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Importante termômetro da atividade de construção imobiliária, civil e de infraestrutura do país, o setor cimenteiro joga todas as fichas na recuperação da demanda em 2024 nos programas de moradia popular, o Minha Casa, Minha Vida (MCMV), de obras pesadas, o PAC, e na redução da taxa básica de juros do país, a Selic, e no maior emprego e renda das famílias. A indústria viveu o segundo ano de desempenho negativo, após forte recuperação entre 2019 e 2021, que trouxe alento às cimenteiras que operam no Brasil.
Paulo Camillo Penna, presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), traça projeção de crescimento de 2% neste ano. Mas ressalva que será insuficiente para repor as perdas de vendas acumuladas nos dois últimos anos – menos 2,8% em 2022 e 1,7% no ano passado. O MCMV, que decolou a partir do terceiro trimestre, tem previsão de impulsionar a construção de 500 mil moradias no ano, de um total de 2 milhões até 2026. “Tem potencial de gerar vendas de 2,5 milhões de toneladas de cimento no ano e atingir 10 milhões nos quatro anos de programa”, afirma. No terceiro trimestre já respondia por 46% dos novos imóveis lançados.
O volume de lançamentos, principalmente os voltados à classe média, encolheu no ano passado. Retração de 16% até setembro em novos projetos, com impacto na demanda por cimento, que, ao lado de vergalhão de aço, é insumos básico nas obras de casas, reformas, puxadinhos, edifícios residenciais e comerciais, e de obras de infraestrutura e industriais. Imóveis residenciais e comerciais respondem por 70% do consumo de cimento no país; infraestrutura, por 12% a 14% (já foi 25% em 2011), informa o SNIC. O restante é industrial.
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O PAC ainda não ganhou velocidade de voo e sofreu cortes no orçamento federal deste ano, mas tem recursos de R$ 55 bilhões de aplicações em obras, como rodovias, aeroportos, ferrovias e outras no ano. No saneamento, após dois/três anos da regulamentação do novo marco regulatório, espera-se maior onda de investimentos. “O BNDES tem R$ 27 bilhões para investir nessa área e a Sabesp (estatal paulista de água e esgoto com plano de ser privatizada) projeta desembolsos de R$ 53 bilhões até 2033, podendo aplicar mais R$ 10 bilhões se mudar para a gestão privada”, afirma Penna. “Vemos um bom caminho na infraestrutura nos próximos anos”.
A continuidade da queda na taxa básica de juro, a Selic, que saiu de 13,75% para 11,75% e tem indicações de ir a até 9% neste ano, destaca o executivo, aumenta a competitividade para investir em imóveis frente ao direcionamento de recursos para produtos financeiros. A compra de imóveis poderá ficar mais atrativa. A queda da Selic, diz Penna, também barateia os juros do crédito imobiliário. Segundo o SNIC, houve queda de 41% no crédito em 2023 frente a 2022.
Ele indica que a maior geração de emprego e de renda podem contribuir para a venda de cimento, principalmente no varejo, que é praticamente toda voltada à autoconstrução. As reformas, os ‘puxadinhos’ e até construções novas individuais foram os grandes propulsores de consumo de cimento na pandemia, em 2020 e 2021.
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O setor foi ao fundo do poço de 2015 a 2018, recuperou boa parte da perda nos três anos seguintes, mas voltou a patinar nos dois últimos anos em decorrência de uma economia fraca no ano anterior e morna em 2023, com juros que só começaram a cair em agosto. Ainda amarga capacidade de produção ociosa de seus fornos de cimento de 34,1% no país. Isso corresponde a 32 milhões de toneladas de cimento que poderiam ser fabricadas numa economia com crescimento sustentável do PIB e déficit menor de moradias. Estima-se entre 7 milhões e 8 milhões de unidades habitacionais.
No ano passado, considerando 203 mil toneladas de vendas fronteiriças a países vizinhos, como Argentina e Paraguai, o total comercializado pelas cimenteiras brasileiras foi de 62 milhões de toneladas. São 10 milhões de toneladas a menos que o recorde de 2014. “Voltamos ao patamar de 2011”, diz Penna, mostrando-se frustrado com os altos e baixos da economia brasileira e o peso peso disso sobre o setor.
Um ponto de preocupação nesse cenário para o ano é a questão climática vivida no país. E isso, segundo o executivo, teve impacto no desempenho comercial em 2023. Chuvas e ciclones no Sul do país afetaram as vendas – de menos 0,2% em 2022, para 4,5% no ano passado. No Norte, a seca na região Amazônica: saiu de crescimento de 3% no ano anterior para retração de 2,1% em 2023. O desempenho foi agravado com paralisação no sistema de transporte hidroviário na região. Parte da demanda foi suprida pelo Nordeste, a única que cresceu no ano.
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O Centro-Oeste sofreu com a baixa nos preços das commodities agrícolas (soja e milho) e da carne. Reduziu o poder de investimento da região, afirma o executivo do SNIC. Ele pontua que o Sudeste, onde se vende cerca de 45% do cimento no país, teve um desempenho muito bom puxado pelo mercado imobiliário na Grande São Paulo e outras partes do estado. As vendas caíram apenas 0,4%, ante 3,2% do ano anterior.
Para destravar a economia e os negócios no país, como um todo, Penna diz que é fundamental ainda regulamentar a reforma tributária. Ele cita o caso de tributação seletiva nos combustíveis e nos minérios, com 1% sobre cada um. O setor depende muito do uso de combustíveis no escoamento rodoviário do cimento para os mercados consumidores e o calcário é a matéria-prima essencial na fabricação de cimento.
Outro ponto é a regulamentação do mercado de carbono. Esse mercado terá papel importante na questão das emissões de CO2 e o setor cimenteiro é energo-intensivo, ao lado da siderurgia, alumínio, química, indústria vidreira e celulose.
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Desde 2022, cinco grandes produtores passaram a dominar o mercado de cimento no país – Votorantim, CSN, InterCement, Brennand/Buzzi e Mizu. Respondem por cerca de 80% da produção e venda do insumo. No total, a indústria tem 93 fábricas espalhadas nas cinco regiões, com cerca de 20 cimenteiras.
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