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Varejo posterga retorno à Bolsa com cenário macro ainda desafiador

Endividamento, inadimplência, concorrência e  MP 1185 estão entre fatores de incerteza em relação às companhias

Lucinda Pinto

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A volta das ofertas de ações de empresas de varejo deve ocorrer mais lentamente do que se previa. Isso já ficou claro em recentes anúncios de companhias, como o do adiamento pelo GPA de seu follow-on e o reforço do caixa da Magazine Luiza por meio de aumento de capital privado, em vez da esperada oferta de ações. Mesmo com a queda dos juros e depois de ajustes internos feitos pelas companhias no ano passado, ainda há muitas incertezas pesando sobre o setor, o que deve manter o investidor arredio.

Outra empresa que surgiu no noticiário da última semana foi Casas Bahia, que terá que lidar com o vencimento de uma dívida de R$ 1 bilhão em abril.  Em resposta à informação que circulou de que o plano seria fazer uma nova emissão de valor equivalente para estender esse prazo, a empresa publicou fato relevante em que afirma que “não há no momento qualquer definição quanto a eventual captação de recursos por meio da emissão de debêntures”.

A tônica do setor de varejo em 2023 foi reorganização interna: as empresas cortaram custos, muitas fecharam lojas e abriram mão de atividades pouco rentáveis. Isso significou, em alguns casos, uma ênfase menor no e-commerce. Tudo isso, somado à perspectiva de alívio de juros, alimentou a expectativa de que as empresas entrariam em uma trajetória mais positiva neste ano, e assim estariam preparadas para retomar as ofertas de ações.

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O que se viu, no entanto, é que o espaço para acesso dessas empresas ainda é restrito. O que gestores dizem é que as incertezas no setor continuam elevadas, e por isso o apetite por esses papéis continua reduzido. Isso acontece tanto por causa do cenário macro, da maior competição e, mais recentemente, da Medida Provisória 1.185, que muda as regras de tributação dos incentivos fiscais, com impacto potencial de até 30% do lucro de algumas dessas companhias. Neste momento, as empresas estão fazendo as contas para entender qual será o efeito da medida sobre o resultado e quanto será possível repassar para o consumidor. Também estão em análise estratégias que podem envolver mudança de domicílio ou mesmo a judicialização da questão.

Além da MP, aprovada em dezembro de 2023, o mercado enxerga um quadro de inadimplência ainda preocupante, com impacto sobre a capacidade de consumo, mesmo com o alívio da Selic. Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio, a inadimplência em janeiro atingiu 12%, acima do observado em igual período de 2023 (11,6%). Sabe-se que, em ciclos de alívio monetário, o efeito benigno do corte de juros sobre o endividamento das famílias leva algum tempo para ser percebido.

Essas questões conjunturais tornam mais difícil para o setor enfrentar a mudança estrutural do setor que se desenhou após a pandemia. E que tem como pano de fundo a abrupta elevação do custo de capital, com a disparada dos juros mundialmente. “Os níveis de valuation que as empresas atingiram nos tempos de capital abundante não voltam mais. Empresas que eram avaliadas como sendo de tecnologia [por causa da construção de marketplaces] voltaram a ser empresas que vendem eletroeletrônicos”, define um gestor, que prefere não ser identificado. Nessa mudança, a forte presença do Mercado Livre se tornou uma barreira difícil de ser transposta.

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No segmento de varejo, as empresas lidam com a concorrência das asiáticas. E, no de alimentos, o que parece claro é que o jogo está favorável para os atacarejos – o que deixa o GPA, por exemplo, em desvantagem neste momento.

Outro aspecto que também atrapalha a volta de algumas varejistas ao mercado é o tamanho: muitas das empresas tradicionais do setor encolheram a ponto de saírem do radar dos analistas. É o caso de GPA, cujo valor de mercado hoje está próximo a R$ 1 bilhão. Lojas Marisa, um case de reestruturação financeira considerado, também segue abaixo do radar, com um valor abaixo de R$ 200 milhões.

Isso não quer dizer que o mercado estará totalmente fechado para o setor. Gestores ouvidos pelo IM Business dizem estar otimistas com ofertas de ações e também de dívida por varejistas de diferentes segmentos. Mas provavelmente com maior frequência a partir do segundo semestre – e sempre de forma criteriosa.

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Lucinda Pinto

Editora-assistente do Broadcast, da Agência Estado por 11 anos. Em 2010, foi para o Valor Econômico, onde ocupou as funções de editora assistente de Finanças, editora do Valor PRO e repórter especial.