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Duas semanas após levantar R$ 1 bilhão, QI Tech compra corretora especializada em FIDCs

Singulare tem R$ 97 bilhões administrados em quase mil fundos e vai ser integrada à DTVM da QI Tech, inaugurada neste ano

Lucas Sampaio

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A QI Tech anuncia nesta terça-feira (14) a compra da corretora Singulare, a sua terceira aquisição da história, apenas duas semanas após levantar US$ 200 milhões (cerca de R$ 1 bilhão) em uma rodada de captação liderada pela General Atlantic.

O negócio vai fazer a QI Tech mais que dobrar a sua receita anual e quase quadriplicar o número de funcionários, dos atuais 116 para mais de 400, depois das aprovações necessárias do Banco Central (BC) e do Cade (Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência). Mas as partes não veem empecilhos para a conclusão do deal.

O valor da aquisição não foi divulgado. A QI Tech, que é especializada em infraestrutura de tecnologia para o mercado financeiro, também não revela o seu valuation atual, apenas que superou os R$ 100 milhões de receita no primeiro semestre.

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Já a Singulare previa fechar o ano com R$ 300 milhões de faturamento e o próximo com R$ 360 milhões, antes do acordo. Especializada em FIDCs (Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios), a corretora tem mais de 50 anos de história e quase R$ 100 bilhões administrados em quase mil fundos. Ela diz ser uma das poucas corretoras que não ganha dinheiro com corretagem, apenas com serviços de custódia e administração, e lucrativa.

Para o CEO e cofundador da QI Tech, Pedro Mac Dowell, os negócios são complementares e a Singulare tem tudo o que a companhia busca em uma aquisição: geração de caixa, receita recorrente, referência no seu setor, cultura forte e profissionais de qualidade. O executivo diz também que, embora a captação tenha ocorrido há apenas duas semanas, as conversas entre as empresas começaram há um ano e meio e envolveu a concorrência de outros players e uma negociação dura.

Mudança nos FIDCs

Já o CEO e sócio-fundador da Singulare, Álvaro Augusto de Freitas Vidigal (mais conhecido como “Guti”), afirma que os FIDCs vão passar por uma transformação muito grande com resolução 175 da CVM (Comissão de Valores Imobiliários), que abriu esse mercado para investidores “comuns”, e a venda faz sentido porque a QI Tech está bem posicionada para surfar essa mudança.

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“Hoje os FIDCs atendem apenas a investidores qualificados e profissionais, mas os grandes bancos que têm varejo vão querer entrar neste mercado também. O business vai ficar bem mais dependente de uma tecnologia robusta, e a QI Tech já está preparada para isso”, afirma Guti, que vendeu 100% da empresa, mas continuará à frente da operação pelo menos até a aprovação dos órgãos reguladores. “Como o business de tecnologia está cada vez mais sofisticado, a proposta da QI Tech fazia sentido”.

Sócio e diretor de administração fiduciária da Singulare, Daniel Doll Lemos diz que a entrada do investidor de varejo nos FIDCs “é essencial para o crescimento de longo prazo” da indústria, mas as mudanças vão necessitar de um outro know-how. “Temos 960 fundos e só 6 mil investidores, mas um fundo de varejo com 6 mil investidores não é nada. Um fundo de varejo chega a ter 100 mil ou 200 mil investidores”. Na Singulare, afirma Guti, “mesmo com todo o volume de fundos que temos, são 140 clientes que a gente consegue chamar pelo nome e sobrenome”.

Daniel Doll Lemos, sócio e diretor de administração fiduciária da Singulare; Pedro Mac Dowell, CEO e confundador da QI Tech; e Álvaro Augusto de Freitas Vidigal, o “Guti”, CEO e sócio-fundador da Singulare (Foto: Divulgação)

QI Tech busca novas aquisições

A QI Tech pretende usar o restante da captação para continuar seu crescimento inorgânico com mais um ou dois M&As, mantendo a estratégia de comprar concorrentes locais e que tenham soluções complementares ao negócio, para então abrir capital no exterior daqui a três anos.

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Fundada em 2018, a empresa provê serviços financeiros e de tecnologia para diversas empresas, como Vivo, 99, Syngenta, Unidas e QuintoAndar. Ela nasceu como uma “infratech” que atuava na estruturação de crédito e foi a primeira Sociedade de Crédito Direto (SCD) homologada pelo BC, mas logo passou a ampliar suas atividades.

Hoje, oferece desde onboarding e validação anti-fraude na abertura de contas a até serviços de infraestrutura de uma DTVM (Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários), passando por soluções white label de banking (oferecendo todo o “chassi” de um banco digital, com conta, cartão e até empréstimos). Mas é apenas uma provedora de serviços e não oferece nem tem exposição a crédito.

Na primeira rodada de captação, em 2021, a QI Tech levantou RS$ 270 milhões (US$ 50 milhões na época) em uma Série A liderada pelo GIC (Fundo Soberano de Cingapura) e comprou duas empresas com o dinheiro: a Zaig, uma startup de prevenção a fraudes comprada que virou a sua solução KYC (Know Your Client), e a Builders Bank, que se tornou a solução white label de BaaS (Banking as a Service) da companhia.

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Para o CEO, as avenidas de crescimento via aquisições estão exatamente nessas duas frentes: “Tem muita coisa pra desenvolver em BaaS, assim como a parte de KYC, que também inclui o nosso setor anti-fraude, o nosso motor de crédito e o open banking. São duas verticais que a gente tem muito pra fazer e criar e que pode nos colocar em outro patamar”. “Podemos inclusive fazer umas novas captações de recursos, pois nos próximos 12 meses teremos outros negócios acontecendo”, destaca o CFO e também cofundador da empresa, Marcelo Bentivoglio.

Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.