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Afinal, dá para ser otimista em relação ao Brasil?

Gustavo Franco e Paulo Bilyk comentaram em videocast os desafios que o Brasil tem pela frente
Por  Fabio Cardoso
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

A fotografia do momento é ruim, principalmente quando se leva em consideração a conjuntura econômica e o ambiente político do país. Mesmo com esse cenário, existem oportunidades que se abrem com as transformações tecnológicas e com a participação mais ativa de diversos segmentos da sociedade.

No primeiro episódio da série de videocasts da Rio Bravo, que foi ao ar no último dia 29 de junho, Gustavo Franco e Paulo Bilyk, respectivamente Senior Advisor e CEO da Rio Bravo, comentam os desafios que o Brasil tem pela frente, mas não deixam escapar as boas chances que estão no horizonte, decorrentes, muitas vezes, de mudanças inevitáveis na sociedade brasileira.

A propósito da primeira pergunta do videocast, quando questionados se há motivos para ser otimista no Brasil, os convidados apresentaram não somente uma visão calcada no presente, mas buscaram nas suas próprias trajetórias pessoais uma referência para os momentos de impasse.

“O otimismo no Brasil é uma profissão que nós escolhemos por vocação – nem sempre com a ajuda do objeto, o Brasil”, observa Gustavo Franco, que prossegue: “Por outras razões, eu estava recordando o momento em que me formei economista, mais de 30 anos atrás. Naquela época, não passava pela minha cabeça a ideia de que eu chegasse perto de me aposentar e o Brasil não fosse um país rico. Quem olhasse para o Brasil na ocasião não tinha a menor dúvida de que o Brasil estaria entre os mais ricos do planeta”. O ex-presidente do Banco Central e Senior Advisor da Rio Bravo foi além, citando o exemplo da Coreia do Sul, país que estava numa situação econômica parecida com a do Brasil. Mas houve uma diferença no resultado: “Eles conseguiram; nós, não”.

Já Paulo Bilyk observa que, no fim dos anos 1980, o otimismo tinha a ver com o processo de redemocratização, afinal, naquele momento era natural que jovens estudantes se envolvessem com os partidos que estavam participando da conversação política.

“Equacionava-se muito, acho que ingenuamente, a ideia de que bastava que a gente pudesse votar direto para presidente e as coisas estariam encaminhadas, como se fosse uma faísca que geraria um despertar virtuoso inevitável”. Para o CEO da Rio Bravo, essa experiência é significativa porque mostra que o caminho não é tão simples assim. “O tempo nos mostrou que construir um processo representativo, democrático, liberal é vastamente mais complexo do que votar para presidente”. Na avaliação de Bilyk, a sociedade brasileira está muito mais alerta para a realidade dessa transformação de forma mais madura.

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Dessa forma, continua Bilyk, enquanto os partidos não evoluíram da maneira como se esperava, a sociedade civil se organizou de forma muito mais articulada do que antes. “A sociedade está mais atenta às questões urbanas. Em São Paulo, por exemplo, há ricos debates acerca de adensamento urbano, transporte, moradia. No campo da educação, nós não temos absolutamente nada para comemorar em termos de resultado, mas nós temos uma quantidade de pessoas dedicadas a este assunto com conhecimento de causa muito maior do que antes”.

O tema educação, aliás, sempre volta à mesa quando se trata de abordar os temas mais importantes para a agenda do país no longo prazo. Todavia, Gustavo Franco alerta para certo encaminhamento dessa conversa. “É muito comum na conversa sobre educação que o assunto se transforme numa pauta sindical, num dissídio dos professores. E não é isso que deveríamos estar discutindo. É muito mais complexo: as posições sobre educação são radicais, são difíceis; há discordâncias; há temas. E as coisas não estão indo exatamente muito bem. Gasta-se muito dinheiro com educação com resultados que não têm sido muito bons nos últimos 30 anos”

Lições que não foram aprendidas

 Em outro momento do videocast, falando a respeito das lições que não foram aprendidas nos últimos anos, Paulo Bilyk compara as sociedades maduras com as imaturas.

No primeiro caso, existe o entendimento que é delas próprias que surgem as virtudes e os defeitos, de modo que as instituições são criadas com o objetivo de que os desejos e as vontades sejam organizados e debatidos. Já no segundo caso, há sempre a expectativa de que um Deus Ex-Machina, ou na figura de um operário, ou na figura de um militar, irá resolver as questões de ordem. A metáfora é precisa: “É como se em vez de termos trabalhado para conquistar nosso patrimônio nós tivéssemos ganhado na loteria federal. Deixar de acreditar na loteria federal é algo que, aos poucos, a sociedade brasileira está fazendo, mas ainda não fez perfeitamente”.

