Nem home office, nem escritório: o mercado será híbrido no pós-pandemia, diz diretor do LinkedIn

Na Expert 2020, diretor do LinkedIn fala sobre erros e acertos na adaptação do mercado ao home office

Priscila Yazbek

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SÃO PAULO – Depois de a pandemia provar que o trabalho remoto é possível – e não um exercício de futurologia-, o mundo se pergunta se algum dia o escritório voltará a ser como antes. Para Milton Beck, diretor-geral do LinkedIn na América Latina, a resposta é não. Ainda que uma dose de desilusão e gargalos tenham sido notados na adoção do home office, entramos em um caminho sem volta, segundo Beck.

“Empresas que não acreditavam na viabilidade do home office passaram a acreditar mais e funcionários que achavam que o home office era a solução da vida deles agora acham que é bom passar alguns dias em casa e outros no escritório. Então caminhamos para um mundo intermediário daqui para frente”, disse Beck durante participação na Expert XP 2020, congresso de investimentos promovido pela XP Inc.

O diretor do LinkedIn falou sobre as perspectivas para o mercado de trabalho no painel “O presente e o futuro dos negócios no ambiente digital”, conduzido por Pethra Ferraz, diretora de marketing da XP Inc.

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Beck comentou que a frustração de alguns funcionários com o home office está ligada ao fato de que a mudança não foi intencional, mas imposta por uma crise sem precedentes.

No “pacote” da crise, ele cita, por exemplo, o estresse provocado pelo contexto de pandemia, o fato de que muitos funcionários tiveram que transformar sua casa em um escritório em questão de dias, além de boa parte ter encarado toda essa mudança cuidando dos filhos, que também passaram por uma intensa transformação com as escolas fechando.

Ele cita ainda outro fenômeno provocado pela combinação entre home office e pandemia: o aumento das horas trabalhadas. Segundo pesquisa do LinkedIn, realizada com 2 mil pessoas no fim de abril, 68% das pessoas passaram a trabalhar, no mínimo, uma hora a mais por dia e outras 24% entre três a quatro horas a mais.

Ele explica que quando o funcionário está no escritório, à vista dos chefes e colegas, é como se parte das obrigações fosse cumprida só pelo fato de ele estar lá. Mas como em casa ninguém sabe se você está trabalhando, guardando compras do supermercado ou assistindo à televisão, os gestores passaram a cobrar mais pela entrega e menos pelas horas trabalhadas.

“Com a mudança de ritmo, algumas pessoas ficaram mais assustadas, com medo de perder o emprego. Elas começaram a trabalhar mais horas, a responder e-mails a todo momento e perderam a noção daquela rotina de acordar, trabalhar, ter o momento de lazer, descanso e dormir. Virou uma coisa única”, avalia Beck.

Mais produtividade?

Apesar das dificuldades, o diretor do LinkedIn também diz que o home office trouxe ganhos de produtividade ao poupar o funcionário do deslocamento e elevar a pontualidade de reuniões, agora realizadas em um “clicar de Zoom”.

A diferença entre experiências bem-sucedidas e fiascos, segundo ele, está na comunicação. Ele comenta que algumas empresas se adaptaram bem às mudanças realizando, por exemplo, “check-ins” e “check-outs” para que as equipes tenham algum contato no início e no final do dia, nem que seja para dar um bom dia ou uma boa noite.

“A chefia direta precisa estabelecer rotinas de comunicação, entender que as pessoas não estão no melhor momento, que alguns cuidam dos filhos durante o trabalho e que não dá para esperar níveis de produtividade iguais. A comunicação é o número um e a empatia o número dois: entender que o fato de uma pessoa achar que o home office está bom para ela não significa que está bom para o outro”, diz Beck.

Ele ressaltou ainda que, apesar de toda a discussão em torno do home office e do futuro do mercado, para muitos brasileiros o trabalho remoto não é uma realidade, já que diversas atividades são desempenhadas presencialmente.

Crise

Os efeitos da crise no mercado de trabalho também foram abordados no painel. O diretor-geral do LinkedIn comentou que, antes da pandemia, a plataforma tinha cerca de 200 mil novas vagas de trabalho disponíveis a cada mês, hoje são cerca de 150 mil.

Beck afirmou que depois de uma queda brusca no número de posições, o mercado caminha para a estabilidade. Ainda assim, quem busca uma oportunidade agora deve se preparar para encarar uma competição maior.

“O mercado está mais concorrido, por isso se alguém estiver com mais dificuldade, saiba que é normal e está mais difícil para todo mundo porque as empresas se retraíram na pandemia”, disse o diretor-geral do LinkedIn.

Ele acrescentou que as empresas que estão abrindo vagas neste momento são aquelas mais requisitadas durante a crise, como os aplicativos de entrega e companhias que atuam no comércio eletrônico. Também entram na lista empresas que dão suporte às transformações digitais, como de tecnologia ou supply chain (cadeia de suprimentos).

Para se destacar no ambiente mais competitivo, as dicas de Beck são: aproveitar a maior oferta de cursos online para se reinventar; buscar treinamentos voltados a áreas estratégicas no momento, como digitalização; ser mais assertivo nas aplicações, mirando empresas nas quais suas habilidades sejam mais prezadas; e se preparar para a entrevista, estudando a empresa. “É difícil conseguir a entrevista e muitos, quando finalmente conseguem, não se preparam para este momento”, diz.

Veja outras dicas sobre como de destacar em entrevistas online.

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Priscila Yazbek

Editora de Finanças do InfoMoney.