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Eólicas enfrentam ‘vento contrário’ para avançar

Setor viveu boom de expansão nos últimos anos, mas margens dos parques se tornaram desafio para empresas

Rikardy Tooge

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Depois de viver um ciclo virtuoso nos últimos anos, o setor de energia eólica colocou o pé no freio, inibido pela maior competitividade de outras indústrias, como a solar, e pelos preços pouco atrativos dessa modalidade de energia. Na curva até 2027, por exemplo, o valor do quilowatt-hora está em torno de R$ 100, metade do que seria um valor atrativo para novos investimentos nesta fonte.

O primeiro sinal de alerta veio dos fornecedores de equipamentos para as usinas eólicas. Entre o fim de 2022 e o início deste ano, a americana GE Renewable Energy e a alemã Siemens Gamesa, duas importantes produtoras de aerogeradores, interromperam suas atividades no país. Oficialmente, as empresas não deram detalhes da decisão, mas Marcelo Sá, estrategista chefe de ações do Itaú BBA, explica que as companhias não estavam conseguindo rentabilizar o negócio no Brasil.

“Tivemos uma pressão no custo das matérias-primas na época da pandemia, quando esses fornecedores já tinham contratos fechados. Ou seja, estavam com preços travados em um momento em que seu insumo subia, e não conseguiam repassar. Isso afetou muitas companhias, que acabaram perdendo dinheiro”, resume.

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Com a saída da GE e a hibernação da fábrica da Siemens Gamesa na Bahia, poucos fornecedores são capazes de atender a demanda para a construção dos 630 parques eólicos que já foram autorizados pela Aneel (49,7% da potência prevista para os próximos anos).

Atualmente, três companhias fornecem aerogeradores no país: a dinamarquesa Vestas, a alemã Nordex Acciona e a brasileira Weg, que ainda dá seus primeiros passos nesta vertical. Em outra frente, a Gerdau, que possui uma joint-venture com as japonesas Sumitomo e Japan Steel Works (JSW) para a fabricação de peças para a geração de energia eólica, tem sinalizado que pretende priorizar a energia solar.

O diretor executivo da Casa dos Ventos, Lucas Araripe, em conversa recente com o IM Business, avaliou a saída de fornecedores como uma situação “delicada”. Mas ressaltou que, no seu caso, a companhia tem conseguido fechar contratos de fornecimento de equipamentos a preços competitivos. No fim de março, a Casa dos Ventos anunciou acordo com a Vestas para a compra de 291 aerogeradores que equivalem a 1,31 gigawatt de potência. Foi também o maior acordo comercial para um projeto “onshore” da dinamarquesa – as empresas não divulgaram os valores envolvidos.

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A crise acontece num momento em que o Brasil vem batendo seguidos recordes no incremento de geração de energia eólica. Somente neste primeiro semestre, a geração de energia a partir da força dos ventos foi responsável por 44,5% do incremento de capacidade instalada do país, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) – 160 usinas entraram em operação no período.

Marcelo Sá, do Itaú BBA, lembra que a expansão segue sendo reflexo de projetos contratados no contexto da crise hídrica de 2021, em que o preço da energia disparou em função da menor geração das usinas hidrelétricas e da necessidade de acionamento das termelétricas. Porém, desde então, o que se viu foi uma deterioração das margens do setor.

“[A crise] Foi um soluço pontual que já se estabilizou. Basicamente não estamos vendo novos projetos serem anunciados, o que temos visto são investimentos que já foram contratados lá atrás. Todas as empresas de utilities seguraram o capex desde então”, explica.

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Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), reconhece que 2023 está sendo um ano mais desafiador para a atividade, mas pondera que o efeito da saída dos fornecedores já foi absorvido pelo setor. “A saída de empresas desse porte não ocorre do dia para a noite. Primeiro, elas deixam de atender novos pedidos – e isso já vinha ocorrendo há algum tempo”, afirma. Gannoum diz ainda que novos fornecedores começam a se interessar pelas oportunidades no Brasil, como a americana Goldwind, que desembarcou recentemente.

Demanda é a chave

Marcelo Sá, do Itaú BBA, reforça que somente uma mudança estrutural de demanda poderá alavancar os investimentos em novos projetos de geração de energia eólica. O especialista lembra que o consumo histórico de energia no país não sugere espaço para iniciativas com capex mais alto, como é o caso dos parques eólicos.

Teses como a do hidrogênio verde, na qual o combustível é produzido a partir de uma fonte de energia limpa como a eólica, e a reindustrialização do país são sempre citadas, mas Sá lembra que são iniciativas que ainda vão levar tempo para ganharem escala a ponto de alterar a demanda por energia.

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“Essas iniciativas trariam alguma mudança estrutural, mas é algo a longo prazo. Olhando essa década, é de se imaginar que os preços da energia sigam nesse patamar nos próximos anos – a não ser que ocorra um problema grave de hidrologia. Não faz sentido desenvolver projetos novos, a não ser que venham mudanças regulatórias ou alguma tecnologia mais barata”, aponta Sá.

Elbia Gannoum já enxerga um cenário mais otimista. Para ela, o plano de reindustrialização – ou neoindustrialização, como prefere o governo federal – tende a ganhar tração mais rápido do que se imagina. Anunciado no fim de julho, o pacote, que coloca o Estado novamente como indutor do crescimento, prevê R$ 106,2 bilhões em recursos públicos para investimentos no setor nos próximos quatro anos e o incentivo à energia verde terá prioridade no programa.

IM Business

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Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br