento baseado na criação de escolas situadas nos próprios canteiros de obras. Atualmente, já ativamos a implantação de 85 escolas de alfabetização e capacitação para pessoal recrutado ou redirecionado, boa parte das quais em funcionamento simultâneo, num esforço que tem como principal característica o fato de que o treinamento, a educação e o desenvolvimento pessoal dos trabalhadores envolvidos ocorrem no próprio horário reservado ao trabalho, como uma atividade remunerada. Muitos outros, residentes nas vizinhanças dessas escolas, também têm a oportunidade de participar do treinamento com perspectivas concretas de contratação subsequente pela Construtora. Esse tipo de iniciativa não traz como consequência apenas a mitigação de um eventual apagão de mão de obra, que corresponde ao objeto de interesse deste tópico. Na prática, existe um efeito ainda mais positivo, com a inclusão no mercado de trabalho de um significativo contingente de trabalhadores que vinha sendo alijado das oportunidades por falta de capacitação e treinamento. Esse impacto na perspectiva de inserção das pessoas em um estrato superior de desenvolvimento humano, de segurança e de qualidade de vida vem sendo cada vez mais considerado pelo nosso grupo empresarial.