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Petrobras remonta ao pré-sal para ‘chegar chegando’ na energia eólica – mas ‘sem loucuras’

Em uma tacada, estatal se tornou a líder de projetos de usinas eólicas em alto-mar, mas, entre a ambição e o fato, ainda há um longo caminho

Rikardy Tooge

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A Petrobras (PETR4) detalhou nesta quarta-feira (13) os seus nada modestos planos para a geração de energia eólica em alto-mar (“offshore”), que ainda não está regulamentada. Em uma tese que coloca a maior empresa do país como indutora da cadeia, a Petrobras investirá R$ 130 milhões para a WEG (WEGE3) acelerar a fabricação de aerogeradores e ganhar expertise para o desafio no Oceano Atlântico. Em contrapartida, a estatal terá prioridade na compra e receberá royalties pela venda dos equipamentos fruto da parceria.

“A Petrobras ‘chegou chegando’ no setor eólico. A gigante do petróleo brasileiro também deve ser gigante na transição energética”, bradou o presidente da companhia, Jean Paul Prates. “Nós estamos prontos para entrar no jogo.”

A estatal anunciou que já protocolou 10 pedidos para exploração de energia eólica no mar brasileiro. Sete projetos estão no Nordeste, dois no Sudeste e um no Sul. Com isso, a Petrobras sinaliza a intenção de produzir 23 gigawatts, superando todas as outras empresas que estão na fila do Ibama. Na lista do órgão ambiental, há cerca de outros 80 projetos. Todos eles aguardam a regulamentação das outorgas para eólicas offshore. Tramita no Congresso um texto do então senador Jean Paul Prates – o próprio – para definir o tema. O agora Jean Paul CEO prevê que o tema seja resolvido por seus antigos colegas no primeiro semestre de 2024.

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Jean Paul Prates, CEO da Petrobras, e Harry Schmelzer Jr., CEO da WEG, em anúncio de investimentos da estatal em energia eólica (Luiz Guilherme Fernandes/Petrobras)

Outra dúvida é sobre a viabilidade econômica dos projetos. Conforme mostrou o IM Business, há certo pessimismo com o setor diante dos atuais níveis do preço de energia, que está em uma faixa de R$ 70 a R$ 100 por quilowatt hora, tornando o investimentos em eólicas menos atrativos. Se para colocar de pé uma usina eólica onshore (em terra firme) seria necessário um valor acima de R$ 200 por quilowatt hora, esse preço teria que ser o triplo para projetos em alto-mar.

Especialistas apontam que somente uma mudança estrutural no consumo de energia poderia fazer com que os preços tragam apelo aos projetos. O CEO da Petrobras reconhece o desafio, mas lembra que as desconfianças sobre rentabilidade também existiam no início do pré-sal.

“Temos que ser impulsionadores, mas sem fazer caridades. A Petrobras não fará maluquices [nos projetos offshore]. Sabemos que o mercado tem um olhar imediatista e faz seus cálculos a valor presente. Nós passamos isso no pré-sal, em que ele não seria viável se o barril do petróleo não chegasse a determinado valor – e hoje é a nossa maior fonte de petróleo”, lembra Prates. “Vamos ter ganhos tecnológicos [com o investimento na WEG] e vamos ser competitivos. No futuro, a Margem Equatorial [área priorizada pela Petrobras nos pedidos junto ao Ibama] será a área mais atrativa do mundo e terá um custo baixo.”

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Diferentemente do pregão de 8 de novembro de 2007, data em que a Petrobras anunciou o potencial de produção do campo Tupi, localizado na camada do pré-sal, e viu suas ações dispararem 14,2%, o mercado não reagiu com o mesmo entusiasmo com o “pré-sal eólico”. Nesta quarta-feira, as ações da estatal fecharam com recuo de 1,5%, a R$ 33,03 – no ano, o papel sobe 66,3%.

Em outra frente, o diretor de transição energética da Petrobras, Maurício Tolmasquim, reforça que já existem estudos indicando que o Brasil tem condições de oferecer o hidrogênio verde — combustível produzido a partir de uma fonte de energia limpa como a eólica — mais barato do mundo já em 2030.

“Se isso for verdade, o Brasil vai precisar de um ‘caminhão’ de energia para atender as mais diversas indústrias”. Segundo ele, no setor de infraestrutura, falar de três anos à frente já é passado. “Temos que olhar ainda mais adiante. Os grandes vencedores são as empresas e os países que arriscaram, obviamente em uma visão baseada em dados”, acrescenta.

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Sem capex definido, uma vez que os projetos estão em fase inicial, Tolmasquim segue a cartilha do CEO e reforça que ser visionário não significa queimar caixa. “A Petrobras só vai entrar em projetos que o valor presente líquido é positivo. Não vamos investir se não for rentável, mas nossa obrigação é estudar”. O executivo diz ainda que a Petrobras também avalia a aquisição de usinas eólicas, sejam elas onshore e offshore, dentro e fora do Brasil.

Por fim, o custo dos equipamentos também é tema de preocupação. Com a saída de grandes fornecedores do país, como GE e Siemens, por conta da escalada de custos das matérias-primas, o setor ficou em compasso de espera para saber quais seriam os próximos passos das fabricantes.

“A situação já se normalizou, os preços dos aerogeradores subiram e as commodities [aço e alumínio, em especial] estão se estabilizando. Estamos com vida um pouco mais fácil”, afirma João Paulo Gualberto da Silva, diretor da WEG, empresa que viu suas ações subirem 3,6% nesta quarta, sendo uma das principais altas do Ibovespa na sessão.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br