Com investimento de Lemann e outros empresários, jovem empreendedor quer mudar as favelas

Em entrevista ao InfoMoney, Edu Lyra contou como a ONG surgiu e falou sobre a expansão que vai acontecer com a ajuda de um "quarteto mágico" de empresários    

Giovanna Sutto

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SÃO PAULO – “O novo Bill Gates pode sair da favela e ser preto”. Essa frase resume o que Eduardo Lyra acredita liderando o projeto Gerando Falcões, uma ONG que visa ajudar jovens de favelas a terem acesso à educação e a chance de um futuro profissional.

Criada em 2011 pelo jovem de 30 anos, a ONG ajuda mais de 1.200 famílias e auxilia crianças que tenham a partir de 6 anos. Em entrevista ao InfoMoney, Edu Lyra, como é mais conhecido, contou como a ONG surgiu, falou sobre a expansão que vai acontecer com a ajuda de um “quarteto mágico” de empresários e sobre as expectativas do projeto daqui para frente.

O caso do jovem empreendedor é um típico modelo de superação. Nasceu em uma favela em Guarulhos, na grande São Paulo, passou sua infância morando em um barraco e visitando seu pai na prisão. “Minha mãe sempre esteve comigo e foi minha figura inspiradora que tem uma frase que levo para vida: “não importa da onde você veio, mas sim para onde você vai”, conta Lyra. Foi a partir deste lema que o jovem decidiu estudar (ele fez faculdade de jornalismo, mas não concluiu o curso) e fundar a ONG Gerando Falcões, sediada em Poá, também na grande SP. 

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Hoje, o projeto atende 3 favelas de São Paulo: favela da Tubulação, da Seringueira, e Beverly Hills, que são comunidades autogerenciadas, ou seja, não possuem creches, escolas ou saneamento básico. A ONG divide as crianças por idade: dos 6 aos 14 anos, os alunos matriculados têm aulas de diversos esportes, cultura, musicalização e inglês. Dos 14 para cima, começam a ter aulas de qualificação profissional com o objetivo de ingressá-los no mercado de trabalho. Há aulas de programação, maquiagem, empreendedorismo, logística, entre outros. Além disso, a instituição oferece auxílio de psicólogos e assistentes sociais para qualquer idade.

O projeto conta com mais de 50 profissionais e tem apoio e parceria de empresas como Microsoft, Oracle, Motorola, Vult, entre outras.

Expansão

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Lyra tem parceria também com empresários que chama de “quarteto mágico”: Jorge Paulo Lemann (dono da AB InBev), Daniel  Castanho (Presidente da Anima Educação), Carlos Wizard (dono da Mundo Verde) e Flavio Augusto (fundador da Wise Up). Os empresários fizeram um aporte para ONG que será direcionado a nova fase do projeto: sua expansão com base em um modelo similar ao de franquias. Lyra não revelou o valor do investimento, mas garantiu que é uma “quantia relevante”.

Lyra pretende abrir, além da sede, mais 10 unidades em 5 anos. As duas primeiras serão inauguradas em março e maio, em uma favela da Vila Prudente, São Paulo, e na favela de Vergel do Lago, Maceió, Alagoas, respectivamente.

“Com as 10 unidades funcionando vamos atender a cerca de 18 mil famílias no Brasil todo”, explica Lyra. “A ideia é ser uma franquia social, uma rede de ONGs dentro das favelas. Para cada unidade nova que abrirmos levaremos um tripé base: nossa metodologia, nosso modelo de gestão e o recurso financeiro”, explica.

Com essa meta ousada, o plano de gestão é bastante claro: se ele não cumprir metas, que inclui entre outras coisas, novas matrículas, assiduidade dos alunos, metas de jovens qualificados e metas de jovens no mercado, os investimentos dos empresários não serão renovados. Os profissionais da ONG também têm metas e bônus anuais para manter o modelo de negócio crescendo.

Sobre a parceria com os empresários que deu um grande impulso ao projeto, Lyra reconhece que é um grande diferencial para o projeto. Ele afirma que os 4 empresários oferecem mais do investimento financeiro, trazem também sua expertise, credibilidade e a confiança na causa do projeto. “Eu não aceito uma sociedade feita por muros nos dividindo. Derrubamos muros existentes entre nós com um propósito em comum para que possamos construir pontes entre favela e a sociedade”, afirma Lyra.  

Lyra conta que essa captação de grandes nomes para a expansão do projeto começou no escritório de Lemann, em um bate papo. O empresário aconselhou que o jovem fosse atrás de apoio e apresentasse uma ideia de projeto mais concreta. “Foi então que busquei orientação com duas consultorias a Accenture, que me ajudou a montar a ideia macro do projeto sem custo algum e a Cherto que auxiliou em todos os processos a partir disso”, conta. Em 5 meses o plano de expansão estava desenhado e com isso em mãos Lyra conseguiu o apoio do restante dos empresários.

Estrutura e expectativas

Com o aporte e a orientação dos empresários, a ONG cada vez mais se profissionaliza. Todas as áreas da Gerando Falcões têm metas, indicadores de performance, liderança reconhecida com bônus, gestão e plano de carreira.

O nome da ONG faz referência ao Falcão. “É um animal que voa, vê tudo de cima, e por isso consegue ver além da escassez que se tem na favela. Quando você olha de cima, muda seu ponto de vista, sua perspectiva – e não falo de vitimismo. Se mudarmos a perspectivas desses jovens sei que eles tem tudo para ir atrás e realizar os seus sonhos – mesmo vindo da favela”, afirma Lyra.

O projeto não deixa de ser uma ferramenta social para mudar vidas, trazer esperanças para transformar uma realidade social bastante cruel. Ainda se tem muito para caminhar e para lutar, mas a ONG realmente pode mudar a vida de muitos jovens.

Lyra entende que as oportunidades dadas ao jovens da favela e aos de classe média não são iguais, mas afirma que é justamente o que quer desmitificar. “Queremos democratizar essas oportunidades. O novo Bill Gates pode sair da favela e ser preto. O sucesso precisa vir da favela uma hora ou outra”, afirma o jovem.

Ele acredita no esforço pessoal e na meritocracia, “levando em consideração o ponto que cada um parte na vida”.  “Elon Musk quer morrer com 70 anos em Marte. Eu quero morrer bem velho, mas num Brasil sem favelas”, diz Lyra. Parece um sonho ousado, mas que o jovem realmente considera. Ele reconhece que precisa de mais gente engajada na causa para crescer cada vez mais e daqui para frente seu objetivo é colocar em prática a expansão e atrair mais pessoas.

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Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.