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Zoomp: o que aconteceu com a marca do ‘raio amarelo’?

Grife chegou a ter Gisele como garota-propaganda, mas não aguentou o próprio gigantismo, acumulou dívidas e teve falência decretada

Mitchel Diniz IA InfoMoney

Raio amarelo da Zoomp ficou conhecido internacionalmente (Reprodução da internet)
Raio amarelo da Zoomp ficou conhecido internacionalmente (Reprodução da internet)

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Fundada em 1974 por Renato Kherlakian, a Zoomp nasceu com um espírito ousado e inovador, apostando na valorização do jeans brasileiro em um mercado até então dominado por referências internacionais. O início foi modesto, com apenas algumas máquinas de costura, mas a proposta de modelagens diferenciadas e estética arrojada logo chamou atenção. Em pouco tempo, a marca deixou de ser apenas mais uma etiqueta para se tornar um símbolo de estilo urbano e desejo entre os jovens brasileiros.

A consagração veio quando o raio amarelo da logomarca cruzou fronteiras e começou a ser reconhecido internacionalmente. A Zoomp chegou a ter lojas em 10 países. As campanhas publicitárias de alto impacto e os desfiles estrelados impulsionaram a marca à fama. Ícones como Gisele Bündchen, ainda no início da carreira, e o renomado fotógrafo Mario Testino colaboraram para reforçar a imagem fashion da Zoomp. Esses nomes ajudaram a posicionar a grife como referência em jeanswear premium no Brasil.

Nos anos seguintes à sua expansão internacional, a Zoomp começou a enfrentar sérias dificuldades para administrar o próprio crescimento. O cenário da moda no Brasil mudava rapidamente com a abertura do mercado a produtos importados e a ascensão das grandes redes de varejo. A marca, que antes liderava o segmento premium de jeanswear, passou a perder espaço e teve dificuldade para manter sua posição.

Renato Kherlakian, fundador da marca Zoomp (Foto: Reprodução das redes sociais)

Novos donos não resolveram problemas financeiros

Em 2006, o controle da Zoomp passou para a holding HLDC, dos empresários Enzo Monzani e Conrado Will, que assumiram as dívidas da empresa, estimadas em R$ 130 milhões, na tentativa de reestruturá-la. Na mesma época, a administradora de fundos Global Capital firmou um contrato de gestão com a marca.

No fim de 2007, a HLDC anunciou a criação do grupo I’M (Identidade Moda), que visava reunir grandes nomes da moda brasileira sob um mesmo guarda-chuva, como Zoomp, Alexandre Herchcovitch e Fause Haten. No entanto, o projeto não se sustentou: em março de 2008, tanto Herchcovitch quanto Haten deixaram o grupo, sinalizando o início do desmonte dessa tentativa de consolidação no setor.

Falência decretada

Mergulhada em obrigações trabalhistas e com prestadores de serviços, a Zoomp teve falência decretada em 2009, em um processo de cobrança de dívida movido por um fornecedor da marca. A fábrica da empresa em Barueri, na grande São Paulo, chegou a ser fechada. A empresa recorreu da decisão e a falência foi revogada. Naquele mesmo ano, a Justiça aprovou o pedido de recuperação judicial da Zoomp. E em 2010, a marca fechou todas as suas lojas físicas.

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Seis anos depois, a Zoomp foi arrematada em leilão judicial que declarou a K2, de Alberto Hiar — o “Turco Loco” — como nova proprietária da marca. O negócio, porém, foi contestado nos tribunais. A própria Zoomp divulgou nota à época afirmando que a aquisição estava sendo questionada judicialmente, o que levantava dúvidas sobre a legalidade da venda isolada da marca sem os demais ativos da empresa.

Hiar mobilizou advogados para tentar estruturar uma compra que evitasse o passivo milionário da antiga gestão, algo que já havia afastado outros potenciais investidores.

Alberto Hiar, o “Turco Loco”, em foto de 2015 (Reprodução das redes sociais)

Efeito dominó

A polêmica compra da Zoomp, no entanto, teve consequências severas para a própria K2. O valor inicial da aquisição — R$ 5 milhões de entrada, além de cerca de R$ 1 milhão investido em publicidade — teria saído diretamente dos cofres da Cavalera, também administrada por Hiar.

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Com o passar dos anos, os problemas financeiros se agravaram. Em 2021, a K2 entrou em recuperação judicial após forte queda nas vendas e atritos internos entre os sócios.

Embora tenha conseguido a aprovação de um plano de pagamento, o Ministério Público passou a pressionar pela falência da empresa, alegando que a K2 não vinha cumprindo as obrigações do acordo e acumulava atrasos, inclusive com a administradora judicial do processo.

Para a Zoomp, ficaram apenas promessas de um relançamento. Sob gestão da K2, a marca chegou a ter uma “pop up” store na Oscar Freire, badalada rua de grifes em São Paulo, que não resistiu à pandemia.

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Em uma rápida pesquisa na internet, é possível encontrar peças novas da Zoomp vendidas em market places e outlets. A marca não deixou de existir, mas nem de longe tem a força que já possuiu no passado.

Mesmo sem loja própria, Zoomp ainda vende peças em outlets e market places (Reprodução da internet)

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados