Fundação Estudar dá bolsas para jovens empreendedores

Fundação Estudar foi criada pelo trio de empresários brasileiros que controla a Ambev, a Heinz e o Burger King

Gladys Ferraz Magalhães

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Quem buscar no Google informações sobre a Fundação Estudar encontrará repetidas vezes a frase que esse “é o lugar ideal para quem pensa em transformar o Brasil”. A instituição foi criada em 1991 por três dos maiores empresários brasileiros – Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcell Telles, que comandam empresas como AB InBev, Heinz e Burger King. Ao longo de mais de 20 anos, já apoiou os estudos de mais de 500 jovens, que hoje se destacam mundo afora em diversos setores e nos mais altos cargos de empresas respeitadas. Um dos que receberam ajuda da fundação é João Castro Neves, presidente da Ambev na América Latina. Ele foi o primeiro bolsista da instituição, fez um MBA na Universidade de Illinois em 1991 e diz que isso lhe abriu muitas portas. “Vinte anos atrás não tinha nem e-mail. Eu mandava carta para um presidente de um banco e o cara me ligava de volta”, diz ele em um vídeo institucional da Fundação Estudar.

Lemann decidiu criar a fundação porque era muito procurado por jovens talentosos que lhe pediam oportunidades para aprimorar seus conhecimentos. “Queremos ser um grande celeiro de talentos, com brasileiros que se destaquem em diversas áreas, pensem grande e inspirem outros brasileiros”, explica o diretor-executivo da fundação, Rodrigo Teles.

Se no início os três fundadores apoiavam a instituição especialmente com dinheiro, hoje a participação se dá, sobretudo, com tempo. Eles se oferecerem como mentores de bolsistas, fazem palestras e participam das atividades do conselho da instituição. O dinheiro, por sua vez, vem de doações e da contrapartida de ex-bolsistas que, ao serem selecionados pela fundação, se comprometem futuramente em ajudar outros talentos a estudar em algumas das melhores universidades do mundo. “Esperamos retorno, em média, depois de três anos de formado”, diz Teles.

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Sucessores de Steve Jobs

O trabalho da Fundação Estudar ganhou recentemente um atestado internacional de qualidade da revista Forbes. Em outubro do ano passado, a publicação levanto nomes de brasileiros que poderiam suceder, em termos de inovação, o lendário Steve Jobs, fundador da Apple. Todos os quatro jovens citados fizeram algum curso com bolsas da Fundação Estudar. Um deles, Gabriel Benarrós conheceu o trabalho da instituição no exterior. Apesar de achar a citação da Forbes “um exagero”, o jovem de 25 anos é fundador da startup Ingresse, uma plataforma que promove e vende ingressos de shows e eventos e que, somente em 2013, alcançou um faturamento de cerca de R$ 6 milhões.

Benarrós, que é de Manaus, se aproximou da fundação em 2007, quando terminou o ensino médio e começou a participar de processos seletivos em faculdades nos Estados Unidos. Ao pleitear ajuda financeira e ouvir muitas negativas, visto que diversas instituições não oferecem bolsas para estrangeiros, uma das faculdades indicou que ele procurasse a Fundação Estudar. O jovem havia sido aceito em 17 universidades americanas e, com a bolsa, acabou optando por um curso de graduação e depois um mestrado em Stanford, na Califórnia.

Mas o principal destaque da reportagem da Forbes foi o paulistano Roger Koeppl, de 25 anos. O rapaz, que estudou Processos de Produção na Fatec, largou uma carreira promissora com passagens por empresas como Fiat, GM, Volks e Apple. A decisão de abandonar um emprego com salário de R$ 6 mil ocorreu após participar de um programa da Cruz Vermelha em Belo Horizonte. “Já tinha experiência na indústria e esse programa na Cruz Vermelha me deu um clique, me mostrou que havia outro caminho. Posteriormente, passei a estudar o cooperativismo.”

Koeppl se formou em 2012 e sua aproximação com a fundação se deu de uma forma um pouco diferente dos demais bolsistas. Foi por meio do prêmio Jovens Inspiradores, programa no qual os inscritos tinham que gravar um vídeo de um minuto falando como pretendiam mudar o Brasil. Como um dos quatro vencedores, ele recebeu o prêmio de R$ 30 mil, utilizado para fazer um curso de verão na Babson College, uma das maiores escolas de empreendedorismo do mundo. Seu próximos passo será participar de um fórum na África, que lhe dará uma visão mais próxima de seu negócio, a cooperativa do setor de reciclagem Ugreen. “Eu já tinha o projeto da cooperativa antes de terminar a faculdade. O prêmio, além de me possibilitar buscar mais conhecimento, acelerou todo o projeto, pois trouxe muitas conexões incríveis.”

Por conta da visibilidade trazida pela Fundação Estudar, com apenas dois anos de existência, a Ugreen já tem o que comemorar. Além de um contrato grandioso com a Cushman &Wakefield, consultoria especializada em locação de imóveis comerciais, a cooperativa é uma das conselheiras do Instituto Ethos, que tem como missão ajudar empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável. Ele também fechou uma parceria com uma agência americana que legitima projetos que podem receber investimentos de empresas dos Estados Unidos.

Como funciona?

A fundação oferece bolsas de estudos, por mérito, a quem cursa faculdade ou pós-graduação em instituições renomadas no Brasil ou no exterior. O valor da bolsa, que pode incluir as despesas com viagem, moradia e alimentação, varia de aluno para aluno. A estimativa é que em duas décadas a entidade já tenha investido cerca de US$ 7 milhões no desenvolvimento dos bolsistas.

Para concorrer a uma das cerca de 30 bolsas oferecidas anualmente, o candidato precisa ter menos de 34 anos, atuar em uma das quatro áreas apoiadas pela fundação (gestão pública, empreendedorismo, gestão empresarial e social), além de passar por um rigoroso processo seletivo, com sete etapas, que incluem testes online de raciocínio lógico e de perfil, envio de um vídeo contando a trajetória de vida e por que quer ser um bolsista da instituição , dinâmica de grupo e entrevistas presenciais.

Ao ser aceito pela fundação, o bolsista recebe, além do dinheiro, um convite para fazer parte da Comunidade Estudar, onde terá contato com pessoas que realmente fazem a diferença em suas áreas de atuação. “Gente boa com gente boa propicia troca. Por isso, fazemos muitos encontros para que os jovens ampliem seus horizontes e acelerem a carreira”, explica Teles.

A oportunidade de fazer um bom networking, aliás, foi o que atraiu o bolsista Filipe Oliveira, de 26 anos. Ex-aluno do curso de Administração da USP e com experiência no mercado financeiro, Filipe foi admitido pela fundação em 2013 e atualmente faz MBA em Harvard. “A bolsa está me ajudando, mas a rede de relacionamentos é o que mais me incentivou, além da missão da fundação de fazer algo para o Brasil. Eu pretendo ajudar o Brasil com meu futuro negócio.”

Além do programa de bolsas, mais recentemente a Fundação Estudar tem agido em outras frentes. Uma delas é o portal estudarfora.org.br, que dá dicas a quem quer estudar no exterior. Outra iniciativa, com menos de seis meses de existência, é o portal napratica.org.br, que foca em dicas de carreira e dá a estudantes de todo o Brasil a oportunidade de ouvir palestras com grandes empresários, como Bernardo Hees, presidente da Heinz, ou mesmo o grande mentor da fundação, Jorge Paulo Lemann.

Essa matéria foi publicada na edição 48 da Revista InfoMoney, referente ao bimestre janeiro/fevereiro de 2014. Para tornar-se um assinante da revista, clique aqui.