Gustavo Franco, que em 2021 lançou um livro cujo título é “Lições amargas” (Ed. Zahar), chama a atenção para o fator das reformas, que, ele afirma, o Brasil abraçou pela metade. “Ali pelos anos 1980, o Brasil talvez tenha se dado conta de que a forma de prosperidade econômica havia se esgotado. E o sintoma mais evidente disso era uma inflação descontrolada”. O Brasil enfrentou muito bem a hiperinflação, comenta Franco, mas a Constituição de 1988 consagrou princípios consistentes com a velha fórmula de desenvolvimento econômico. “É curioso que exatamente no ano da promulgação da Constituição nós tivéssemos entrado oficialmente na hiperinflação”.

Em 1992, Gustavo Franco observa que havia a chance de revisão constitucional. Só que as lideranças políticas acharam que essa mudança “ia sacudir o barco demais”. Algumas das agendas daquele tempo, e a simplificação mais comum era a do Consenso de Washington, tiveram medidas que foram implementadas e outras que foram abandonadas, observa Gustavo Franco, que reforça: “Nós continuamos executando pouco. Portanto, vai depender do que fizermos daqui para frente”.

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Alternativas

 Para que essa execução robusta seja possível, é necessário não apenas que a economia vá bem, como também que a população esteja motivada para fazer o que é necessário. Só que um levantamento divulgado no ano passado indicava que a alternativa preferida era outra: de acordo com as informações do Atlas das Juventudes e dos novos estudos da FGV Social, um recorde de jovens queria deixar o Brasil, o que poderia colocar em risco um potencial histórico em termos de produtividade.

Mas o que poderia efetivamente motivar os jovens a não desistir do país?

No videocast, Paulo Bilyk destaca: “enquanto houver uma atividade em que as pessoas possam prosperar – e não apenas do ponto de vista material, mas, sim, crescer e se desenvolver – haverá vontade. O Brasil é um país maravilhoso de se viver”. Citando o exemplo de São Paulo, o CEO da Rio Bravo reconhece os problemas relacionados à criminalidade, mas sublinha que houve melhorias relacionadas ao transporte e ao cuidado com os rios que cortam a capital paulista. E aponta para uma possibilidade: “Independentemente de quem fosse o presidente, o ideal é que nós tivéssemos um consenso pela simplificação e pela descentralização”. Bilyk acredita que isso faria bem para a educação, para a saúde, para a infraestrutura.

Além disso, Paulo Bilyk ressalta que o Brasil deveria ser um polo dinâmico da economia digital. “As pessoas conseguem se educar para esse mundo, a despeito das mazelas do ensino público – embora haja algo positivo acontecendo nessas frentes, como as ETECs, ou mesmo o Insper, no ensino privado”. O objetivo, argumenta ele, é que o país tenha força num ambiente onde o software está ocupando todos os espaços.

Ao falar sobre o contexto das novas tecnologias, Gustavo Franco lembra que o fator que fez com que o Brasil estivesse na fronteira do mundo financeiro digital não foi propriamente blockchain, nem cripto. “Foi a lei de 2013 e trabalhar os aspectos regulatórios de novas possibilidades de tecnologia no sistema de pagamentos e, com isso, fazer open banking a partir de 2013 com outro nome”. Comentando as possibilidades, o Senior Advisor da Rio Bravo observa: “Isso nos faz ficar otimistas! Daí vamos precisar formar mais engenheiros de software e menos advogados”.

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Mais ao final do videocast, Paulo Bilyk defende uma forma menos idealizada no que se refere à projeção otimista para o país. “Se o Brasil se dispuser a se manter como uma sociedade aberta e não cair em tentações autoritárias que revertam todo esse processo de ganho e debate político e de liberdades políticas, nós evoluiremos em sofisticação e permitiremos que as instituições que estão nascendo debaixo para cima prosperem”.

A íntegra do Videocast Rio Bravo está disponível no YouTube a partir do link a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=8IOGXmdu0wY

Fabio Cardoso é jornalista, produtor do Podcast Rio Bravo e curador do Videocast Rio Bravo. Mestre em comunicação contemporânea pela Anhembi Morumbi e doutor em Comunicação e América Latina pela USP.

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