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Por que a comunidade é tão importante para as criptomoedas

Em um ambiente de código aberto agregar pessoas à volta das iniciativas se torna tão importante quanto a iniciativa em si
Por  Gustavo Cunha -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Um dos fatores que passa desapercebido de muitos analistas do setor financeiro tradicional ao avaliar o valor, risco ou modelo de negócio que qualquer iniciativa cripto é o poder que a comunidade a volta dela tem.

Em cripto, por termos código aberto em todas as iniciativas, uma comunidade dedicada e muitas vezes apaixonada é crucial para o seu sucesso. Um exemplo simples que sempre dou é que se eu quisesse criar a Gustavocoin era só ter um pouco de conhecimento de programação, fazer uma cópia do código do Bitcoin (BTC) e alterar o nome de Bitcoin para Gustavocoin. Tão simples como isso. A diferença em termos de código da Gustavocoin e do Bitcoin seria ínfima, senão inexistente.

Mas isso quer dizer que a Gustavocoin teria o mesmo valor do Bitcoin? Claro que não. E a diferença está nas milhares de pessoas ao redor do mundo que estão envolvidas com o Bitcoin, sua comunidade. A Gustavocoin não teria isso a princípio, mas quem sabe com uma proposta interessante e que reunisse muitas pessoas ela não conseguiria criar essa comunidade?

Um exemplo de uma rede que começou de forma similar é a Dogecoin (DOGE). Dois australianos copiaram o código do Bitcoin e criaram sua rede. Para ser preciso, na verdade a Dogecoin nasce de uma cópia do código da rede Luckycoin que já era uma cópia da Litecoin (LTC) que havia anos atrás copiado o código do Bitcoin, mas isso são detalhes que pouco afetam o caso em questão.

O que aconteceu é como se o Bitcoin gerasse redes filhas dele e para isso basta em um determinado momento fazer um fork da rede, ou seja, copiar o código, o que mantém o histórico igual ao da rede copiada e desse momento em diante a nova rede, com o novo token, é criada.

A Dogecoin foi uma rede dedicada ao cachorro (“doge”) e nasce como uma brincadeira, com vários memes a respeito dela, inclusive vários citando o quanto ela era ridícula e ninguém a devia levar a sério. Essa brincadeira acaba chamando a atenção de inúmeras pessoas, criando uma comunidade a seu redor e hoje a Dogecoin está entre as 20 maiores redes de blockchain, com valor de mercado acima de US$ 15 bilhões, tendo chegado a mais de US$ 60 bilhões.

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Dentre a comunidade de pessoas que acompanham a Dogecoin temos de Snoop Dogg a Elon Musk, esse último inclusive utiliza frequentemente seu Twitter para fazer referência à cripto.

O curioso dessa iniciativa, que começa como uma brincadeira, é que à medida que sua comunidade se desenvolve, ela começa a criar valor em várias frentes. Exemplos de pagamentos, transferências, doações, não pararam de crescer nos últimos anos. E daí, para os mais conservadores, que querem analisar o valor da rede, tudo fica mais claro, já que métricas mais tradicionais como utilização da rede, volume negociado, casos de uso mais tradicionais etc. estão presentes.

Esses fenômenos sociais que cripto, e só cripto, torna viáveis faz com que muito do que estudamos em administração e economia tenha que ser repensado. Quem iria imaginar que uma iniciativa que nasce de uma brincadeira, com foco em memes, teria em algum momento um valor de mercado similar ao banco UBS ou à cervejeira Heineken?

Em um ambiente de código aberto, onde tudo pode ser copiado livremente, mais do que tentar ter uma ideia disruptiva o valor está em agregar o máximo de pessoas possíveis nessa iniciativa de tal maneira que ela ajude no desenvolvimento e direção do projeto.

Um exemplo mais recente pode ser encontrado no Bored Apes Yacht Club, que nascem como uma coleção de NFTs e recentemente lançaram um metaverso.

Comunidade, comunidade, comunidade. É isso que vejo sempre que me deparo com exemplos como dar um air-drop (presentear) os detentores de NFTs de Bored com terras no metaverso, porções para seus Apes, tokens da plataforma (APE), e muito mais. Nutrir a comunidade e deixá-la cada vez mais envolvida e apaixonada por sua iniciativa me parece ser um dos fatores de sucesso da maioria das criptos.

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Isso vale para essas duas iniciativas que começaram de forma muito diferente, uma como uma brincadeira e outra como uma narrativa que dava valor a um colecionável, mas vale também para Bitcoin, Ethereum (ETH) e qualquer outra cripto.

Para os que estão começando a acompanhar o mercado cripto e estão percebendo a transformação que ele está causando, fica a dica para sempre analisarem o poder que a comunidade ao redor dos projetos pode ter. A comunidade do Bitcoin é certamente a maior e mais apaixonada e isso, sem dúvida nenhuma, é um dos grandes fatores que traz valor para o Bitcoin.

E para os empreendedores desse mercado fica a provocação. Qual seu plano para criar uma comunidade ao redor do seu projeto que seja tão apaixonada por ele quanto a comunidade do Bitcoin, Dogecoin ou BoredApes?

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Links usados nesse artigo e para quem quiser ir além:

How Dogecoin Became So Popular
Dogecoin: what is it and does it have any value?
The doge worth 88 billion dollars: A case study of Dogecoin
Companies ranked by Market Cap

Gustavo Cunha Autor do livro A tokenização do Dinheiro, fundador da Fintrender.com, profissional com mais de 20 anos de atuação no mercado financeiro tradicional, tendo sido diretor do Rabobank no Brasil e mais de oito anos de atuação em inovação (majoritariamente cripto e blockchain)

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