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Desktop estuda venda de sua rede de fibra e calcula prós e contras

Avaliada em mais de R$ 2 bilhões, CEO entende que rede própria é ideal para manutenção de qualidade dos serviços da companhia e expansão no B2B

Mitchel Diniz

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A Desktop, maior provedor de internet regional de São Paulo, abriu processo formal para avaliar a venda de sua parte de infraestrutura. Mas, antes mesmo de concluir qual seria o retorno para seus acionistas desse negócio, o CEO Denio Alves Lindo, alerta para os riscos na operação. “Do ponto de vista da companhia, uma empresa de telecomunicações, que quer operar no longo prazo de maneira eficiente, robusta, com qualidade, eu tendo a achar que a segregação da rede é menos vantajosa”, afirmou Lindo, que também é fundador da Desktop, ao IM Business.

O executivo afirma que a estrutura de fibra óptica da companhia, hoje com 57 mil quilômetros de extensão, “tem atraído o interesse de players que gostariam de ter uma rede no Estado de São Paulo” e, diante disso, a empresa avalia os benefícios de uma segregação. Entretanto, ele reconhece que operar uma rede própria facilita a gestão “ponta a ponta” do negócio, o que é um diferencial para a entrega de um produto de qualidade.

“A partir do momento em que você abre mão de uma boa parte da infraestrutura e passa para um terceiro, você tem que acreditar muito fortemente que aquele terceiro vai ser tão diligente quanto você na prestação do serviço”, diz o CEO. “Eu, pessoalmente, aqui, a pessoa do Denio, acho que é mais difícil você prestar um serviço com a mesma qualidade nesse modelo”.

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O foco em qualidade na prestação de serviços também é uma estratégia de fidelização, para que a companhia seja capaz de cobrar valores mais altos, quando necessário, com cancelamento reduzido. No mês passado, a Desktop chegou a 1 milhão de clientes conectados e pretende dobrar o número nos próximos anos. A empresa se vê como maior consolidadora da banda larga no Estado de São Paulo, com presença em 180 cidades do interior e do litoral.

Denio Alves Lindo, CEO e fundador da Desktop (Divulgação)

O executivo acredita que o uso da rede neutra só faz sentido em regiões mais disputadas por outras operadoras e que demandam investimentos mais volumosos para a construção de uma rede própria, como é o caso de São Paulo. “Pode fazer pouquíssimo sentido para a Desktop investir em rede na capital [paulista], seria muito difícil construir, aprovar e operar para ter uma penetração que talvez não fosse a ideal para o retorno que esse investimento operaria”.

Impacto na expansão B2B

O BTG Pactual avaliou a rede de fibra óptica da Desktop em R$ 2,6 bilhões e acredita que a venda do ativo pode ser caminho para destravar valor para a companhia. O entendimento dos analistas do banco é que os recursos poderiam ser utilizados na consolidação de mercado das ISP, as provedoras de serviços de internet, e para pagamento de proventos extraordinários aos acionistas.

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Mas a segregação da rede também bateria de frente com os planos de expansão da Desktop em prestação de serviços para empresas. “Eu acho bem complicado você oferecer um serviço B2B de qualidade usando uma rede de terceiros. […] O modelo de rede neutra que está se praticando no Brasil é bem focado em B2C [consumidor]”, diz Lindo.

Segundo ele, a Desktop já tem clientes no segmento corporativo e, eventualmente, contrata parceiros para prestar serviços de conectividade. “Você deixa uma parcela muito grande da sua receita na mão do fornecedor da infraestrutura nesse caso”, afirma.

“O B2B é um mercado que requer uma qualidade muito mais rigorosa. Então acho que fica mais arriscado ainda você trabalhar com duas companhias fazendo a prestação de um único serviço. Eu me sentiria bem desconfortável de ter esse tipo de operação sendo cliente, e entendo que a maior parte das grandes e operadoras vai pensar dessa forma”.

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Hoje, a representatividade do B2B nas receitas da Desktop é praticamente nula. Mas, analistas acreditam que o segmento pode vir a ter participação de dois dígitos no faturamento da companhia. Internamente, a Desktop já deu início à estruturação da área, contratou um diretor “com muita experiência no segmento” para cuidar da divisão e trabalha na definição de produtos novos. A operadora pretende atuar junto a empresas de diferentes portes e vê “oportunidades de grandes contratos”.

“A gente é  uma das poucas operadoras, se não a única, que tem capacidade de atender a demanda de certas empresas [pelo interior de São Paulo]”, diz o CEO. Segundo ele, é possível gerar uma receita adicional bastante significativa com o B2B, sem um aumento significativo de capex. Contudo, a Desktop não descarta fazer aquisições para acelerar o processo de desenvolvimento do negócio. “Alguma empresa que já tenha a estrutura comercial, os produtos mais bem definidos e que venha ser incorporada para trazer escala”.

Aquisições à vista

Nos últimos cinco anos, a Desktop fez um total de 10 aquisições e, de acordo com o CEO, a companhia está preparada para ir às compras novamente. “Espero que, em 2024, a gente consiga já trazer alguma novidade”, afirma. “A gente cresceu forte em São Paulo ou por construção de novas redes, ou por aquisições, mas sempre em áreas conurbadas [de integração entre cidades]. Essa estratégia a gente quer continuar exercendo”.

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Lindo observa que a Desktop “faz divisa” com ISPs concorrentes em regiões relevantes, fora de São Paulo, que não fugiriam dessa estratégia. “Uma eventual fusão com uma empresa que atue em Minas Gerais, Paraná ou Santa Catarina, faria sentido porque também estamos praticamente interconectados.”

Em termos de crescimento orgânico, o foco é desacelerar em construção de rede, para trazer rentabilidade ao investimento que já foi feito, e mirar o capex em expansão de clientes. “A gente ainda tem muito espaço para ocupar as portas existentes. É nisso que trabalhamos em 2023 e vamos continuar trabalhando daqui para frente”, conclui o CEO.

IM Business

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados