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QI Tech recebe aporte bilionário da General Atlantic em meio à ‘seca’ de captações

Fintech pretende comprar empresas e soluções complementares ao seu negócio e mira IPO no exterior em 3 anos

Lucas Sampaio

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Em meio a um cenário de investimentos restritos, captações ainda tímidas e valuations bastante descontados, a QI Tech acaba de receber um aporte significativo de R$ 1 bilhão (US$ 200 milhões), capitaneado pela General Atlantic e com participação da Across Capital – que já é acionista e dobrou seu investimento na companhia.

O objetivo é acelerar o crescimento da através de M&As, comprando concorrentes locais e que tenham soluções complementares ao negócio, e abrir capital no exterior daqui a três anos, afirma o CEO e confundador da QI Tech, Pedro Mac Dowell, ao IM Business. “Devemos chegar a US$ 100 milhões de geração de caixa em 2025 ou 2026 e já vamos estar gerando um bom Ebitda, então poderemos pensar em um IPO qualificado”.

Fundada em 2018, a QI Tech provê serviços financeiros e de tecnologia para diversas empresas, como Vivo, 99, Syngenta, Unidas e QuintoAndar. Ela nasceu como uma “infratech” que atuava na estruturação de crédito e foi a primeira Sociedade de Crédito Direto (SCD) homologada pelo Banco Central, mas logo passou a ampliar suas atividades. Hoje, tem cerca de 110 funcionários e superou os R$ 100 milhões de receita no primeiro semestre.

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A companhia oferece desde onboarding e validação anti-fraude na abertura de contas a até serviços de infraestrutura de uma DTVM (Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários), passando por soluções white label de banking (oferecendo todo o “chassi” de um banco digital, com conta, cartão e até empréstimos). “Uma empresa que é nossa cliente não precisa montar a infraestrutura de um banco para ter um banco. Nós oferecemos essa solução”, afirma Mac Dowell.

Cheque bilionário

O aporte de US$ 200 milhões é o maior cheque recebido por uma fintech brasileira desde o início de 2022, quando a Creditas captou US$ 250 milhões e foi avaliada em US$ 4,8 bilhões no fim de janeiro e o banco Neon recebeu US$ 300 milhões em meados de fevereiro. “Nós já geramos caixa e temos lucro desde o início, o que é pouco comum entre as fintechs”, afirma o CFO e também cofundador da empresa, Marcelo Bentivoglio, ao destacar o valor levantado.

Os executivos, que fundaram a QI Tech junto com Marcelo Buosi (o atual COO), não revelam a participação cedida com o levantamento de capital nem o valuation atual da companhia. Dizem apenas que sempre tiveram abertos a conversas com potenciais investidores, mas os valores eram muito baixos desde que o mercado “secou”, em 2022. Segundo Bentivoglio, as precificações atuais não retomaram aos patamares de 2021, quando houve uma explosão de captações, mas melhorou bastante em relação ao “fundo do poço”.

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Os fundadores da QI Tech Marcelo Bentivoglio (CFO), Pedro Mac Dowell (CEO) e Marcelo Buosi (COO) Foto: Divulgação

Segundo dados do Crunchbase, os investimentos de capital de risco (venture capital) cresceram “um pouco” no terceiro trimestre deste ano na América Latina, para US$ 699 milhões (alta de 8% ante o segundo trimestre e de 46% ante o terceiro trimestre de 2022), mas ainda estão a anos-luz dos US$ 8,2 bilhões captados no segundo trimestre de 2021.

Os maiores aportes no último trimestre foram de US$ 100 milhões na Loft, que sofreu um corte violento em sua valuation para conseguir levantar capital; de US$ 61 milhões na Nomad, fintech que oferece contas nos Estados Unidos para brasileiros; de US$ 50 milhões na Mottu, startup de aluguel de motos focada em entregadores de delivery; e de US$ 30 milhões na Gringo, um aplicativo para motoristas gerenciarem sua habilitação e a documentação do veículo.

O CEO e o CFO dizem também não ter pressa para aplicar o dinheiro captado. Eles concordam que o dinheiro vem em um bom momento, em que o crédito está escasso e muitas empresas precisam de fôlego, mas destacam que o foco está em outros players que também já geram caixa. “Pode até ter uma companhia que gera um pouco menos caixa, mas que dentro da nossa estrutura vai potencializar sua geração”, afirma Bentivoglio.

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O exemplo vem de casa

Mac Dowell dá como exemplo a Zaig, uma startup de prevenção a fraudes comprada em dezembro de 2021 que virou a solução de KYC (Know Your Client) da QI Tech. “Ela gerava R$ 3 milhões de caixa e, em dois anos, vai gerar entre R$ 20 milhões e R$ 25 milhões. Só nos cross-sell de produtos, sem aportes”, afirma o CEO ao citar a venda cruzada para clientes da companhia. “Nós temos uma vantagem competitiva em aquisições que é fazer o faturamento de uma empresa adquirida sair de R$ 4 ou R$ 5 milhões para R$ 30 milhões na nossa plataforma”.

A compra da Zaig foi feita com os R$ 270 milhões captados dois meses antes (US$ 50 milhões na época), quando o GIC (Fundo Soberano de Cingapura) liderou a rodada Série A de investimento. Com o aporte, a QI Tech comprou também, em fevereiro deste ano, a Builders Bank, que se tornou a solução white label de BaaS (Banking as a Service) da companhia.

Mac Dowell e Bentivoglio dizem que as aquisições também funcionam como uma forma de captar mão de obra qualificada. Quando comprou a Zaig, que tinha 12 funcionários, a QI Tech tinha apenas 35, e junto com a Builders Bank vieram dois engenheiros seniores. “Ao comprar uma empresa estamos adquirindo também talentos. Por isso buscamos empresas com boa tecnologia e pessoas qualificadas”, afirma Mac Dowell. Bentivoglio complementa: “O que a gente busca é sinergia. Nós buscamos 2 com 2 para dar 10, não 4”.

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A empresa tem também um modelo de partnership que pode ser oferecido aos donos das empresas que serão compradas. Atualmente, 21 funcionários da companhia são sócios (quase um quinto do total).

Avenidas de crescimento

Dois caminhos de crescimento brilham aos olhos dos fundadores, e ambos estão relacionados à recém-inaugurada DTVM: o mercado de câmbio e o de agentes autônomos de investimento (AAIs). A QI Tech ainda não oferece soluções de câmbio a seus clientes, e Bentivoglio vê no mercado uma chance para criar produtos mais elaborados (e ainda inexistentes), como um “crediário internacional”. “Seria como um Buy Now Pay Later (BNPL) cross-border, em que a pessoa parcela uma compra no exterior, mas paga em reais”.

Já Mac Dowell sonha em expandir a parte de serviços financeiros para investimentos. A principal ideia é criar uma solução white label para escritórios e agentes autônomos, em que eles seriam clientes da QI Tech e deixariam de depender de um banco ou plataforma para oferecer produtos. “Nós oferecemos a plataforma, e o escritório ou o agente autônomo vai poder montar a sua própria plataforma, do jeito que quiser, com os fundos e os produtos que quiser”.

IM Business

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Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.