Empreendedorismo se aprende na escola

O que ensinam as faculdades e escolas que oferecem a crianças, jovens e adultos aulas sobre a criação de novos negócios

Luiza Belloni Veronesi

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SÃO PAULO – O empreendedorismo é um sonho para a maioria dos brasileiros. Dados mostram que três em cada quatro brasileiros gostariam de ter sua própria empresa. O índice é o segundo maior do mundo, perdendo apenas para o da Turquia, de acordo com pesquisa da Endeavor, organização internacional sem fins lucrativos que promove o empreendedorismo. Por outro lado, a mesma Endeavor mostra que existe um grande déficit educacional que atrapalha os aspirantes a empreendedores.

Entre os maiores problemas enfrentados pelos brasileiros que sonham com um negócio próprio, estão a falta de conhecimento sobre gestão de pessoas, dificuldades no entendimento do fluxo de caixa e erros na administração do negócio. “O que acontece é que as pessoas têm pouco acesso à formação dos grandes empresários brasileiros. Elas apenas os conhecem de capas de revista, sabem que eles ganharam muito dinheiro e passam a acreditar que, para ter sucesso, é preciso nascer com um dom especial”, afirma o coordenador do Centro de Empreendedorismo do Insper, Thiago de Carvalho. Ele compara o empreendedorismo no Brasil à medicina na Idade Média, quando as pessoas acreditavam que a profissão de curar doenças não poderia ser aprendida por qualquer um. “Estamos passando por essa fase. Daqui a algum tempo, será impensável acreditar que uma pessoa nasça empreendedora.”

Aulas para empreender
Felizmente, tal realidade começa a mudar. Muitas escolas já incluem no currículo disciplinas, projetos, cursos e oficinas de empreendedorismo. E o melhor: desde o ensino fundamental. A escola Eduardo Gomes, de São Paulo, é um exemplo. Desde 2007, a disciplina chamada Empreendedorismo e Ética é lecionada para alunos do 2º ao 9º ano (antigas 1ª e 8ª séries).

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A matéria ensina conceitos básicos de finanças pessoais, além de discutir sobre éticas trabalhistas e o futuro empreendedor. “Nós trabalhamos de uma forma lúdica, levantando questões financeiras como o que é uma poupança, o que são dívidas e o que é empreendedorismo”, conta a professora que ministra a disciplina, Juliana Becegato Tobesche.

Segundo ela, as aulas pretendem ensinar conceitos básicos de economia e mercado de trabalho. “Ensinamos por meio de personagens em situações cotidianas. Por exemplo, a garotinha quer comprar algo de que não tem necessidade no momento. Vale a pena comprar? Nós levantamos questões sobre finanças a partir do cotidiano dos próprios alunos”, explica. Ela diz que o termo “empreendedorismo” na disciplina está na questão do futuro: saber empreender sua própria vida financeira quando se tornam adultos.

Além dos primeiros passos
Para os adolescentes, o Colégio E.A.G., em São Paulo, implantou, há dez anos, um projeto de miniempresa. “Os alunos do 3º colegial têm como tarefa montar uma empresa fictícia que deve seguir todas as etapas para a abertura de uma empresa real, como legislação, normas de abertura e demais necessidades”, explica o professor responsável pelo projeto, Eugênio Cesar Pedroso dos Santos. Segundo ele, para a realização da miniempresa, os alunos têm aulas específicas de Direito, Contabilidade, Editoração Eletrônica, além de orientação para o projeto. No final do ano letivo, precisam apresentar os resultados como os lucros, as dificuldades, os processos jurídicos e as demais experiências para uma banca composta por professores e até mesmo ex-alunos convidados. O objetivo do projeto, acrescenta Santos, é fazer com o que os alunos tenham um contato com o ecossistema empreendedor. “Durante a montagem e o andamento da miniempresa, eles se deparam com os problemas e as dificuldades de se trabalhar em grupo. Acabam descobrindo diversas habilidades até então desconhecidas e até outras possibilidades de carreiras e visões profissionais”, acrescenta o professor. Segundo o colégio, o retorno dos alunos e ex-alunos é positivo, e alguns já abriram a própria empresa.

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Já nas instituições de ensino superior, empreender vai além da ficção. Diversas universidades oferecem, para aspirantes a empreendedores, além de disciplinas de empreendedorismo, as incubadoras, que ajudam empresas de estágio inicial de universitários e pós-graduados, oferecendo assessoria de capacitação, como gestão, liderança, marketing, desenvolvimento pessoal, contábil, entre outras contribuições, além de um espaço reservado para funcionamento, com taxa de locação reduzida. Algumas instituições de ensino também possuem centros de empreendedorismo, como é o caso do Insper. Por meio dele, Carvalho afirma que universitários e pós-graduados recebem ajuda para abrir sua empresa – desde escrever planos de negócios até conhecer startups da área em que se pretende investir. “Nós buscamos transmitir a cultura empreendedora, trazendo outros empreendedores, fundos de investimentos, empresas de alunos e ex-alunos”, explica Carvalho. “Temos muitos alunos que já criaram e fecharam empresas no terceiro ou quarto ano de faculdade. De cinco anos para cá, esse número aumentou”, conta o coordenador. “Temos uma competição de negócios anual e, a cada edição, percebemos um aumento no número de inscritos. Os alunos colocam em prática todo esse conhecimento. Muitas vezes, podemos despertar dentro dele um conhecimento empresarial até então desconhecido por ele e por sua família.”

Em um país de empreendedores, como se destacar?
Carvalho garante: hoje o Brasil é um país de empreendedores. Mas, em sua opinião, falta conhecimento para competir com empresas estrangeiras. “Atualmente, ter uma empresa não é apenas uma ocupação, mas um modo de mostrar quem você é ao mundo. Muitos acham que abrir uma empresa é não ter chefe, ser independente ou ganhar mais, mas isso é um erro que mostra falta de planejamento na carreira. Empreender é muito mais que isso”, diz o coordenador.

Essa matéria foi publicada na edição n° 45 da revista InfoMoney, referente ao bimestre julho/agosto de 2013. Para tornar-se um assinante da revista, clique aqui.