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Movida a biodiesel, Be8 diversifica operações e vai em busca de recursos

Empresa, que faturou R$ 9,6 bi em 2022, desengaveta projetos de mais de R$ 2 bilhões no Brasil

Fernando Lopes

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A melhora do ambiente macroeconômico e a retomada da elevação do percentual de mistura de biodiesel no diesel fóssil comercializado nos postos brasileiros levaram a Be8 a desengavetar seus planos de investimentos no país. Líder em vendas do biocombustível, a empresa quer aproveitar o horizonte favorável para aprofundar a diversificação de suas operações, e os aportes nesse sentido tendem a superar R$ 2 bilhões nos próximos anos apenas no Brasil – a companhia também está presente no Paraguai e na Suíça.

Parte da holding ECB Group, controlada pelo empresário Erasmo Carlos Battistella, a Be8 assinou em meados de junho, com o governo do Paraná, um protocolo de intenções para a construção de uma esmagadora de soja no município de Marialva, orçada em cerca de R$ 1,5 bilhão (incluindo capital de giro). No início de agosto, menos de dois meses depois, a companhia confirmou que vai construir uma usina de etanol de grande escala em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, em um projeto que poderá se aproximar de R$ 1 bilhão.

Battistella afirmou ao IM Business que, nos dois casos, os terrenos já foram comprados e os trabalhos de engenharia estão em desenvolvimento, enquanto as equações financeiras que tornarão os investimentos viáveis estão sendo definidas. Linhas de financiamento no país e no exterior (em dólar) estão sendo estudadas, e parte do montante total necessário será coberta com recursos próprios.

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Erasmo Carlos Battistella, presidente da Be8 (Foto: Divulgação)

Em 2022, o faturamento da Be8 alcançou R$ 9,6 bilhões, 9% mais que em 2021, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) cresceu 12%, para R$ 354 milhões, e a produção de biodiesel chegou a 890 mil metros cúbicos. O avanço veio sobretudo da expansão de capacidade, mas não deixou de refletir o aumento dos preços da soja, principal matéria-prima do biocombustível fabricado pela empresa, que também trabalha com óleo de cozinha usado (OCU) e gorduras animais.

“O início da trajetória de queda da taxa básica de juros [Selic] nos animou a retomar projetos no Brasil que tínhamos em carteira e que agora vamos iniciar. No médio prazo, queremos crescer nos nossos mercados tradicionais e ampliar as exportações, inclusive aos Estados Unidos. No longo prazo, vamos nos consolidar como uma empresa de energias renováveis”, disse Battistella, sem esquecer que a empresa ganhará musculatura com o aumento de 10% para 12% da mistura de biodiesel no diesel, que ampliará a demanda.

Esse objetivo de longo prazo, lembrou o empresário, foi o que levou a líder em biodiesel a mudar seu nome de BSBios, que no passado foi sócia da Petrobras, para Be8, em abril. E, num futuro não muito distante, outros projetos ligados à transição energética, como o uso de hidrogênio verde nas operações que a companhia tem no Paraguai, estão na mira. Mas provavelmente antes disso o processo de diversificação fará a empresa se fortalecer na área de nutrição.

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Na esmagadora de soja em Marialva, que deverá entrar em operação em 2025, a companhia produzirá óleo de soja, destinado principalmente à fabricação de biodiesel, mas também farelo, voltado à indústria de aves e suínos. Na nova usina de Passo Fundo, que fará etanol a partir de matérias-primas como milho, trigo e triticale, haverá também produção de DDGS (Grãos Secos de Destilaria com Solúveis) e, em uma unidade integrada, produção de glúten vital, um concentrado proteico em pó obtido da farinha de cereais e usado como aditivo pela indústria de panificação. A planta de glúten vital deverá exigir investimentos de cerca de R$ 300 milhões, que se somarão aos R$ 550 milhões necessários para a construção da usina de etanol em si.

Embora ainda não tenha definido as fontes de recursos para os projetos nos municípios paranaense e gaúcho, onde já estão localizadas suas unidades em operação, Battistella, que preside a Be8, acredita que o ambiente está favorável, uma vez que “o capital resolveu apoiar a tese da transição energética”. Nesse contexto, emissões de debêntures ou de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) poderão ser opções para fechar a conta.

Paralelamente à entrada em novos mercados, a diversificação geográfica da Be8 também continua evoluindo e será fundamental para que a empresa cumpra o objetivo de triplicar de tamanho em cinco anos. No Paraguai, está em curso o projeto Omega Green, onde serão produzidos biocombustíveis avançados como o SAF (aviação), a partir de investimentos calculados em US$ 1 bilhão.

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Também no país vizinho, a Be8 adquiriu em janeiro deste ano o Complexo Industrial La Paloma, que abriga uma esmagadora de soja e uma fábrica de biodiesel. Na Suíça, a companhia acaba de completar um ano de atividades, com uma trading e uma fábrica de biodiesel que já respondem por cerca de 15% de seu faturamento total.

Fernando Lopes

Cobriu o setor de energia e foi editor do semanário Gazeta Mercantil Latino-Americana até 2000. Foi editor de Agro no Valor Econômico até fevereiro de 2023.